As animações passaram por diversos momentos no cinema mundial. Tendo como base as animações norte-americanas, fazendo uma divisão bastante resumida do que foram esses momentos, podemos dizer que elas tiveram uma fase clássica, dos contos de fada, e coisas do tipo, depois passou por uma fase de descoberta de um potencial até antes não visto, com filmes fazendo referências à cultura pop, com jogos de metalinguagem, assumindo um tom mais sarcástico, quase concomitantemente a isso vimos um processo diferente, que até poderia assumir um tom de humor ácido, mas que tinha como principal característica o foco no roteiro como principal atrativo do filme, com trama e personagens pensados de maneira extremamente complexa e bem estruturada, e agora vivemos uma terrível ressaca desse momento, em que a preguiça volta a tomar conta dos estúdios, que agora só pensam em como o filme vai se sair nas bilheterias, e a anterior preocupação com o roteiro deu lugar a um espaço de criação onde se “criam” situações existentes em outros filmes, em que um arco simplista se forma e se completa na sua mediocridade e preguiça, protagonizados por personagens baseados em carisma, com rostinhos engraçados, e piadas prontas.

Impressiona como Aviões se encaixa com maestria nesse último grupo, e deixa claro que não se importa muito com isso, como se escancarasse que o que quer é ganhar dinheiro fácil mesmo, contando a história de um filme que já foi feito algumas vezes.

A trama nos apresenta a Dusty, um avião pulverizador que tem o sonho de ser um avião de corrida, mas é sempre desestimulado pelos outros por não ter grande velocidade. Depois de muito se dedicar, ele consegue uma vaga em um grande campeonato, e enfrenta aviões experientes, e busca superar suas limitações…

Desculpe-me, mas garanto que você é perfeitamente capaz de adivinhar o final do filme. Aliás, capaz de adivinhar todos os detalhes do filme depois de uns 15 minutos de projeção. Nem sei se a regra de não dar spoilers deveria valer nesse texto, pois o filme faz com que isso não faça diferença, pois entrega tudo de mão beijada, da maneira mais fácil ao espectador.

É realmente frustrante ver um roteiro tão preguiçoso e clichê como esse em uma tela de cinema. Confesso que me senti roubado por estar pagando para ver um trabalho em que o realizador tem tão pouca consideração comigo, fazendo com que visse um filme com os personagens mais óbvios e instantâneos possíveis, inseridos numa trama onde o lugar comum é rei absoluto.

A dublagem deixa tudo ainda pior. É uma pena que animações em Manaus passem apenas dubladas (nenhuma sala, em nenhum horário, em nenhum cinema tem uma versão legendada), pois o que já era ruim ganha um ar constrangedor. Traduções como “Esquadrilha da Fuzarca”, e bordões do tipo de “Comigo é ripa na chulipa!” estão presentes durante toda a projeção enfraquecendo ainda mais o que já era extremamente frágil. E como se não bastasse temos no filme uma personagem brasileira, que é o reduto das cenas mais embaraçosas do longa, num personagem que chega a assustar de tão estereotipado e raso, com falas, sotaques e frases de efeito que dão vergonha alheia.

Se não bastasse, ainda fui brindado com uma sessão muito problemática. Primeiro que o som da sala 2 do Cinemais do Millennium é de péssima qualidade, e esse problema vem de longa data. Espero que não seja necessário boicotar o cinema para que o problema seja resolvido. E segundo que era uma sessão em que o silencio não esteve presente em nenhum momento. E o que mais assusta é que quem falava mais eram os adultos, os pais que levavam os seus filhos. Uma atitude que demonstra um total menosprezo à criança e ao cinema. É o pensamento imaturo de pessoas que, imaginam estar cumprindo uma função com os filhos, de darem “cultura” a eles (sendo que fazem isso, muitas vezes, de maneira obrigada), e como se trata de uma animação, filme de criança, pode-se conversar à vontade na sala que ninguém vai reclamar, porque é coisa de criança, e criança não merece o mesmo respeito que os adultos.

Mas como o público alvo desse filme parece ser os desatentos, aqueles que sempre quase veem os filmes que são obrigados a levar os filhos, e os filhos que pouco se importam com o que é exibido, temos mais um candidato a maior bilheteria do ano.

Bom para eles.

NOTA: 4,5