Depois do Ensaio (1984)

Contando com um único cenário, as instalações de um teatro, três personagens e um texto íntimo, a equação simples Bergman desnuda as relações do cineasta com seus atores e com seu ofício como diretor. O filme composto quase exclusivamente por diálogos entre um diretor de teatro e a jovem atriz protagonista da sua peça, tem sua força no texto que percorre divagações e concepções viscerais sobre os limites e impulsos humanos e da arte com um tom de confissão.

Os Abençoados (1986)

De volta a parceira com Ulla Isaksson, com quem trabalhou no início da carreira, Bergman contempla mais uma vez um tema recorrente nas suas obras, a vertiginosa relação entre homem e mulher. Particularmente interessado na psicologia das dinâmicas amorosas, o cineasta dedicou diversos filmes na tentativa de desvendar, ou instigar, essas relações. “Os Abençoados” é o mais obscuro e pessimista deles, onde um casal de meia-idade, Viveka (Harriet Andersson) e Sune Burman (Per Myrberg), se entrega a insanidade um do outro. Feito para a televisão, coerente ao formato, o grande destaque do filme é realmente a performance dos veteranos, especialmente Harriet Andersson, que nos relembra seu papel em “Através de um Espelho”.

Na Presença de um Palhaço (1997)

Escrito a partir da constante sensação de Bergman na velhice em ser observado pela morte, “Na Presença de um Palhaço” manifesta brilhantemente o momento de fragilidade da vida do cineasta. Com uma linguagem, que segundo o diretor, segue uma construção musical, onde o ritmo dita a narrativa, a trama segue Carl Akerblom, releitura do tio Carl de “Fanny e Alexander”, um alucinado que internado em um hospital psiquiátrico promete um filme inovador. O personagem, baseado no vislumbre da própria história de Bergman na do compositor Schubert e seu trágico destino, embarca a narrativa em uma experiência curiosa sobre a morte e a arte, conduzido sem reservas pelo diretor. É, também, onde o sueco ecoa sua total preferência pelo teatro.

Os Criadores de Imagens (2000)

Completamente devoto ao clássico sueco “A Carruagem Fantasma”, dirigido pelo seu mentor Victor Sjöström, “Os Criadores de Imagens” tem como ponto de partida o encontro entre o cineasta Sjöström e a autora Selma Lagerlöf, da qual a obra o filme é baseado. Contudo, é o encontro entre Selma e uma jovem atriz o condutor da narrativa. Sem grande apelo e limitado ao formato para televisão, o foco equivocado do filme embaça a essência do roteiro em celebrar o ofício de fazer cinema e teatro tão caros a Bergman.