Eu sei: agosto de 2013 parece ser uma época prematura pra se fazer apostas sobre o que deve “bombar” nas premiações do ano que vem – mas na verdade não é. O Festival de Cannes, que terminou em maio, já colocou na roda os primeiros competidores da temporada de premiações, as quais incluem o Globo de Ouro, o Urso de Prata, o BAFTA e diversas outras cerimônias do cinema americano e mundial – tudo culminando, é claro, no Oscar do ano que vem. Nessa matéria, você confere quais prometem ser as “bolas da vez”, a partir do que a equipe do Cine Set tem acompanhado de premiações mundiais e da imprensa especializada.

A Vida de Adele, de Abdellatif Kechiche

Começando pelos mais óbvios. O ganhador da Palma de Ouro em Cannes, Blue is the Warmest Colour, de Abdellatif Kechiche, tem sido objeto de aclamação quase unânime (epa!) nas revistas e sites de cinema, por seu retrato vibrante de uma paixão adolescente, encarnada nas protagonistas Adèle Exarchopoulos e Léa Seydoux (conhecida no Brasil pelas pontas em filmes como Meia-Noite em Paris e Bastardos Inglórios, mas que os cinéfilos de Manaus puderam conferir numa ótima atuação em Adeus, Minha Rainha, no Festival Varilux).

Com todo o hype gerado pela conquista francesa, o filme promete vir forte até nas premiações realizadas nos Estados Unidos – leia-se “Oscar de Melhor Filme Estrangeiro”.

https://www.youtube.com/watch?v=d0V_X6cUFUw

Inside Llewelyn Davis, de Joel e Ethan Coen

Também com ótimo desempenho em Cannes (levou o prêmio do Júri), a nova empreitada dos irmãos Joel e Ethan Coen (de Onde os Fracos Não Têm Vez e Bravura Indômita) retorna ao humor impiedoso de filmes como Barton Fink – Delírios de Hollywood e Queime Depois de Ler.

Apontado pelos críticos como um dos melhores filmes recentes dos irmãos (e quem assistiu aos últimos sabe que isso não é pouco), Llewelyn tem o apelo adicional de mostrar a visão tresloucada da dupla sobre os anos 60, época em que vive o personagem-título, um cantor folk azarado que, em mais de um sentido, lembra Sixto Rodriguez, o artista que foi tema do aclamado documentário Searching for Sugar Man.

https://www.youtube.com/watch?v=LFphYRyH7wc

The Monuments Men, de George Clooney

Esse fica só pro fim do ano, mas o hype é bastante alto. Baseado no romance de Robert M. Edsel, sobre uma missão dos países aliados para resgatar obras de arte na Alemanha nazista, The Monuments Men traz Matt Damon (da série Bourne), Cate Blanchett (Elizabeth) e o próprio Clooney, que parece disposto a combinar os (muitos) trunfos de Boa Noite e Boa Sorte e Tudo pelo Poder com uma ambiciosa recriação histórica da II Guerra Mundial.

Ou seja: vem coisa boa por aí.

The Wolf of Wall Street, de Martin Scorsese

O novo projeto do veterano diretor, que já o vinha acalentando há um bom tempo (tanto que sua produção foi alardeada antes da realização de A Invenção de Hugo Cabret). Marcando a quinta parceria com Leonardo DiCaprio (e a segunda com Terence Winter, roteirista da série Boardwalk Empire), o filme é baseado na biografia do corretor de ações Jordan Belfort, e investe fundo no sarcasmo para denunciar a corrupção e os esquemas sujos de Wall Street.

O elenco de apoio também traz vários bons nomes, como Jonah Hill (Superbad – É Hoje!, O Homem que Mudou o Jogo), Jean Dujardin (O Artista) e Matthew McConaughey (Killer Joe, Magic Mike).

https://www.youtube.com/watch?v=F-LcdqaDdAk

Captain Phillips, de Paul Greengrass

Após o sucesso modesto de Zona Verde, um dos diretores mais interessantes da última década volta disposto a reclamar seu lugar entre os grandes: Paul Greengrass (série Bourne, Voo United 93). Como ele, um ator respeitadíssimo, mas que nos últimos anos vinha sendo negligenciado, retorna com a mesma vontade de reafirmar sua maestria: Tom Hanks.

E o projeto dos dois é Captain Phillips, que recria o episódio recente da captura de um navio de carga americano por piratas da Somália, na África. O filme promete ser uma demonstração eloquente da inteligência e força típicas dos melhores trabalhos dos dois.

https://www.youtube.com/watch?v=JFzBUVaqINY

The Counselor, de Ridley Scott

Outro com algo a provar. Após o fiasco de Prometheus, em que revisitava a franquia Alien, Ridley Scott volta seu olhar para a violência urbana em The Counselor, história sobre um advogado (vivido por Michael Fassbender) que se envolve com o tráfico de drogas.

Com um dos elencos mais estrelados do ano (Brad Pitt, Cameron Diaz, Penélope Cruz e Javier Bardem), a expectativa é que a produção venha a reavivar o cineasta vigoroso de O Gângster e Gladiador, e não o de repetidas platitudes, como o já citado Prometheus. O roteiro é de Cormac McCarthy, autor de Onde os Fracos Não Têm Vez.

https://www.youtube.com/watch?v=lqIQSOETLWA

Nebraska, de Alexander Payne

Outra produção muito aguardada, mas numa escala mais íntima, como convém ao diretor de obras tão delicadas quanto Sideways – Entre Umas e Outras e Os Descendentes. Fiel ao universo que vem sendo construído em sua filmografia, Alexander Payne resume a ação de Nebraska a seus dois protagonistas, o veterano Bruce Dern, que volta à cidade-título em busca de um prêmio, e Will Forte, que vive seu filho, e aos encontros com as pessoas que compõem o passado destes dois homens.

Tem tudo para repetir o entusiasmo (e as premiações) dos seus últimos trabalhos.

https://www.youtube.com/watch?v=kqIR22t5AI0

August: Osage County

Outro que tem um grande elenco (Meryl Streep, Julia Roberts e Ewan McGregor, só pra começar) e parece repetir a mistura de comédia e drama que fez a surpresa e o sucesso de, digamos, Os Excêntricos Tenenbaums ou O Lado Bom da Vida, mas com um tom marcadamente mais amargo. Baseado na peça de Tracy Letts, vencedora do Pulitzer, o filme é produzido por George Clooney e dirigido por John Wells.

https://www.youtube.com/watch?v=0X-tU5VplKU

Gravidade, de Alfonso Cuarón

Voltando aos diretores de outros países, o mexicano Alfonso Cuarón (de …E Sua Mãe Também e Filhos da Esperança) volta às superproduções em língua inglesa com Gravity, uma trama sobre dois astronautas com dificuldades para retornar à Terra.

O prolífico George Clooney divide a tela com Sandra Bullock e, a contar somente com o talento do seu diretor, podemos ter a certeza de esperar um dos melhores filmes de 2013.

https://www.youtube.com/watch?v=nLtjGN2KMyA

Ninfomaníaca, de Lars von Trier

Um diretor que sempre tem algo a dizer, mas cuja produção é tão imprevisível quanto a sua personalidade, Lars von Trier já vem causando o maior frisson no mundo do cinema com Ninfomaníaca, um denso estudo de personagem, com prometidas (e muito alardeadas, aliás) cenas de sexo explícito. Renovando a parceria com Charlotte Gainsbourg (de Anticristo) e trazendo um surpreendente Shia LeBouf, o filme é um dos mais aguardados do ano.

Tomara apenas que Von Trier não estrague a sua promoção com algum comentário desastrado – não que um filme com sexo explícito seja particularmente fácil de vender, é claro.

https://www.youtube.com/watch?v=IieCWZ6QAVw

Le Passé, de Asghar Farhadi

O novo trabalho do diretor que nós, do Cine Set, elegemos como o melhor do ano passado (com folga) tem sido muito bem cotado nas avaliações de críticos que o puderam assistir em festivais. Le Passé, ambientado em Paris, traz Bérénice Bejo (de O Artista) às voltas com um divórcio, tema que é o mesmo do último trabalho do diretor iraniano, o magnífico A Separação.

Como um grande artista é capaz de achar infinitas nuances sobre o mesmo tema, o que se espera não é um repeteco, mas mais uma obra-prima.

https://www.youtube.com/watch?v=iFTK5yFV0K4

The Wind Rises, de Hayao Miyazaki

E, pra fechar, o filme que promete ser o grande rival de Universidade Monstros no Oscar de Animação. A nova produção de Hayao Miyazaki está na programação do festival de Berlim em 2013 e vem arrancando elogios entusiasmados dos críticos em todas as sessões.

Um trabalho crepuscular, que pela primeira vez abandona a atmosfera de sonho e fantasia típica de seus trabalhos mais célebres (Meu Amigo Totoro, A Viagem de Chihiro), investindo num delicado realismo, nem por isso The Wind Rises foge ao espírito poético que é a marca dos filmes do “Disney japonês”. Imperdível.

Outros fortes nomes: Saving Mr. Banks (com Tom Hanks e Emma Thompson), Diana (com Naomi Watts), Twelve Years a Slave (de Steven McQueen), Grace of Monaco (com Nicole Kidman), Blue Jasmine (de Woody Allen), Fruitvale Station (de Ryan Coogler).

* Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.