O mês de setembro trouxe consigo o anúncio do novo filme de Anna Muylaert, “Que Horas Ela Volta?”, como o escolhido pelo Brasil para representar o país na corrida pela indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro do ano que vem. A escolha vem na esteira da extensa aclamação crítica que o longa vem recebendo durante sua passagem pelo circuito de festivais internacionais, em particular o prêmio de atuação que as atrizes Regina Casé e Camila Márdilla levaram no Festival de Sundance e o prêmio da audiência da Panorama, mostra paralela do Festival de Berlim (nós, do Cine Set, também fazemos parte desse coro).

Para conseguir o seu lugar ao sol e arrebatar uma das disputadas cinco indicações ao prêmio da Academia, “Que Horas Ela Volta?” deverá passar pela seleção inicial e parar na lista de nove filmes estrangeiros que vão para a segunda fase, após a qual a Academia fecha os cinco indicados (em 2016, eles serão anunciados no dia 16 de janeiro).

Se o caminho parece árduo, é porque é mesmo: o filme tem que competir com todos os filmes do mundo de um particular ano não gravados em inglês. Além disso, em se tratando de produções brazucas, o candidato ainda tem que vencer a prelazia que a Europa tem junto à Academia: desde a instituição do Oscar de Melhor Filme Estrangeiros, 220 filmes europeus concorreram à estatueta, contra apenas 32 filmes das Américas (25 latinos e sete canadenses gravados em francês). Esse cenário também se reflete no número de filmes premiados, com 55 dos 67 prêmios da categoria já entregues pela Academia indo para filmes da Europa e apenas três indo para o continente americano (dois para a Argentina e um para o Canadá).

O Brasil nunca levou esse Oscar para casa, no entanto, o primor técnico, a forte carga dramática e a profunda temática social de “Que Horas Ela Volta?” podem convencer a Academia a mudar essa situação. Para tanto, ele precisa fazer parte dos cinco finalistas, o que o Brasil efetivamente conseguiu quatro vezes na história. Assim, o Cine Set aproveita para fazer uma recapitulação dos filmes brasileiros que apareceram para o mundo inteiro e nos deixaram muito perto da estátua mais cobiçada do cinema.

O Pagador de Promessas (1962)

A escolha do filme de Anselmo Duarte, baseado na famosa peça de Dias Gomes, mostra que temáticas sociais podem contar muito na hora da escolha de indicados. A saga de Zé do Burro (Leonardo Villar) para cumprir uma promessa, que o leva a bater de frente com a Igreja Católica e ficar a mercê dos interesses políticos de vários grupos, estreou a participação do Brasil (e da América do Sul) na premiação. Seu maior feito talvez tenha se dado, no entanto, em um festival europeu: ele se sagrou o grande vencedor do Festival de Cannes, levando a Palma de Ouro para casa –  a única do Brasil até hoje.

O Quatrilho (1995)

Depois de um jejum de quase 30 anos sem indicações (e seis anos sem o Brasil sequer submeter um filme), a Academia voltou a olhar de maneira especial para nós indicando o drama de época “O Quatrilho”. O longa acompanha as dificuldades de dois casais de imigrantes italianos ao chegarem ao Rio Grande do Sul do início do século XX e da paixão que surge entre Teresa (Patrícia Pillar) por Massimo (Bruno Campos), ambos casados com outros parceiros. Contando também com Glória Pires no elenco, o longa não teve a presença internacional de “Que Horas Ela Volta?”, mas mostrou que o Oscar estava disposto a premiar um filme mais delicado vindo do Brasil.

O Que É Isso, Companheiro? (1997)

Dois anos depois, a aposta da Academia foi este thriller político de Bruno Barreto, que ficcionaliza o sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, realizado por radicais de esquerda no Rio de Janeiro, em 1969. O filme não teve aclamação mundial na época, porém participou de diversos festivais no exterior e diversificou ainda mais o perfil de produções nacionais no Oscar.

Central do Brasil (1998)

Nosso último gostinho de Oscar aconteceu em 1998, encerrando nossa primorosa participação no prêmio na década de 90 e iniciando nosso atual jejum. A brava performance de Fernanda Montenegro no dúbio e impetuoso papel da professora aposentada Dora convenceu o mundo de que ela era a melhor atriz em atividade naquele ano, arrebatando várias premiações de críticos ao redor do globo e um Urso de Prata em Berlim, onde o filme também levou o Urso de Ouro. O Oscar não participou do coro, preferindo premiar Gwyneth Paltrow por “Shakespeare Apaixonado”, e também não agraciou o filme com a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, que ficou com “A Vida É Bela”, reforçando o poderio italiano na categoria (até hoje, o país é campeão nela, com 14 vitórias). Entretanto, é certo que a combinação de técnica, temática e performances estelares representou nossa melhor chance desde 1962 de ganhar o prêmio.