Serial killers? Homens mascarados em busca de vítimas indefesas? Kathy Bates em “Louca Obsessão”? Filme novo do Michael Bay? Roberto Benigni ganhando o Oscar? Nada disso. O que mais deixa um cinéfilo de cabelo em pé (no mau sentido) é a sensação de vergonha alheia que se tem ao assistir uma atuação verdadeiramente ruim. Ok, aqui pode-se inserir os filmes do Michael Bay. Já que hoje é Halloween, o Cine Set resolveu encher os seus leitores de lembranças ruins e repletas de vergonha alheia. Porque sim, há um limite entre o prazer culposo de assistir a um filme ruim e a simples e pura vergonha alheia. Essa linha tênue é quebrada por aqueles títulos “tão ruins que são bons”, mas, em sua maioria, o que se tem é medo, muito medo.

Nada de Adam Sandler, Jason Statham ou Vin Diesel. Seria muito fácil, assim como colocar nosso querido Nicolas Cage ou sua prima Sofia Coppola, tão perdida em “O Poderoso Chefão”. Hayden Christensen parece querer estar morto em “Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”, mas ele já apareceu em tantas listas de piores atores que a gente resolveu dar uma folguinha pra ele. A redenção de Kristen Stewart e Robert Pattison pós-saga “Crepúsculo” amoleceu o coração desta que vos escreve, que também resolveu não dar tanto ibope para Ben Affleck e sua cafonice em “Pearl Harbor” (olha o Michael Bay aí, gente!) ou Johnny Depp e a maioria de seus trabalhos pós-Jack Sparrow.

A lista a seguir tem o creme de la creme perfeito para uma maratona do próximo feriado, de Finados. O que não seria má ideia, já que aqui jazem quase todas as carreiras abaixo, exceto por dois nomes.


Eddie Redmayne como Balem Abrasax em “O Destino de Júpiter” (2015), dirigido pelas irmãs Wachowski

O ator britânico festejava o sucesso de “A Teoria de Tudo” quando o problemático sci-fi estrelado por Mila Kunis e Channing Tatum chegou aos cinemas. No meio da temporada de premiações, que culminou com o Oscar de melhor ator a Redmayne, o público pôde ver uma, digamos, outra faceta do intérprete. O problema é que o papel que deveria mostrar versatilidade do ator foi apenas um festival de histrionismo e momentos vergonhosos, acompanhados de figurino e maquiagem que ele provavelmente prefere esquecer. Há quem defenda que Redmayne mereça lugar nessa lista também por “A Garota Dinamarquesa”, então vou apenas deixar esse título aqui para lembrar deste outro filme horroroso e problemático.

Cena(s)  para assustar

Os gritos, os gritos!


Orlando Bloom como Paris em “Tróia” (2004), de Wolfgang Petersen

Poderia colocar aqui toda a filmografia de Orly Bloom, mas resolvi escolher um dos momentos em que ele realmente acreditou que estava fazendo um trabalho sério e que o levaria a ser o novo Russell Crowe em “Gladiador” (considerando que no ano seguinte ele fez ‘Cruzadas’ com Ridley Scott…). Como dizem meus amigos, “ow, mano”. Os diálogos e a química inexistente com Diane Kruger não ajudam, mas o que mais prejudica aqui é o próprio Bloom, sem sal ou carisma suficiente para convencer como herói romântico. E quando precisa fazer uma cena dramática, então… Tirando os esforços de Eric Bana, que consegue fazer um Heitor minimamente interessante, e a presença de Peter O’Toole em um de seus últimos papéis, o que fica de “Tróia” é o constrangimento chamado “Orlando Bloom tentando atuar”.

Cena(s) para assustar

Eric Bana tenta salvar a cena, mas depois que Orlando Bloom encarna Joey Tribbiani…


Jennifer Love Hewitt como Audrey Hebpurn em “A Vida de Audrey Hepburn” (2000), de Steven Robman

As biografias feitas para tevê merecem um texto especial, porque elas são o combo perfeito (?) de roteiro cheio de furos, design de produção e figurinos dignos de apresentação de escola e, claro, atuações ruins. Poderia botar aqui Sherilynn Fenn ou Lindsay Lohan como Elizabeth Taylor ou a biopic maravilhosamente ruim da Britney Spears que o canal Lifetime (especialista nesse tipo de produção) exibiu esse ano, mas talvez a que mais mereça um lugarzinho nessa lista seja a tentativa de Jennifer Love Hewitt chegar ao Emmy com um filme sobre a vida de Audrey Hepburn. Além de não parecer em nada com a Bonequinha de Luxo, Hewitt é da mesma escola do nosso amigo Orlando Bloom. Ou seja, talento dramático zero. Se isso já ficava visível em um slasher tipo “Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado”, em uma biografia de uma atriz que fugiu da Holanda nazista e viveu dramas na vida pessoal… Bem, vocês já imaginam.

Cena(s) para assustar

O filme já começa mais clichê impossível. Audrey muito preocupada em não comer gordura e o sotaque maravilhoso de Hewitt. Assista por sua conta e risco:


Arnold Schwarzenegger como Mr. Freeze em “Batman e Robin” (1997), de Joel Schumacher

Em defesa do filme, muito dos problemas da atuação de Arnold vêm do roteiro e da direção, que tentam retratar Mr. Freeze como um herói romântico com rompantes de comédia. Nosso querido Exterminador não tem lá o talento para passar por cima dos diálogos ruins e conseguir entregar um trabalho convincente. O que se tem é uma série de cenas tão vergonhosas que não demoraram muito a serem parodiadas – e isso, como vocês vão ver no próximo colocado, é o testemunho de uma atuação ruim icônica. Mas, justiça seja feita, aqui ele não está sozinho.

Cena(s) para assustar

Uma só? Algum ser iluminado fez o favor de compilar os melhores (?) momentos de Arnold no filme. Deliciem-se e aproveitem os one-liners cheios de duplo sentido.


Elenco de “The Room” (2004), dirigido por Tommy Wiseau

Talvez você não conheça esse hino de filme, mas isso certamente vai mudar nos próximos meses, porque um dos títulos mais badalados da temporada de prêmios 2018 é justamente uma comédia sobre os bastidores desse que já é sinônimo de “filme-tão-tão-tão-tão-tão-ruim-que-é-bom”. Assim como os telefilmes cafonas que citei no parágrafo sobre Jennifer Love Hewitt, “The Room” merece um texto especial no Cine Set, de preferência na seção Cult Movies. Mas, enquanto o texto não chega e nem estreia “O Artista do Desastre”, filme dirigido por James Franco e que tem surpreendido a crítica lá fora, cito aqui o projeto de Tommy Wiseau como um exemplar perfeito do ensemble movie onde TODOS os atores estão péssimos. O destaque fica por conta de Wiseau, que dirigiu, roteirizou e estrelou a obra, e Juliette Danielle (até o nome artístico dela é maravilhoso), que se entrega de inexpressividade e falta de alma à Lisa, interesse amoroso do protagonista.

Mas a verdade é que nada do que eu escreva aqui vai fazer justiça a este clássico, então deixo uma compilação que mostra o que é atuação de verdade. Dá vontade, né, Daniel Day-Lewis?

Cena(s) para assustar:

Por que escolher uma se eu posso colocar várias?