Escrever críticas pode parecer fácil, mas não é. Não é simplesmente uma questão de “se não gostou, faz melhor” ou “críticos só servem pra xingar”, ou qualquer outra ofensa ou lugar-comum escrito em comentários por aí. Boas críticas exigem conhecimento da linguagem cinematográfica e uma boa bagagem de filmes, para dizer o mínimo. E, mesmo assim, boas críticas (e também aquelas não tão boas assim) possuem suas próprias doses de clichês, tão irritantes e recorrentes quanto os clichês que tanto reclamamos nos filmes.

Numa brincadeira saudável com nós mesmos (se você não reparou ainda, sim, o Cine Set também publica críticas), resolvemos listar cinco clichês de críticas de filmes – e, se você já nos viu cometendo um deles, por favor reclame no nosso setor de atendimento ao cliente.

1. “Um filme menor de Woody Allen é sempre melhor que os outros filmes em cartaz”

De todos os cineastas consagrados, Woody Allen é o único que parece ter um passe livre eterno entre os críticos de cinema: mesmo que faça um filme ruim, a justificativa em geral é a de que um filme menor de Woody Allen ainda está acima da média dos outros filmes em cartaz. O problema é que, quando falamos isso, estamos esquecendo de burradas que vão desde o mais recente Magia ao Luar (2014) até Para Roma, Com Amor (2012) e O Escorpião de Jade (2001). Peguemos o caso de Magia ao Luar, por exemplo: qualquer outro diretor seria xingado por investir na história batida de casal-que-se-odeia-até-descobrir-que-se-ama, mas Allen se safa basicamente só porque é Allen. A verdade é que, quando se faz um filme por ano, eventualmente vai sair coisa ruim mesmo de quem tem uma penca de obras-primas no currículo.

2. “Uma animação que vai entreter crianças e adultos”

Essa já irritou até o saudoso crítico Roger Ebert, que chamou a atenção para isso no seu texto sobre Ratatouille (numa tradução bem livre): “toda vez que uma animação é um sucesso, você tem que ler em todo lugar sobre como o filme não é ‘apenas para as crianças’, mas ‘para toda a família’, e ‘até mesmo para adultos assistirem sozinhos’. Cê jura?”. A seara da animação ainda parece estar tão vinculada ao público infantil que os críticos se sentem na obrigação de lembrar sempre aos leitores que filmes como Divertida Mente, para ficar num exemplo recente, podem ser apreciados por qualquer idade.

3. “Não se fazem mais filmes do gênero X como antigamente”

Sabe aquele sentimento de nostalgia que a galera vintage têm em achar que tudo antigamente era melhor? Críticos às vezes também têm. A saudade de tempos como a Nouvelle Vague ou a Nova Hollywood parece ser tanta que nenhum filme está à altura. Eu mesmo já devo ter escrito isso em textos sobre pelo menos dois filmes de terror – e, em minha defesa, é verdade que não se fazem mais filmes de terror como antigamZzzzz…

4. “Um filme para toda a família”

Essa é cilada, Bino. Variantes como “um filme que toda a família vai se divertir” ou “um passatempo para toda a família” são frases genéricas cuja única utilidade, em geral, é conseguir estampar a capa do DVD ou o cartaz do filme e assim atrair incautos para assistir o longa. O que são esses filmes para a família? Comédias do Adam Sandler ou blockbusters esquecíveis como Uma Noite no Museu. Ou seja: roubada.

5. “Tour de force”/“Épico”/“Um clássico instantâneo”

Como argumentar que um filme é bom sem se derreter em elogios a ele? Adjetivos podem ser perigosos e acabar enfraquecendo a análise. Mesmo assim, às vezes não conseguimos fugir deles. Um trabalho excepcionalmente acima da média acaba sendo um “tour de force”. Ou, se você prefere fazer uma minicrítica empolgada no Twitter, pode acabar usando “ÉPICO!” – assim mesmo, em caixa alta. Outra variante que pode, de quebra, ajudar a demonstrar que você parece ter grande conhecimento de causa é simplesmente bater o martelo e dizer: “um clássico instantâneo”. É infalível.