Amor e Tulipas, de Justin Chadwick, possui no seu visual um interessante trunfo. Contando uma história que se passa em Amsterdã, a partir de 1634, a eficiente direção de arte (que nem sempre é ajudada pela decupagem) apresenta cenários convincentes, bem iluminados pela direção de fotografia que possui uma câmera que flutua levemente pelos cômodos, criando um visual imponente que facilmente prende nossa atenção.

É curioso, entretanto, que mesmo que possua estas qualidades, que não são qualquer coisa, Amor e Tulipas seja tão desinteressante como narrativa. Até que se tem personagens além de caricaturas, e atores capazes de desenvolver bem estes conflitos, mas as reviravoltas que o roteiro pede que acreditemos são tão inverossímeis (ou, em alguns casos, mal pensadas mesmo), que fica impossível permanecer levando o filme minimamente a sério ao seu término.

A história nos apresenta a Sophia (Alicia Vikander), casada com o rico comerciante Cornelis (Christoph Waltz), que passa por um momento infeliz no casamento por, dentre outros motivos, ainda não ter engravidado, o que coloca o matrimônio em risco. Certa vez ela conhece o pintor Jan Van Loss (Dane DeHaan), e ambos iniciam um relacionamento. Só que para viverem esse romance, os dois terão que criar uma série de mentiras, que acabam envolvendo o casal Maria (Holliday Grainger) e William (Jack O’Connell). Misturado a isso está o volátil e enigmático mercado de tulipas, que vai determinar o rumo de algumas ações destes personagens.

A paixão irresistível e impossível atrapalhado pelos ritos formais do cotidiano burguês já foi vista a exaustão. Amor e Tulipas é mais um exemplar deste modelo. Só que ao contrário do que possa parecer, trata-se de um filme que busca subverter as expectativas com uma série de reviravoltas no seu terceiro ato.

É uma pena que essas viradas, por serem muitas, em vez de tornarem o trabalho mais interessante, fazem com que deixemos de levar o filme a sério. Na verdade, a partir de certo ponto no final, cada virada só torna o filme pior, pois indica muito mais falta de foco do seu roteirista que criatividade. Assim que se entende o jogo, as viradas deixam de possuir impacto, o que apenas enfraquece o efeito almejado.

Sem contar a quantidade de acontecimentos inverossímeis que o roteiro quer que acreditemos. Temos a invenção de uma gravidez que não existe e convenientemente não é descoberta; a desilusão amorosa que resulta numa ida a marinha (no fundo, uma solução pobre para dar andamento a determinado conflito); um arrependimento tardio difícil de acreditar, que ainda consegue ser superado em inverossimilhança depois de um retorno que deixa tudo pior; a perda do broto de uma tulipa de maneira… anunciada.

Fica claro que se tratou de um roteiro que permitiu uma série de convencionalismos na hora de determinar o rumo dos personagens, e que nitidamente se perdeu quando quis criar fatos novos no fim, como se isso fosse surpreender a audiência. Apenas fez com que os defeitos anteriores ficassem mais evidentes, além de praticamente destruir qualquer resquício de ligação que existia para com os personagens.

Mesmo que não estejam extraordinários, até porque nem era a proposta, o elenco cumpre um bom papel, fazendo com que o filme pareça melhor do que de fato é. Aqui e ali é possível encontrar cenas que exigem um pouco mais de capacidade dramática, e principalmente Vikander e Waltz (que, justiça seja feita, são os que possuem mais tempo de tela) têm bons momentos.

Mas que não são marcantes. Ficam mais as soluções desastradas do roteiro. Que também não ficam na memória, é bem verdade. Essa é uma característica de Amor e Tulipas, aliás. Talvez a que melhor lhe define.