Jack Nicholson, nascido em 1937, dispensa apresentações. Em incríveis cinco décadas de carreira, o ator já foi tudo, de vítima em filmes de terror a interno num hospício, passando por pianistas, mafiosos, marinheiros e por aí vai, sem parar para descansar e sem entregar um trabalho preguiçoso ou complacente.

Nesse tempo todo, ele também viveu como poucos a sua época, tenho beijado as mulheres mais belas, trabalhado com os maiores diretores, conhecido os maiores astros e até conspirando ativamente para a revolução cultural que foram os anos 60, como parte em dois filmes que são a cara daquela década: Os Monkees Estão Soltos, a salada psicodélica sobre a banda americana, e Easy Rider – Sem Destino, a suprema elegia à contracultura (leia mais abaixo).

Na verdade, dada a extensão e qualidade dos trabalhos do ator, o único a ter sido indicado a doze Oscars na história – a última foi por As Confissões de Schmidt, em 2002 –, nosso único lamento foi que esta lista tivesse apenas seis filmes. Confira:

5. Easy Rider – Sem Destino (1969)

Tantos anos depois, este continua a ser um dos trabalhos definitivos de Nicholson. Dando vida a George Hanson, um advogado bêbado e “cuca legal” que pega carona com os misteriosos motoqueiros vividos por Peter Fonda e Dennis Hopper, ele imediatamente chamou a atenção do grande público por seus transbordantes carisma e talento. O ator também colaborou ativamente durante as filmagens, ajudando a criar este verdadeiro monumento aos anos 1960. Não deixe de ver.

4. Chinatown (1974)

Um dos melhores filmes da história é também um dos papéis mais complexos já vividos por Nicholson.

Chinatown, a frutífera parceria entre o roteirista Robert Towne e o diretor Roman Polanski, pode ser considerado o momento máximo do cinema noir, mesmo décadas após o auge do gênero, os anos 1940. Com uma trama de traições, incesto, segredos fatais e capitalismo predatório, e com um Nicholson irresistível no papel do detetive Jake Gittes, o filme é maravilhoso sob qualquer aspecto, e trabalho fundamental na carreira do ator.

3. O Iluminado (1980)

Já com o status assegurado como um dos maiores astros de Hollywood, Nicholson encarou um desafio que poucos enfrentariam de bom grado: trabalhar com Stanley Kubrick. Um notório perfeccionista, capaz de gravar 100 takes para uma única cena, o diretor apavorava elencos menos tarimbados, mas a experiência e o talento de Nicholson fizeram o trabalho fluir com suavidade. Pelo menos para ele: sua companheira de cena, Shelley Duvall, achou a experiência torturante, e jurou nunca mais trabalhar com Kubrick na vida.

Em O Iluminado, porém, a estrela incontestável é mesmo Nicholson. Entre caras, bocas e frases antológicas – “Heeeere’s Johnny!” –, seu Jack Torrance elevou a trama do escritor Stephen King a um dos filmes supremos do gênero terror. É ver (e se apavorar) para crer.

2. Melhor é Impossível (1997)

Com grandes trabalhos em drama, noir, terror, policial, suspense e até em filme de super-herói (Batman, de 1989, onde viveu um inesquecível Coringa), Nicholson estava devendo na comédia.

Apesar dos grandes momentos em A Última Missão (1973), Um Estranho no Ninho (1975 – saiba mais no nosso 1º lugar) e no próprio Easy Rider, a verve cômica de Nicholson precisou esperar até 1997 para se mostrar em sua melhor forma.

Interpretando o fabuloso Melvin Udall, um escritor grosseiro, sarcástico e cheio de tiques, Jack não só faz rir muito, mas encanta e até comove em sua relação complicada com o vizinho gay, Simon (Greg Kinnear), e a garçonete Carol (Helen Hunt), que lhe cercam e bagunçam a vida.

Melhor é Impossível, talvez por ser uma comédia, um gênero notoriamente desprezado pelos críticos, está em poucas listas de melhores filmes dos anos 1990, mas é não só o melhor trabalho de Nicholson em muito tempo, como um clássico injustiçado, que merece ser redescoberto pelo público dos 00’s.

1. Um Estranho no Ninho (1975)

Você sabia que nós íamos chegar a ele, então lá vai. O trabalho que rendeu o primeiro Oscar a Jack Nicholson é um tour de force do ator, que chegaria perto, mas nunca mais igualaria a intensidade vista aqui. Dirigido por Milos Forman, Um Estranho no Ninho é um produto típico dos anos 1970: uma história sobre tipos marginais, de contestação dos valores vigentes.

Num hospício americano em 1963, Randle McMurphy (Nicholson) vai cumprir a parte final de sua pena por estupro. Frustrado com os métodos de medo e repressão usados pela enfermeira chefe do local, a temível Ratched (Louise Fletcher, vencedora do Oscar de Melhor Atriz), Mac lidera os colegas em sucessivos desafios à ordem estabelecida.

É uma história familiar, lembrando filmes como Rebeldia Indomável (1967), mas o mote importa menos que os detalhes. Com coadjuvantes memoráveis, como o nervoso, gaguejante Billy (Brad Douriff), o paranoico Dale (William Redfield) e a própria Ratched, o filme ganhou merecido status de clássico. Mas não tem jeito, sua força vital é mesmo Nicholson: nunca o ator soou tão carismático, nunca sua intensidade pareceu tão cativante, tão divertida, tão luminosa. É essa marca indelével que a sua presença impõe sobre os filmes que faz sucessivos diretores chamarem Nicholson para novos trabalhos.

Se há um filme que explica porque Jack Nicholson é Jack Nicholson, é este.

Pior:

Tratamento de Choque (2003)

Escrevi aqui que Jack Nicholson é um ator vigoroso, que não costuma fazer trabalhos desleixados ou complacentes. Também disse que ele possui uma presença de cena imponente, que se afirma sobre todos os filmes, e muitas vezes os impulsiona. Mas e quando ele é chamado para viver ele mesmo?

Essa é sua missão em Tratamento de Choque. Mais um veículo para Adam Sandler exibir sua sem-gracice, desta vez ele traz Nicholson a tiracolo, vivendo uma versão mais extrema do seu próprio temperamento (há diversas anedotas na internet, pra quem quiser saber mais).

A atuação não chega a ser ruim, mas, na falta de algo melhor do que parodiar a si mesmo, o trabalho de Nicholson é francamente desanimador. Num filme de Sandler, ainda por cima, não precisa nem pensar: evite.