“Olá, está no ar o Set Ufam, programa de cinema produzido pelos alunos de Comunicação Social da Ufam”.

Esta frase abriu a primeira edição do Set Ufam há 10 anos na TV Ufam. Sob o comando de Flávia Rezende e Thiago Guedes, o embrião do Cine Set ia ao ar no dia 29 de dezembro de 2007. A principal atração era a cobertura do Amazonas Film Festival daquele ano tendo entrevista com gente como Bruna Lombardi e Matheus Nachtergaele.

O projeto durou 3,5 anos e teve 47 edições. Mais de 40 alunos dos cursos de jornalismo e relações públicas da Ufam passaram pelo Set Ufam. Tudo feito na era em que as câmeras somente funcionavam com fitas mini-DV, os programas de edição começavam a ficar mais acessíveis e a verba era minguada, suficiente para pagar um lanche.

Sim, o Set Ufam era para lá de amador, feito por um bando de iniciantes que não sabiam nem para onde ir, mas, que se metiam a fazer e faziam.

O legado mais bacana desta história é ver a quantidade de profissionais que deram seus primeiros passos ali e hoje se destacam no jornalismo, audiovisual, negócios e até na música: Thiago Guedes (Rede Amazônica), Flávia Rezende (Rede Amazônica), João Arthur (TV A Crítica), Camila Baranda (ex-TV A Crítica e apresentadora da cobertura Londres-2012 na emissora local), Rafael Ramos (Artrupe), Diego Bauer (Artrupe), César Nogueira (Artrupe), Juliana Teles (Impact Hub), Mariana Lima (Estadão), Girlene Medeiros (Dez Minutos), Sarah Lyra (Cinema com Rapadura), Thamires Clair (TV A Crítica), Erlan Bindá (Mapingua Nerd), Susy Freitas (Abraccine), Mônica Dias (Garota Esfomeada), Daniel Freire (Luneta Mágica) e todos os outros que espero não me odiarem por não colocar aqui.

Vamos agora para os micos do Set Ufam:


1 – Entrevista na saída do banheiro com Bruna Lombardi

Antes de ir para o ar, o Set Ufam precisava fazer um piloto do que pretendia ser. Servia uma matéria. Claro que não tinha lugar melhor do que o Amazonas Film Festival para conseguir boas entrevistas.

Lá fomos nós: uma câmera safada na mão, sem iluminação e microfone de karaokê comprado na Noha. A autoestima de que éramos os melhores, porém, não faltava. Miramos um alvo para a entrevista: Bruna Lombardi lançando o filme “O Signo da Cidade”. A equipe formada por mim, Thiago Guedes e Renildo Rodrigues tinha até uma tática: ela levantou da cadeira no Teatro Amazonas, a gente vai junto onde for.

Bruna levantou e corremos atrás. A atriz tinha ido para o banheiro e montamos campana em frente ao local no Teatro Amazonas. Pedimos até para uma amiga (não lembro agora quem foi, sorry) que checasse se ela estava mesmo lá. Nem Amaury Jr. seria tão eficiente.

Thiago nem espera muito a saída da Bruna do banheiro para pedir a entrevista. Renildo faz a pergunta, Thiago filma e eu fico de produtor. No final, agradecemos e saímos todos felizes.

Por um descuido, porém, a gravação registra toda a nossa preparação, planos de perguntas para a atriz. Na hora que a câmera aponta para Bruna e alguém ‘vamos lá’, o registro para e só volta quando alguém fala ‘obrigado Bruna’.

Situação semelhante aconteceu com a Malu Mader para desespero da Camila Baranda. Culpa minha e da câmera com bateria viciada. Sorte que o César Nogueira salvou com um segundo ângulo.


2 – Juliana e o tijolo

Televisão é um negócio mentiroso. Tudo é feito para transparecer um mundo perfeito e certinho para que o espectador não aperte o controle remoto e vá para outro canal. Quando algo está fora do normal, há sempre um truque na manga.

O Set Ufam tinha os seus e a Juliana Teles que o diga. A co-criadora do Impact Hub Manaus apresentou o programa ao lado da Camila Baranda e Tainá Lima durante dois anos.

Para quem não conhece, a Juliana é baixinha e isso fazia com que ela tivesse que usar nas gravações alguns artifícios para ficar em uma altura aproximada das colegas de apresentação. Com a Camila Baranda, um salto alto resolvia, porém, com a Tainá, o jeito era um tijolo mesmo no qual ela se apoiava.

Pior de tudo: ela ainda fica um pouco mais baixa que a Tainá.


3 – 24 Horas para fechar um programa

A família do Rafael Ramos (diretor dos curtas “Aquela Estrada” e “A Segunda Balada”) precisou ter MUITA paciência nos primeiros programas do Set Ufam. O local era onde o programa era editado e, por ter muitos quadros e matérias, uma parte da equipe precisava ficar lá para fechar cada edição.

O segundo programa, de longe, teve o processo mais caótico. Tudo atrasou e foi preciso que eu junto com Renildo ficássemos 24 horas direto editando o programa. Foi o dia em que o Set Ufam mais esteve perto de acabar.

 No dia da exibição na TV Ufam, percebemos um erro terrível com o programa já no ar: a renderização (processo para transformar a montagem do programa em um arquivo) deu erro e o programa estava imprestável. Uma lição aprendida para toda a vida.

césar nogueira entrevista fotografia amazonas4 – Oi?

A primeira gravação do Set Ufam aconteceu no Cinemark em uma matéria sobre a situação do cinema brasileiro. Estávamos eu, César Nogueira, Ana Paula Medeiros, Rafael Ramos e Renildo Rodrigues (acho).

Com seu jeitão de homem rústico do Norte, César ficou encarregado de fazer a pergunta da matéria. Só que ele se enrolava na hora de fazê-la para os entrevistados e sai algo parecido com isso:

– O cinema nacional melhorou? Se melhorou, onde foi que ele melhorou? Se ele não melhorou, onde ele não melhorou e onde ele pode melhorar?

A cara de ‘oi?’, ‘como é a pergunta, moço?’, ‘repete, por favor’ eram constantes. A melhor/pior situação aconteceu quando chamamos um grupo de pessoas para falar e, à medida que a primeira falava, as outras saíam do quadro. No final, sobra o César com cara de que não sabe o que está acontecendo e a pessoa solitária na imagem.

James Cameron elogia novo O Exterminador do Futuro5 – James Cameron: ‘WHAT?!’

A cobertura do Fórum Mundial de Sustentabilidade foi impagável. O evento megalomaníaco organizado pelo LIDE (Grupo de Líderes Empresariais) trouxe para Manaus nomes como Arnold Schawarzenneger e James Cameron. Isso fazia com que a presença do Set Ufam se fizesse obrigatória. Afinal de contas, vai que o diretor do então recém-lançado “Avatar” falasse conosco?

Eu, Juliana e Mariana Lima seguimos para o Hotel Tropical e entrevistamos muita gente: Ana Paula Padrão, Aloizio Mercadante, Daniela Mercury, Felipe Andreoli. A pergunta? Saber qual era o filme mais marcante da vida deles. Tem que se virar, né?

O ápice, claro, veio com a coletiva de James Cameron. Melhor a matéria para explicar como foi essa loucura:


6 – Micos por Manaus

O quadro mais bizarro e, consequentemente, mais popular do Set Ufam foi o ‘Histórias do Cinema’. A ideia era simples: reproduzir à la ‘Hermes & Renato’ uma situação inusitada ocorrida em uma sala de cinema. Os atores? A equipe do programa mesmo – Renildo e Diego eram as principais estrelas, mas, Rafael Ramos e Susy Freitas também tiveram seu dia de estrelas.

Depois, resolvemos fazer a recriação de cenas famosas. Aí, as coisas ficaram megalomaníacas: para fazer uma versão baré de ‘Closer’, Mariana Lima precisou deitar no chão da região do Bate-Palma no Centro de Manaus para viver a Natalie Portman atropelada.

No mais épico de todos, a versão setufaniana de “Piratas do Caribe” passou por diversos pontos de Manaus saindo do Centro até a Djalma Batista. Como a equipe era relativamente grande, não cabia todo mundo no meu carro. Vestido de Jack Sparrow, Diego topou ir no porta-malas, o que provoca uma cara de ‘que porra é essa’ das pessoas que o viam. Tudo isso com direito a uma espada de brinquedos.


7 – Erro do Oscar antecipado em sete anos

Esse negócio de fazer super coberturas do Oscar surgiu lá por 2010 quando reunimos, pela primeira vez, toda a equipe do Set Ufam na minha casa. Foram cerca de 20 pessoas falando desde o tapete vermelho até comentários dos vencedores.

Perto da 1h já de segunda-feira, chegou a hora de saber quem seria o vencedor de Melhor Filme. Alguém solta logo após o anúncio: ‘GANHOU O AVATAR’. Daí, a Juliana começa a anunciar que o filme do James Cameron tinha vencido e pede para o Gabriel Machado comentar. E o Gabriel não se faz de rogado e faz a análise dele. O outro comentarista, Daniel Freire, saca que houve um equívoco e fala da vitória de “Guerra ao Terror”, enquanto eu que filmava não entendia nada.

Quem salvou tudo foi o Thiago Guedes (acho) que parou os comentários e avisou sobre o verdadeiro vencedor: “Guerra ao Terror”. Se a Academia de Hollywood tivesse visto isso antes, o micão deste ano envolvendo “Moonlight” e “La La Land” teria sido evitado.

Mais sobre o Set Ufam, você pode conferir aqui.