Cores, decoração extravagante e situações absurdas marcam “Para Não Falar de Todas Essas Mulheres”. Depois de uma sequência de filmes densos, Ingmar Bergman volta à comédia, tempos depois do seu último trabalho no gênero. Absoluto contraponto aos clássicos existencialistas do diretor, ademais da pouca relação com “Sorrisos de uma Noite de Amor” ou “Quando as Mulheres Esperam”, o longa tenta estabelecer algo bem diverso do cinema feito pelo diretor. Bergman nunca escondeu a motivação financeira por trás de todas as suas comédias, com esse trabalho não foi diferente. Intencionado em gerar lucro para Svensk Filmindustri, infelizmente o filme não foi sucesso de crítica, tampouco de audiência. Entrando para a lista de renegados pelo seu próprio realizador, abertamente insatisfeito com o resultado, Bergman afirmou sentir vergonha da obra. Exagero ou não, “Para Não Falar de Todas Essas Mulheres”, com certeza, não é o pior, nem o melhor filme do diretor.

Baseado no incidente real da vida de uma professora da então esposa do diretor, a pianista Käbi Laretei, o roteiro de Bergman em parceria com o ator Erland Josephson (“Cenas de um Casamento”), conta a chegada de Cornelius (Jarl Kulle), um crítico arrogante, à casa de veraneio do notável violoncelista Felix. Comprometido em escrever a biografia do músico, o crítico tenta colher todo o material possível. Tragicamente, as intenções de Cornelius são atrapalhadas pela dinâmica curiosa entre a esposa e as amantes do artista, e a repentina morte do músico.

Compondo uma sátira ao universo de vaidades de homens e mulheres privilegiados por seus talentos ou dinheiro, “Para Não Falar de Todas Essas Mulheres” reduz todas as características desse mundo à absurdos com o toque do humor irônico dos textos de Bergman, infelizmente, esse menos que o necessário. Desenvolvido sobre estereótipos, a excentricidade e a inconteste superficialidade dessas personalidades, a comédia tenta produzir sua força desses elementos, no entanto, o resultado não é o melhor. A direção pouco sucedida do diretor acaba criado um clima frio que poderia ser muito mais, perdido nas influências que usa na tela.

Ainda assim, é possível destacar ótimos pontos. A completa mudança estética é um destaque. Não apenas o primeiro filme em cores do sueco, o longa rompe com tudo aquilo que Bergman havia feito desde então na composição visual dos seus trabalhos. A fotografia de Sven Nykvist, direção de arte de P.A Lundgren, ambos duas constantes nas produções do cineasta, garantem a atmosfera afinada com a proposta do filme. Nesse aspecto o filme triunfa. Ambientes suntuosos, porém, estéreis, refletem a artificialidade da rotina daqueles personagens, suas questões e delírios.

Nesse sentido, possivelmente o maior destaque do filme é realmente seu elenco. Reunindo algumas das atrizes favoritas do diretor, como Eva Dalhbeck, Bibi Andersson, Harriet Andersson e até mesmo Gertrud Fridh (Um Barco para a Índia). A interação entre elas – e as outras atrizes, é o que gera algo além no espectador.

Dalhbeck, grande nome das comédias de Bergman, aqui menos destacada que suas personagens do passado, ainda assim mantém a presença forte como lhe é comum. Bibi é o melhor no estereótipo de perua com um cachorrinho a tira colo, que dois anos depois seria uma potência dramática em “Persona”. Harriet arranca sorrisos com a simpática Isolda. No outro lado, Jarl Kulle realmente brilha na pele do pretensioso crítico. Sua performance caricata de Cornelius rouba a cena. Infelizmente, quem pouco brilha é Bergman. Com uma direção aquém do seu nível, “Para Não Falar de Todas Essas Mulheres” cai permanentemente no limbo do diretor.