O Oscar é um troço maluco para os atores em Hollywood. Apesar de adorarem dizer que não se importam com prêmios, a tal estatueta dourada vira uma obsessão até o sujeito conquistar uma (Leonardo DiCaprio que o diga). Representa uma espécie de consagração artística para as grandes estrelas do cinema americano.

Angelina Jolie, entretanto, está em um cenário sui generisela conquistou uma, no longíquo ano de 2000, pelo desempenho em “Garota Interrompida”. Era uma época em que se destacava pela beleza, mas, pelo jeitão esquisito e fora do padrão hollywoodiano. 

A Jolie de 15 anos atrás nada se parece com a atual: uma instituição do cinema mundial, exemplo de mãe e esposa, defensora dos direitos humanos, da luta das mulheres e embaixadora das Nações Unidas. Um símbolo da AméricaEssa Angelina Jolie, entretanto, ainda não tem um Oscar e, para firmar-se de vez como verdadeira artista, vem buscando todas as formas para conseguir essa estatueta.

Para fugir do rótulo de atriz de longas de ação bobinhos (“O Procurado”, “Sr. e Sra. Smith”, “O Turista”, “Salt” e “Lara Croft”) resolveu passar para o outro lado dos bastidores. Teve o início da carreira de diretora no competente “Na Terra de Amor e Ódio” e decepcionou com o fraco “Invencível” (leia minha crítica aqui). o Oscar passou longe.

Angelina Jolie, então, resolveu ser mais intimista: a ideia era colocar dois dos maiores astros americanos em uma produção adulta, densa, com diálogos mais bem trabalhados, longe do ritmo desenfreado dos blockbusters de Hollywood. Um filme de arte, com pegada européia dentro do cinema dos EUA. Para tanto, “À Beira Mar” conta com muitos momentos de silêncio, protagonistas sem rumos em idas e vindas incertas com os dramas muito mais internos do que externos, Brad Pitt e Angelina Jolie falando francês, longe da zona de conforto e, eventualmente, uma cena de sexo aqui e acolá.

“À Beira Mar”, entretanto, não deixa espaços para desenvolver o drama de seus personagens. A opção por sempre fazer cenas curtas, quando a sequência pede paciência para trabalhar gestos ou reações, mata o filme. Cada corte representa o fim da possibilidade de tensão, dando uma pretensa fluidez desnecessária, justo em momentos que deveriam causar desconforto semelhante ao vivido pelo casal protagonista. É como se a ideia fosse para soar como Antonioni e a execução tivesse influência de Michael Bay. Diferente de Jolie, Richard Linklater, na bela trilogia “Antes do Amanhecer”, entendeu isso como poucos e deixava os personagens conduzirem a cena, o que permitia ápices de uma intensidade impossível de ser vista em Roland (Pitt) e Vanessa (Jolie).

Falta também confiança, por parte de Angelina Jolie, no público. Adepta do cinema datado por Hollywood, onde o espectador precisa saber de todos os detalhes e motivações de forma cristalina, a estrela opta por não deixar dúvidas ou questionamentos. Vanessa olha para um barquinho o filme inteiro? Brad Pitt vê o dono da pousada sentado sempre no mesmo lugar no bar? Fique tranquilo: haverá um diálogo para explicar isso. E se possível, com falas metidas a grandiosas: “somos o que somos há muito tempo” e “o exterior reflete o interior” são as piores. Como se não bastasse, o roteiro ainda se constrói todo em cima de um segredo, o qual, ao ser revelado, não produz metade do impacto pretendido devido à má construção do clima de tensão e por não ter tempo de trabalhá-lo, pois, logo em diante, a projeção chega ao fim.

O grande problema de “À Beira Mar”, acima de tudo, é por não tentar desconstruir seus astros. Apesar de conseguir transformar Vanessa em uma mulher enigmática por seu olhar sempre incomodado e pelas frases cortantes, Angelina Jolie passa a imagem de uma musa em cena. Em todos os momentos, ela está sempre com o cabelo, a maquiagem, os óculos e a roupa perfeitas, realçando o status de deusa. Brad Pitt está apagado, porém, mesmo com traços claros de velhice, continua esbanjando beleza ao surgir impecável em um figurino exato para ele. Aliado ao cenário paradisíaco e a todo o luxo exibido pela ótima direção de arte, a produção se torna artificial ao ponto de não envolver o espectador naquele universo e, consequentemente, não se importar com o destino daqueles personagens.

Não dá para negar que Angelina Jolie se mostra uma artista inquieta, disposta a se arriscar em projetos fora do tradicional. Porém, a estrela de Hollywood, na busca por uma estatueta do Oscar e por maior reconhecimento artístico do que já possui, acaba tropeçando feio. Tudo por ainda não possuir bagagem necessária, como diretora, para realizar projetos densos como “Invencível” e “À Beira Mar”.