Desde Erron Flynn, passando por Zorro e Indiana Jones, chegando a Jack Sparrow, o público de cinema sempre se empolga com boas aventuras, daquelas para reunir toda a família e se divertir com seu herói favorito.

Estranhamente, porém, um dos maiores ícones do gênero na literatura e TV ficou décadas sem receber um filme digno de toda a sua grandeza. Nada que um senhor chamado Steven Spielberg não pudesse resolver um enigma digno dos mistérios solucionados por Tintim.

Em “O Segredo de Licorne”, o nosso jornalista investigativo se vê em meio a um mistério sobre um barco naufragado que esconde um grande tesouro. Porém, para encontrá-lo, Tintim (Jamie Bell) e seu inseparável aliado, o cachorro Milu, vão precisar da ajuda do marujo beberrão Capitão Haddock (Andy Serkis) para enfrentar o temível Ivanovich Sakharine (Daniel Craig).

Acertando em não mostrar quem é Tintim desde sua origem, se valendo do conhecimento por parte do público do que envolve o personagem (uma passagem elegante feita com manchetes de jornal faz essa função muito bem, logo no começo do longa), o roteiro escrito a três mãos, baseado a partir dos quadrinhos do belga Helgé, consegue desenvolver muito bem a trama sem transformá-la em um emaranhado de códigos que muitas obras do gênero fazem.

Já o desenvolvimento dos personagens se não chega a comprometer o filme, também não é bem-sucedido ao todo. Apesar de toda sua genialidade para elucidar os mais complicados enigmas estar presente, falta emoção a Tintim. Não o vemos se emocionar ou esbravejar com nada ou mesmo falar um “UFA! Foi por pouco”, transmitindo uma indiferença incômoda. Somente não nos irritamos totalmente com isso, pois temos um carinho grande pelo personagem.

Em compensação, não há como deixar de se divertir com Capitão Haddock, interpretado pelo grande Andy Serkis (o Gollum de “O Senhor dos Anéis”). Divertidíssimo, ele consegue ter as melhores tiradas do filme (os momentos sóbrios são geniais). Pena seu arqui-rival, Ivanovich Sakharine seja interpretado tão monotamente por Daniel Craig. Além disso, os coadjuvantes da história não conseguem ter muito espaço na trama, o que faz a maioria deles terem apenas espaço de alívio cômico.

Spielberg mostra em “As Aventuras de Tintim” um domínio técnico esplendoroso, capaz de deixar o espectador sem fôlego nas principais cenas de ação, não as tornando confusa como faz, por exemplo, o “mestre” Michael Bay. A tensão na sequência do avião e a maestria na condução da grande momento do filme passado em Bagghar, candidata fortíssima a cena do ano, mostram a qualidade impressionante do diretor.

Quem é mais detalhista deve reparar em outros dois pontos: na qualidade dos créditos iniciais de tão bem feitos que são, remetendo a alguns filmes de Alfred Hitchcock (há uma homenagem a “Um Corpo que Cai”), além de algumas transições de cena espetaculares (a que envolve um barco e uma poça d´água é linda).

Pena que o compositor John Williams pareça estar preguiçoso. Se em “Cavalo de Guerra” ele já havia sido burocrático, apostando em tons melosos e desnecessariamente grandiosos, em “Tintim” a trilha sonora é de uma pobreza absurda, sem alma e vida. Para quem tem na carreira “Star Wars”, “Indiana Jones”, “E.T” e “Jurassic Park”, é um resultado decepcionante.

“As Aventuras de Tintim: O Segredo de Licorne” está longe de ser um filme ideal, mas faz jus à expectativa dos fãs e à carreira de Steven Spielberg, lembrando muitas vezes o de velhos tempos de “Indiana Jones”.

Leve toda a família. Vale a pena!

NOTA: 7,5