O cinema brasileiro hoje vive cambaleando numa linha tênue entre o sucesso comercial e a qualidade. De uns anos pra cá, a primeira opção parece reservada apenas às comédias de gosto duvidoso, apoiadas em um elenco de novela e timing televisivo, de fácil aceitação entre o grande público. Já a segunda opção fica restrita a alguns festivais e poucas salas de cinema nas grandes capitais, sem apoio de uma Globo Filmes e sem a chance de concorrer de igual para igual com filmes como “De pernas pro ar”, pro exemplo.

“A Busca” surge justamente na contramão dessa tendência e dá uma chance de o espectador assistir a um filme de qualidade e com uma publicidade forte o apoiando. A trama acompanha o médico Theo (Wagner Moura), que parte em busca filho adolescente, Pedro (Brás Moreau Antunes), que fugiu de casa após uma briga. Apesar de recém-separado da mãe do menino, Branca (Mariana Lima), Theo é incumbido por ela a trazer o filho de volta.

Em poucos minutos em cena, Wagner Moura já dá a dimensão do seu personagem: um homem obcecado por ordem, que vê a vida (e o controle sobre ela) ir por água abaixo com o término de seu casamento e a dificuldade em se entender com o filho. Mais que a procura de um pai pelo filho, a busca que dá nome ao filme é uma jornada de autoconhecimento para Theo, o que o leva ao reencontro de seu próprio pai, interpretado por Lima Duarte.

Ao mesmo tempo em que o desenrolar do filme segue simples e bem delineado, apresenta metáforas emblemáticas. A mais significativa delas é o processo de desapego de Theo a sua vontade de controlar tudo, uma vez que a busca pelo filho o leva a caminhos, locais e situações inesperadas, a partir dos quais ele (re)aprende novos valores para si e para a vida em família. Visualmente, essa mudança se metaforiza na mudança de cenário, da grande e confortável casa da família para favelas, cidades interioranas e a estrada.

Apesar das falhas, que se apresentam principalmente com alguns furos no roteiro, a grande sacada de “A Busca” é conseguir ser um filme fácil de assistir sem ser medíocre. O desenrolar da trama, por exemplo, é altamente reflexivo, mas nem por isso é lento; um espectador mais familiarizado a formatos tradicionais de narrativa o acompanha sem se perder nem bocejar. A temática principal, a relação pai e filho, é desenvolvida de maneira facilmente assimilável, apesar de galgada na sutileza. Ponto para a direção de Luciano Moura, estreante em longas-metragens, mas que já dirigiu curtas, um documentário e episódios das séries televisivas “Antônia” e “Filhos do Carnaval”.

São esses pontos que fazem o espectador perdoar derrapadas de roteiro como a pergunta básica: por que Theo e Branca não contataram a polícia? Além disso, muitos podem se questionar como um adolescente de 14 anos atravessa dois estados em um cavalo (sim, ele foge a cavalo!) tão rapidamente. Sorte que Wagner Moura passa naturalidade até mesmo em situações destoantes na trama, como no momento em que ajuda no parto de uma moça em um festival de música.

Apesar das falhas, “A Busca” pode ser conferido sem medo, principalmente levando em consideração os últimos filmes nacionais que chegaram aos cinemas manauaras. Assistir ao filme também é uma chance de ver um produto de tom popular que foge das piadas prontas, do pouco apuro visual que se vê nas comédias “padrão Globo de produção” e da vulgaridade em geral. Afinal de contas, não é porque boa parte do público não é cinéfila de carteirinha que ele vai ter que ver porcaria, certo?

NOTA: 7.5

Caio Pimenta também fez uma crítica sobre “A Busca: leia aqui!