Totalitarismo, em definição de dicionário, é um método de governo que proíbe oposição, inclusive de maneira individualizada, exercendo controle sobre a vida pública e privada. Essa ameaça normalmente vem acompanhada de discursos que são o completo oposto do que tais governos representam. Alegam lutar pela verdade, liberdade, soberania nacional, valores éticos e morais.

Não lidam bem com o contraditório, com o que os confronta, os fazem demonstrar insegurança. Dependendo do autoritarismo do comandante e do aparelhamento e apoio que tiver das forças armadas, polícia e elite burguesa (afinal ricos não passam grandes perrengues em governos totalitários, pelo contrário), a sociedade pode passar por momentos de extrema violência, perseguições, e muitas mortes. Parte delas realizadas pelo Estado, como metodologia de governo.

Lembrar pra não esquecer é uma das frases que mais ouvi nessas eleições. Parece óbvio, e é, na verdade. É exatamente esse o momento em que estamos, tendo que lembrar que liberdades individuais, direitos básicos e elementares de minorias, conquistados a duras penas, são conquistas que não tiram direito de ninguém, que faz parte da democracia acolher o diferente, principalmente o mais fragilizado. Mas isso deixou de ser ponto pacífico. O óbvio deixou de ser retórico, voltou a ser questão de opinião, voltou a ser negociável.

Abaixo segue uma lista de filmes que tem em seu enredo sociedades com governos que perseguiam e matavam seus opositores, cerceavam direitos básicos, oprimiam os mais  pobres, e implementavam um modelo de sociedade branca, unitária, que não permite diversidade.

Assistir a tais filmes pelos próximos dias, meses, é um exercício duro, são filmes pesados, mas muito úteis para compreendermos o que está em jogo nessas eleições, e do quanto ainda se subestima o poder devastador que governos antidemocráticos podem levar a milhões de pessoas, principalmente em países de terceiro mundo.

Metropolis (1927) – Direção: Fritz Lang

O ano é 2026, a população mundial se divide em duas classes: a elite dominante e a classe operária, esta condenada desde a infância a habitar os subsolos, escravos das monstruosas máquinas que controlam a metrópolis. A revolução toma forma através de Maria, que se torna a voz de protesto dos operários. O problema é que o líder Jon Fredersen toma conhecimento dos planos de sua rival e, com a ajuda de Rotwang, o clássico cientista maluco, cria um robô que toma a forma e o lugar da protagonista, incitando os revolucionários com ódio e fazendo a luta se perder. Dos maiores clássicos do cinema mundial.

O Grande Ditador (1940) – Direção: Charles Chaplin

Chaplin faz dois personagens: Adenoyd Hynkel, um ditador alemão muito parecido com Hitler; e um barbeiro judeu quase sósia do ditador. A coincidência faz os dois serem confundidos. O filme é principalmente uma paródia sobre Hitler e o nazismo, mas ataca também Mussolini e o fascismo. Com inteligência, Chaplin reveza o humor com tristes imagens de um gueto aterrorizado por tropas inimigas. O discurso de cunho humanista que encerra o filme, no qual o barbeiro, tomado por Hynkel, convoca todos a respeitarem os direitos humanos, a valorizarem o próximo, é uma das cenas mais emblemáticas do cinema, uma verdadeira instância de resistência contra qualquer regime totalitário.

O Conformista (1970) – Direção: Bernardo Bertolucci

Em 1938, em Roma, Marcello acaba de aceitar um trabalho para Mussollini e flerta com uma bela jovem, o que faz com que ele fique cada vez mais conformista. Marcello resolve viajar a Paris em sua lua de mel e aproveita para cumprir uma missão designada por seus chefes: vigiar um professor que fugiu da Itália assim que os fascistas assumiram o poder no país.

Estado de Sítio (1971) – Direção: Costa-Gavras

No Uruguai, começo dos anos 70, o grupo de guerrilhas esquerdista Tupamaro sequestra um funcionário americano em serviço no país. A partir de seu interrogatório, somos apresentados à luta dos países sul-americanos contra a ditadura e o intervencionismo dos EUA. Ao mesmo tempo, a posição do presidente e das guerrilhas se torna cada vez mais delicada, numa Montevidéu sitiada.

Laranja Mecânica (1971) – Direção: Stanley Kubrick

Em uma desolada Inglaterra do futuro, a violência das gangues juvenis impera, provocando um clima de terror. Alex (Michael McDowell) lidera uma das gangues e, após praticar vários crimes, é preso e submetido à reeducação pelo Estado, com base em uma técnica de reflexos condicionados. Quando ele volta à sua vida em liberdade, é perseguido por aqueles que foram suas vítimas, Mr. Alexander e sua esposa. Alex, até hoje um dos maiores personagens do cinema, é um agente do próprio caos, cujo comportamento irascível é apenas o sintoma mais evidente de um distúrbio (social) maior.

THX 1138 (1971) – Direção: George Lucas

Uma obra psicodélica sobre um futuro asséptico onde a população é forçada a viver em grandes cidades subterrâneas controladas por computadores. Coisas como o livre arbítrio, religião, desejos e sexo são proibidos. Todos são controlados por drogas que reprimem seus pensamentos e os deixam “dóceis” para fazerem suas funções na sociedade de maneira que não interfira no “equilíbrio” das coisas. Até que o humano THX-1138 com sua parceira desafiam o sistema não apenas para defender seu romance (que é proibido), mas para tentar escapar da cidade subterrânea e viver livres no “mundo de cima”.

O Tambor (1979) – Direção: Volker Schlondorff

Oskar Matzerath nasceu em Dantzig (Polônia) em 1924. Era um bebê particularmente vivo, com um espírito extraordinariamente alerta. Já desde a vida intra-uterina tinha uma visão particular do mundo, de seus pais… Aos três anos, ganhou de presente seu primeiro tambor vermelho e branco, ao qual se mantém fiel para o resto de sua vida. No entanto, nessa idade, à partir do seu imaginário e do que vê do mundo dos adultos e de uma Alemanha que massacra os judeus, divide os poloneses, dos fracassos da guerra e de outras situações do mundo adulto, paralelamente e por princípio, ele decide e se recusa terminantemente a crescer…

Desaparecido – Um Grande Mistério (1982) – Direção: Costa-Gavras

Um jovem escritor idealista desaparece no Chile dias após o golpe de Estado que depôs o presidente Salvador Allende, em 1973. Para tentar encontrá-lo, seu pai americano vai até o país, que então vivia sob regime ditatorial, junto com a esposa viúva do rapaz desaparecido. Mas para encontrar o escritor, eles vão ter que lidar com polícia, prisão, cenas de violência e toda a má vontade da máquina pública.

1984 (1984) – Direção: Michael Radford

Após a Guerra Atômica, o mundo está dividido em três estados. Londres é a capital de Oceania, dominada por um regime extremamente controlador da liberdade. Há em todo lugar telas de TV, que servem como os olhos do governo, o Big Brother, para saber o que os cidadãos fazem. No intuito de controlá-los são exibidas constantemente imagens através destas mesmas telas, relatando as batalhas enfrentadas pela Oceania em outros continentes. Neste contexto, Windsor Smith (John Hurt) é um funcionário do Ministério da Verdade, o controlador das notícias e acontecimentos, que modifica o passado para legitimar o totalitarismo do presente. Aos poucos, a falta de amor pela vida que vive começa a dar lugar à simpatia por uma possível rebelião, ou pior: apaixonar-se. A partir daí, ele tentará a todo custo tentar escapar dos olhos e ouvidos do “Big Brother”.

Brazil – O Filme (1985) – Direção: Terry Gilliam

Em um futuro caótico e perturbador, uma cidade inteira é monitorada através de computadores e leis burocráticas ao extremo. Neste Estado, que lida com o terrorismo, todos são governados por fichas e cartões de crédito e ainda precisam pagar por tudo, até mesmo a permanência na prisão. É nesse infeliz mundo que Sam Lowry se apaixona por Jill, uma terrorista local. “Versão” de Terry Gilliam para 1984.

Salvador: O Martírio de Um Povo (1986) – Direção: Oliver Stone

Richard Boyle (James Woods), um jornalista desacreditado profissionalmente e com sérios problemas financeiros, viaja como correspondente estrangeiro para El Salvador em companhia de um amigo (James Belushi). Lá ambos descobrem um país em plena guerra civil, onde os direitos humanos não são respeitados e crianças, mulheres e clérigos são assassinados sem a menor cerimônia com total impunidade.

A Lista de Schindler (1993) – Direção: Steven Spielberg

A história real ronda em torno do alemão Oskar Schindler (Liam Neeson), que viu na mão-de-obra judia uma solução barata e viável para lucrar com negócios durante a guerra. Sujeito oportunista, sedutor, comerciante no mercado negro, mas que se relacionava muito bem com o regime nazista, tanto que era membro do próprio Partido Nazista. O que poderia parecer uma atitude de um homem não muito bondoso transformou-se em um dos maiores casos de resistência ao Holocausto, quando este alemão abdicou de toda sua fortuna para salvar a vida de mais de mil judeus, em plena luta contra o extermínio alemão.

O Pianista (2002) – Direção: Roman Polanski

Um pianista judeu polonês vê Varsóvia mudar gradualmente à medida que a Segunda Guerra Mundial começa. Wladyslaw Szpilman é forçado a ir para o Gueto de Varsóvia, mas depois é separado de sua família durante a Operação Reinhard. A partir deste momento até que os prisioneiros dos campos de concentração sejam liberados, Szpilman se esconde em vários locais entre as ruínas de Varsóvia.

A Queda! As Últimas Horas de Hitler (2004) – Direção: Oliver Hirschbiegel

Apresenta os últimos dias da vida de Adolf Hitler, ditador nazista que foi um dos responsáveis pela morte de seis milhões de judeus em campos de concentração e suas decisões nos seus últimos momentos até o seu suposto suicídio. O maior mérito, no entanto, além da interpretação assombrosa de Bruno Ganz como Adolf Hitler, foi o fato desta ser uma produção alemã: ou seja, o país e seus realizadores estavam falando de um problema mundial, mas que começou em sua própria casa.

V de Vingança (2005) – Direção: James McTeigue

Em uma Inglaterra do futuro, onde está em vigor um regime totalitário, vive Evey Hammond (Natalie Portman). Ela é salva de uma situação de vida ou morte por um homem mascarado, conhecido apenas pelo codinome V (Hugo Weaving), que é extremamente carismático e habilidoso na arte do combate e da destruição. Ao convocar seus compatriotas a se rebelar contra a tirania e a opressão do governo inglês, V provoca uma verdadeira revolução. Enquanto Evey tenta saber mais sobre o passado de V, ela termina por descobrir quem é e seu papel no plano de seu salvador para trazer liberdade e justiça ao país. 

O Último Rei da Escócia (2006) – Direção: Kevin Macdonald

Em uma incrível combinação de destinos, o médico escocês Nicholas Garrigan, que participa de uma missão, envolve-se irreversivelmente com uma das figuras mais bárbaras do mundo, Idi Amin. Impressionado com uma brava atitude do médico num momento de crise, o mais novo presidente de Uganda escolhe o doutor como seu médico pessoal e confidente.

A Onda (2008) – Direção: Dennis Gansel

Rainer Wegner, professor de ensino médio, deve ensinar seus alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de A Onda. Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e A Onda já saiu de seu controle. A partir de uma perspectiva pessimista, A Onda funciona tanto como obra cinematográfica inteligente quanto como crítica social ao revisitar situações e levantar questionamentos que parecem distantes da realidade social contemporânea – ainda que estejam plenamente inseridos nela. Baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em 1967.