Como vários filmes com uma produção delicada, “Call Me by Your Name” poderia ter sido um filme bem diferente. De acordo com o seu roteirista e original diretor James Ivory, o filme poderia ter muito mais nudez masculina (ele, inclusive, se ressentiu publicamente com a exclusão da mesma no produto final). No entanto, esse não era o filme que Luca Guadagnino queria fazer – nem mesmo seus atores principais, que proibiram contratualmente que suas partes íntimas fossem filmadas.

Com esse contexto, o novo longa do diretor italiano, que vem surfando uma boa maré com filmes como “A Bigger Splash” e “Eu Sou o Amor”, é uma versão um tanto quanto sanitizada de um romance entre Oliver, um jovem acadêmico (Armie Hammer), e Elio, o filho adolescente de seu professor (Timothée Chalamet) numa Itália quase ficcionalmente idílica do início dos anos 80.

Romances homossexuais intergeracionais não são exatamente novidade no cinema, mas “Call Me” faz a iniciativa partir do homem mais jovem ao invés do mais velho, tornando o que poderia ser um simples jogo de sedução em uma busca por aceitação e por autoconhecimento. Infelizmente, o filme não traz maiores diferenciais para este conceito, com grandes desenvolvimentos narrativos se mostrando óbvios e o próprio final sendo possível de vislumbrar antes mesmo da metade do longa.

O Oliver de Armie Hammer funciona aqui como um Adonis que não é exatamente inocente no tocante à atração que exerce no filho de seu professor e não deixa de ser impressionante em ver o astro americano se arriscando em um papel delicado. No entanto, o que faz o filme funcionar e, de fato, se apresenta como seu grande centro emocional, é seu personagem principal, interpretado com bravura por Chalamet. Seu Elio se desdobra diante de nossos olhos com toda a sua confusão e ansiedade diante de uma paixão não-convencional e, sendo reservado, exige que o ator faça muito com poucas expressões.

São esses momentos que recompensam o espectador em meio a uma trama um tanto quanto previsível que, no decorrer de seus 130 minutos, às vezes parece demasiado longa. Esse desenvolvimento, no entanto, aumenta a ressonância do desfecho, pungente na medida e familiar para qualquer um que já passou por uma desilusão amorosa quando jovem.

Ao remover a nudez masculina (presente no roteiro original bem como no livro homônimo que serve de material-base para o projeto), Guadagnino disse que queria fazer uma obra mais universal. Nesse sentido, ele foi bem sucedido: em sua presente forma, “Call Me by Your Name” se apresenta como um conto de aprendizado, amadurecimento e despertar sexual que toca o lugar sensível onde guardamos a memória da primeira pessoa, seja homem ou mulher, que nos fez acreditar em “para sempre” – e desacreditar logo em seguida.