Além de ser um dos rostos mais conhecidos do mundo, de batalhar por causas humanitárias e de fazer parte do casal-símbolo de Hollywood, Angelina Jolie também é atriz.

É triste, mas a face da mulher independente, combativa, que inspira milhões de feministas ao redor do mundo, e a da megacelebridade eclipsam a artista em Angelina. Tenho certeza que, se um terço das pessoas que acompanham sua vida em revistas de fofoca parasse pra realmente assistir a filmes como Gia – Fama e Destruição ou A Troca, ela finalmente seria reconhecida como a grande artista que é.

Mas a própria Angelina também tem culpa no cartório. Criada pela mãe, a atriz francesa Marcheline Bertrand, e ressentida da ausência do pai, o americano John Voight, Jolie uniu a beleza natural a um talento para a polêmica e o escândalo. No começo, suas aparições públicas eram marcadas pelo visual extravagante e declarações idem, como a de que ela usava facas no sexo (não me pergunte como), ou de que teria feito um pacto de sangue com o então marido, o ator Billy Bob Thornton.

O relacionamento com Brad Pitt, porém, mudou a vida e a carreira de Angelina. O novo senso de estabilidade doméstica veio acompanhado da vontade de se desafiar como intérprete, de buscar novas nuances em seu trabalho.  Mesmo assim, o peso da fama e a vontade de agradar ao público a colocam de vez em quando em enrascadas como Capitão Sky e o Mundo de Amanhã (2004) e Salt (2010 – leia mais no nosso Pior Filme). É realmente torcer pra que, na carreira da atriz, os grandes trabalhos prevaleçam.

Confira agora essa trajetória em seis filmes:

5. Sr. & Sra. Smith (2005)

Um filme de ação ágil, com toques de humor e, claro, o carisma transbordante de Brangelina. O futuro casal se conheceu aqui, e já mostrava, desde cedo, que a coisa iria pegar fogo. Um dos maiores sucessos de bilheteria da atriz.

4. O Preço da Coragem (2007)

Este filme prova que já passou da hora de darmos o devido reconhecimento ao talento dramático de Jolie. Na pele de Mariane, a esposa do jornalista americano Daniel Pearl, que, num espetáculo bárbaro, teve a execução gravada por terroristas da Al-Qaeda e divulgada na internet, ela mostra a dosagem exata de desespero e resignação, intensidade e sutileza. Um dos grandes trabalhos da atriz, distante do glamour da superestrela.

3. Garota, Interrompida (1999)

O desempenho que deu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante a Jolie é, de fato, brilhante. Interpretando Lisa Rowe, uma sociopata mantida em tratamento num sanatório, ela é toda selvageria e crueza, gritando verdades incômodas e sacudindo a vida da protagonista, vivida por Winona Ryder. A prova, à época, de que havia muito mais na garota dark, bissexual e fã de facas do que Jolie fazia suspeitar.

2. Gia – Fama e Destruição (1998)

Angelina apareceu de forma fulminante em Hollywood com este filme, cinebiografia da modelo Gia Carangi, cuja curta vida foi atormentada pela depressão, o vício em drogas e relacionamentos malfadados, até a Aids fatal. Nesta produção para a TV, ela mostra uma coragem e um despudor raros de se ver até no cinema, indo fundo nas pesadas cenas de nudez, sexo e uso de drogas, para emergir no final com um retrato memorável da personagem-título, figura icônica dos anos 1970, além de deixar claro que ali estava um talento robusto, e não mero hype.

1. A Troca (2008)

O casamento com Brad Pitt marca o início da melhor fase de Jolie, que, além de ser respeitada pelo trabalho humanitário, também consegue casar sucessos de público com papéis mais ambiciosos, como este aqui. Dando vida a uma personagem real, Angelina vive Christine Collins, uma dona de casa americana que enfrenta o pior pesadelo imaginável para uma mãe: o desaparecimento do filho, sem qualquer pista ou explicação.

Novamente exibindo a sutileza, aliada a uma compreensão profunda do personagem, vista em O Preço da Coragem, Jolie enfrenta todos os momentos mais difíceis de Christine com firme e resoluta convicção, emplacando o que talvez seja seu maior trabalho. Além do quê, a mão segura e delicada do diretor Clint Eastwood faz com que a história não caia no dramalhão, e o filme, em si, é também um dos melhores da carreira da atriz. Imperdível.

O pior:

60 Segundos (2000)

Este thriller sem graça, ao lado do sempre suspeito Nicolas Cage, foi o primeiro passo em falso de Angelina, numa carreira até então marcada pela ousadia e vontade de se desafiar. Em 60 Segundos, a atriz se limita a emprestar sua beleza e carisma ao papel de Sarah “Sway” Wayland, a ex-namorada do protagonista (Cage), um ladrão profissional de carros.

Capitalizando em cima do status conseguido com o Oscar por Garota, Interrompida e da fama de bad girl, Angelina entra aqui numa fase de filmes de ação e papéis de gostosona, que renderia filmes tão interessantes e memoráveis quanto Lara Croft: Tomb Raider, Pecado Original (os dois de 2001), O Procurado (2008) e Salt. E o pior é que alguns desses filmes estão entre as melhores bilheterias da carreria de Jolie, o que faz com que ela continue insistindo nessas porcarias.

Não perca seu tempo.