Escrever que Leonardo DiCaprio é um grande ator, hoje em dia, é apenas repetir o óbvio. Mas é interessante notar como, há meros 10 anos, ele estava lutando desesperadamente para ser levado a sério, fazendo filme atrás de filme e emplacando uma parceria com o diretor Martin Scorsese.

Um pouco da culpa por isso pode ser atribuída ao próprio DiCaprio. Recém-saído da obscuridade com o hoje clássico Titanic, o ator foi catapultado à exposição massiva na TV e nos pôsteres de adolescentes ao redor do mundo. Muita gente não perdoa até hoje o seu visual de garotão boy band do período, com cabelo tigelinha e tudo. As loucas festas que ele protagonizou nessa fase, ao lado de amigos como Tobey Maguire, também foram prato cheio para as fofocas.

O lance final (e quase irreversível) foi a exploração, por DiCaprio, de papéis que aproveitavam seus belos looks e davam pouco para o ator trabalhar: O Homem da Máscara de Ferro, A Praia, até mesmo o autorreferencial (e irônico) Celebridades, de Woody Allen.

Até que, como Matthew McConaughey hoje em dia, DiCaprio decidiu ser ator. Com um padrinho do gabarito de Robert De Niro, DiCaprio foi apresentado a Martin Scorsese, e o veterano diretor enxergou (e tratou logo de arrancar) todo o talento sobre o qual hoje parece tão fácil falar. Determinado a não repetir seus antigos erros, DiCaprio vêm procurando papéis onde possa se desafiar cada vez mais, da comédia (Prenda-me se for Capaz) ao suspense (A Origem), do drama (Foi Apenas um Sonho) ao épico histórico (O Aviador, J. Edgar).

Acompanhe esse percurso agora em seis filmes.

Leonardo DiCaprio em cena de Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador

5. Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador (1993)

O filme que projetou DiCaprio para o mundo. Com 19 anos à época, mas que parecem 13, tão baixinho é o ator, DiCaprio interpreta Arnie, o irmão autista de Gilbert Grape (Johnny Depp). Roubando todas cenas em que aparece, DiCaprio consegue ser ao mesmo tempo pungente e cômico, elevando o nível do modesto, mas atraente, drama de Lasse Hallström.

Leonardo DiCaprio em cena de Prenda-me Se For Capaz

4. Prenda-me se for Capaz (2002)

No mesmo ano em que começou a parceria com Scorsese em Gangues de Nova York (o último resquício de sua fase galã), DiCaprio foi convidado pelo diretor Steven Spielberg a viver o golpista Frank Abagnale, um excêntrico personagem real, que enganou o FBI durante anos com suas falsificações. Revelando o talento do ator para a comédia (que ele exacerbaria em nosso primeiro lugar), Prenda-me se for Capaz foi o primeiro triunfo de sua nova fase, e mostrou que havia bem mais em DiCaprio do que um adolescente promissor ou um galã de revista – mas ainda levaria algum tempo para nos certificarmos disso.

Leonardo DiCaprio em cena de O Aviador

3. O Aviador (2004)

Outro passo decisivo para a fase “madura” de DiCaprio.

O Aviador foi a primeira parceria realmente sólida entre o ator e Scorsese. Se Gangues de Nova York o punha em segundo plano, ante o desempenho de Daniel Day-Lewis e o estupendo painel histórico criado pelo diretor, O Aviador só deu certo graças a DiCaprio. É que a biografia do cineasta e magnata da aviação Howard Hughes, cheio de perturbadores tiques e obsessões, se apoiava quase totalmente na capacidade do protagonista.

DiCaprio correspondeu brilhantemente, especialmente na parte final, e Scorsese deve ter ficado muito satisfeito – eles trabalham juntos até hoje, e melhor do que nunca.

Leonardo DiCaprio em cena de Diamante de Sangue

2. Diamante de Sangue (2006)

Aqui entramos na fase em que DiCaprio não só atua muito bem, mas é capaz de elevar a qualidade dos projetos onde participa.

Filme-denúncia de Edward Zwick sobre a opressão e o conflito provocados pela exploração de diamantes em Serra Leoa, Diamante de Sangue é bem-intencionado, bem executado e envolvente. Ou seja, seria apenas um bom filme, não fosse a garra e a complexidade da atuação de DiCaprio, que, como o traficante de gemas Danny Archer, se compadece da situação de Solomon Vandy (Djimon Hounsou) e da opressão ao redor, sem nunca tornar isso explícito ou piegas demais.

É sobretudo o trabalho de DiCaprio que torna o filme a peça densa, madura e até raivosa que Zwick almejava conseguir – e consegue, ao menos quando o ator está em cena.

Leonardo DiCaprio em cena de O Lobo de Wall Street

1. O Lobo de Wall Street (2014)

Nos últimos anos, Leonardo DiCaprio tem provado repetidamente a qualidade de seu trabalho, a tal ponto que é capaz de escolher os filmes onde deseja atuar, além de ter a porta sempre aberta junto aos grandes diretores americanos. Mas seu melhor trabalho continua a ser ao lado de Martin Scorsese.

O Lobo de Wall Street, a parceria mais recente da dupla, é um verdadeiro tour de force de ambição desmedida, trapaças, abuso de drogas, orgias – e doses arrebatadoras de grandes atuações. Mas, mesmo com os desempenhos de Jonah Hill e Matthew McConaughey, é DiCaprio o corpo e a alma deste épico sobre corrupção.

Longe da imagem de galã, o DiCaprio que aparece em O Lobo de Wall Sreet é idiota, impulsivo, amoral, arrogante e, eu disse idiota?

Mas também é sincero, inseguro, obsessivo e demais adjetivos que o tornam tão complicado e humano. Em cenas tragicômicas, como a da overdose de Quaaludes, a discussão final com a esposa, ou a última aparição de seu Jordan Belfort, o efeito é mesmerizante – e a marca de um grande ator.

Outras grandes atuações de Leonardo DiCaprio:

6) Django Livre

7) Os Infiltrados

8) Ilha do Medo

9) Foi Apenas um Sonho

10) Titanic

A PIOR ATUAÇÃO

Leonardo DiCaprio em cena de O Homem da Máscara de Ferro

O Homem da Máscara de Ferro (1998)

Escrevi lá em cima que DiCaprio, durante algum tempo, faturou com a bela estampa em filmes que não eram mais do que soluços artísticos. Este aqui é o exemplo mais flagrante.

Trivial ao extremo, O Homem da Máscara de Ferro desperdiça todos os bons motes do livro Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, no qual é baseado. A produção é milionária, tem um elenco de primeira (John Malkovich, Jeremy Irons e Gérard Depardieu, entre outros), mas tudo só existe em função das delicadas feições de DiCaprio – que, não por acaso, interpreta Luís XIV, o “Rei Sol” da França. O filme quase condenou o ator à condição de galã adolescente, algo que ele passaria – ainda bem – a abominar por toda a sua carreira subsequente.

Não perca seu tempo, a menos que você seja uma saudosista da adolescência na época de Titanic e dos Backstreet Boys.