É fácil colocar um filme como “Babe” na prateleira dos títulos infantis e deixá-lo lá, sem prestar muita atenção. No entanto, a produção dirigida por Chris Noonan e roteirizada pelo mesmo George Miller que idealizou o universo de “Mad Max” é um dos petardos mais subestimados da década de 1990, apesar de ter sido indicado ao Oscar de melhor filme (o que, estranhamente, causa espanto).

A história do porquinho que queria ser cão pastor já ganha o espectador nos primeiros segundos. A narração esperta dá o tom de conto de fadas e cria um elo com o personagem principal. À medida que Babe vai conquistando os animais da fazenda, comemoramos como se isso fosse salvá-lo de virar comida no Natal.

George Orwell às avessas

Isso se deve ao roteiro encantador de Miller e Noonan. Ponto alto do filme, o roteiro transforma aqueles personagens – da ovelha resmungona ao pato sem noção – em criaturas pelas quais nos simpatizamos além da fofurice animal. Ao mesmo tempo, vemos uma leve brincadeira com as noções de inteligência e burrice animal imortalizadas em “A Revolução dos Bichos”, obra de George Orwell. Como não rir quando um cavalo (criatura burra no livro de Orwell) tira uma dúvida do porquinho (que, no livro célebre, é o animal mais inteligente da fazenda)?

A divisão em capítulos é outro recurso esperto do filme. Concebida para o público infantil, afinal, a produção ganha um tom ágil e não se perde em elipses.

Efeitos especiais

Lançado dois anos após “Jurassic Park” mudar a cara dos efeitos especiais, “Babe” ainda encanta nesse sentido. Os animais que falam são obra de quem entende do assunto: o estúdio de Jim Henson, criador dos Muppets. Vemos aqui animais falantes sem a artificialidade daqueles filmes de Sessão da Tarde. Uma sequência digna de nota ao falarmos deste aspecto é aquela em que Fernando e Babe driblam o gato da casa dos Hoggett para roubar o despertador.

“That’ll do, Pig”

Talvez não seja necessário colocar um filme como “Babe” no “Advogado de Defesa” do Cine Set. Contudo, é difícil ver essa produção reconhecida da forma que merece. Relegar a história do porquinho a apenas uma menção na filmografia de George Miller parece injusto. “Babe” excede em todos os aspectos, além dos já citados acima: trilha sonora, montagem (de dar medo em alguns momentos), atuações – James Cronwell emociona como o pai adotivo de Babe, em um desempenho sutil que explode deliciosamente a medida em que a história caminha para seu desfecho.

Há mais obra-prima que “guilty pleasure” neste simpático filme de 1995.

No Advogado de Defesa, a equipe do Cine Set sai em defesa de filmes que foram injustiçados pela crítica em geral ou pelo público. Confira outros filmes que já ganharam defesa aqui.