Grande festa da cultura pop e geek, a Comic-Con em San Diego trouxe novidades sobre a superprodução da DC Comics e Warner Bros: “Batman Vs. Superman”. O disputado painel sobre o filme reuniu, lado a lado, Henry Cavill (intérprete do Homem de Aço), Ben Affleck (o novo Homem-Morcego) e o diretor Zack Snyder. Como não poderia deixar de ser, o evento serviu ainda para revelar o visual da Mulher-Maravilha (Gal Gadot) e o primeiro teaser com os dois heróis em cena.

Se fãs de HQ’s, nerds e amantes de filmes de ação estão mais do que animados com as novidades reveladas e já fazem contagem regressiva para o dia 6 de maio de 2016, trago cinco motivos para ficar com “pé atrás” em relação a essa reunião dos heróis no cinema:

1. Superman: longe de convencer

Pouco mais de um ano separa o lançamento nos cinemas de “Homem de Aço” da atual Comic-Con. Em tempos tão rápidos e com a sensação de urgência constante, parece ser uma distância enorme. Grandes filmes, entretanto, são capazes de permanecer vivos na mente do público por muito mais tempo vide o caso de “Os Vingadores” e “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, obras tão impactantes que são lembradas até hoje.

“Homem de Aço” está BEM longe disso. Ok, o filme não chega a ser insosso como a adaptação dirigida por Bryan Singer e estrelada pelo apagado Brandon Routh. Henry Cavill convence como Superman muito mais pela presença física do que pelo carisma e boa atuação, enquanto a história traz o básico sobre o personagem. Por outro lado, o roteiro de David S. Goyer exagera na dimensão épica do herói com as sucessivas referências a Jesus Cristo, o humor quase inexiste e as cenas de ação – em especial, a batalha final em Metrópolis – passam dos limites de duração ao ponto de se tornar insuportáveis.

A sensação é que a nova versão do Superman ainda precisa de mais um filme solo para se estabelecer na memória do público e não depender do carinho afetivo herdado ao longo do tempo seja das HQ’s ou das obras protagonizadas por Christopher Reeve. Explorar os elos emocionais com personagens fundamentais como Lois Lane e a mãe, figuras apagadas de “Homem de Aço” poderiam ser boas alternativas, além de trazer um vilão mais temível que Zod.

Pular esta etapa para um confronto contra o Batman e, em seguida, realizar o filme da “Liga da Justiça”, ao meu ver, não é a melhor escolha.

2. Batman: mudança abrupta de rumo

“Batman Begins” causou um choque no público ao ser lançado. As versões góticas de Tim Burton e a carnavalização de Joel Schumacher deram adeus ao universo do Homem-Morcego. O realismo trazido por Christopher Nolan deixava Gotham City com a cara de uma metrópole mundial semelhante a Nova York, Chicago, Londres ou São Paulo. Mesmo os vilões mais fora da realidade como Coringa e Bane trazem questões tão próximas às que vivemos – a origem da violência humana e terrorismo.

Toda a trajetória do herói na versão de Nolan traz um peso mais dramático ao personagem, permitindo a Christian Bale construir um Bruce Wayne denso, longe do playboy escondido na caverna de Michael Keaton, Val Kilmer e George Clooney. A mudança nos rumos da história agradaram tanto público e crítica ao ponto de “O Cavaleiro das Trevas” ser considerado um injustiçado na corrida pelo Oscar de 2008 ao ficar fora da categoria de Melhor Filme. Baita mudança para um herói que teve como ponto mais baixo de sua história o desastre intitulado “Batman e Robin”.

A pergunta que não quer calar: qual será o rumo do herói no filme de encontro com o Superman? O questionamento se faz necessário, pois, no universo criado por Nolan e ainda presente na cabeça de cinéfilos do mundo inteiro, um sujeito indestrutível voando com superpoderes é algo inimaginável. “Homem de Aço” até tenta trazer uma Metrópolis e personagens mais realista, porém, a parte final com a destruição quase completa da cidade joga por terra essa pretensão.

Adaptar o público a uma nova proposta de Batman logo em um filme tão importante como este pode ser uma precipitação grande da DC e Warner. Um filme solo do herói para preparar o público à realidade do personagem de Ben Affleck e aos novos intérpretes do Comissário Gordon e do Mordomo Alfred seriam ideais antes de partir para a briga contra o Superman.

3. Ben Affleck: risco de estragar a carreira (de novo)

Fiz um texto sobre a carreira de Ben Affleck pouco antes da cerimônia de premiação do Oscar de 2013. Cheguei a apostar na derrota de “Argo” como Melhor Filme (minhas previsões nem sempre são certeiras) pela forma como a carreira do astro surpreende a todos. Felizmente, errei e o marido de Jennifer Garner nos brindou com um dos discursos mais emocionantes da história da premiação.

Hollywood adora histórias de superação!

Quando você pensa que o sujeito amadureceu e terá uma longa trajetória de sucesso, eis que ele aceita interpretar Bruce Wayne nos cinemas. Ao ler a notícia, a indignação tomou conta de mim: QUE PORRA ELE ESTÁ FAZENDO? O QUE VAI GANHAR COM ISSO?  Não demorou muito para os fãs de quadrinhos perderem a paciência e xingamentos nas redes sociais multiplicaram pela escolha da Warner e DC. Para completar, a excelente jornalista Ana Maria Bahiana cometeu uma barrigada histórica ao afirmar que o ator seria dispensado do filme por diferenças artísticas com Zack Snyder.

Emoções e surpresas, definitivamente, são com Affleck!

O risco, entretanto, é grande para o ator. Quem conhece cinema e acompanha a carreira de Affleck sabe bem que o forte dele está como diretor de thrillers como “Argo” e “Atração Perigosa”. Affleck se esforça na atuação, porém, sempre derrapa por ser limitado e, muitas vezes, inexpressivo. Terrence Malick vivenciou isso ao deixá-lo ser o protagonista de “Amor Pleno”.

Se Val Kilmer foi para o limbo depois de “Batman Eternamente”, Ben Affleck tem a sorte de ser talentoso como diretor.

4. Zack Snyder: Visual 7 x 1 História

Não há diretor dentro do universo dos blockbusters de Hollywood capaz de conferir uma identidade visual tão forte aos seus filmes como Zack Snyder. Desde “300” ao trazer o universo dos graphic novels até a construção de um mundo semelhante aos games em “Sucker Punch”, o cineasta explora ao máximo os mais avançados efeitos especiais disponíveis no mercado. Isso ajuda a criar um impacto pelas imagens trazidas na tela capazes de levar a ideia de um espetáculo único ao público.

Os efeitos especiais não são a única marca do cinema de Snyder. Flashbacks curtos são presenças constantes nas tramas do diretor, assim como frases de efeito com closes grandiosos e trilha sonora onipresente. Por fim, não poderia ficar de fora o trojan horse, efeito de reduzir a velocidade da imagem durante o início de uma cena de ação para logo em seguida acelerá-la. Tudo com o objetivo de criar um impacto maior na sequência mostrada na tela.

Se a preocupação visual merece aplausos pelo desenvolvimento de técnicas inovadoras, o mesmo não se pode dizer do cuidado com os personagens dos filmes do cineasta. Snyder trabalha sempre com roteiros de divisões simplórias entre o bem e o mal com pouco espaço para um aprofundamento maior de quem está em tela. “Madrugada dos Mortos”, “300”, “A Lenda dos Guardiões” e “Sucker Punch” colocam seus protagonistas em fases de videogame com um desafio a cada momento para ser ultrapassado e um conflito bobo. Já “Watchmen” traz o diretor perdido em uma trama complexa e cheia de nuances, somente não conseguindo estragar tudo pela qualidade absurda do texto de Allan Moore e, claro, pelo visual arrebatador.

O pouco espaço para os coadjuvantes em detrimento das cenas de ação e a falta de tato para espalhar referências em “Homem de Aço” (Superman igual a Jesus Cristo a cada cinco minutos passa dos limites) mostrou como Snyder precisa evoluir na narrativa de seus filmes.

Caso iguale o nível do capricho visual, teremos o surgimento de um gigante.

5. Aquaman e Mulher-Maravilha: escolhas duvidosas

Grandes elencos fizeram parte das últimas incursões de Batman e Superman nos cinemas: Christian Bale, Heath Ledger, Tom Hardy, Marion Cottilard, Anne Hathaway, Morgan Freeman, Michael Caine, Liam Neeson, Amy Adams, Russell Crowe, Laurence Fishburne, Kevin Costner, Diane Lane, Michael Shannon.

Interessante observar como “Batman Vs. Superman” vai em uma linha um pouco diferente dos filmes anteriores. Verdade que a turma de coadjuvantes de “Homem de Aço” retorna neste filme, enquanto o Mordomo Alfred será interpretado por Jeremy Irons. Porém, o público ainda não se acostumou com Cavill como o namorado de Lois Lane e Ben Affleck traz a rejeição dos fãs para viver Batman.

As escolhas da DC e Warner para viver outros dois heróis presentes no filme causam ainda maior medo. Conhecido pelo filme “Conan, o Bárbaro” e a série “Game of Thrones”, Jason Momoa será o Aquaman. Já Gal Gadot, presente no quinto e sexto longa da série “Velozes e Furiosos”, ficou com o papel de Mulher-Maravilha.

Tanto Momoa quanto Gadot são jovens, bonitos e serão alçados a estrelas mundiais assim que a projeção de “Batman Vs. Superman” começar. Porém, apostar em atores inexperientes e sem trabalhos relevantes no currículo em papéis importantes e com tamanha responsabilidade pode se mostrar um erro.

Por fim, o visual revelado na Comic-Con para a Mulher-Maravilha a deixa idêntica à princesa guerreira Xena, clássica personagem utilizada por Silvio Santos para salvar a audiência do SBT. Não tinha uma roupa melhor, não?

========================================================================================

Apesar de tudo isso escrito acima, torço para que “Batman Vs. Superman” seja um grande filme. Sucesso de público será fácil, porém, fazer um ótimo filme é mais importante.