5. Star Trek (2009)

Uma das melhores coisas da ficção científica é a possibilidade de criar universos inteiros, completos com planetas, raças e leis. Nenhuma série fez isso melhor do que Star Trek, que, desde os anos 1960, vem construindo uma verdadeira mitologia moderna. Os filmes, apesar dos tropeços, também têm uma regularidade de nível muito grande. E foi com grande estilo que Star Trek (também conhecido como Jornada nas Estrelas) entrou no novo século, sob o comando de J. J. Abrams, o homem por trás de Lost.

Com trama, personagens e efeitos especiais impecáveis, a nova continuação da saga faz jus a um dos universos mais interessantes, divertidos e variados já criados pro cinema.

4. Avatar (2009)

Se Star Trek inventou uma mitologia, Avatar foi além, e criou uma nova realidade. Lançando e, ao mesmo tempo, representando o ápice do 3D no cinema (por lançando, entendam: foi o filme que inaugurou a nova tecnologia 3D, criando a onda atual – já houve outra, nos anos 1950), a aventura de James Cameron (Titanic, O Exterminador do Futuro, outro clássico do gênero) lança o espectador no mundo de Pandora, para onde o soldado Jake Sully (Sam Worthington) é enviado a fim de ludibriar os na’vi, uma raça de aliens pacifistas que habita o local, e roubar um minério raro.

A trama é convencional, mas isso pouco importa, já que o filme funciona muito mais como uma experiência de imersão do espectador, que, graças ao 3D, consegue quase tocar e cheirar os elementos de Pandora. Por nos apresentar, como nunca antes, um mundo paralelo – um ideal de longa data da scence fiction –, Avatar é desde já um clássico do gênero.

3. Ela (2013)

Ficção científica não é só ação ou suspense. Imaginar futuros ousados também envolve refletir sobre suas consequências nos nossos menores atos. É dessa tarefa que Ela se desincumbe de forma magnífica, ao imaginar a paixão entre um ser humano e uma… voz?

Sim, isso mesmo. Theo (Joaquin Phoenix) adquire um sistema operacional avançadíssimo, que se manifesta nos aparelhos da casa e em seu smartphone ao andar pela rua. Ele é ela – Samantha, a voz virtual, colorida pelo veludo de Scarlett Johansson. O filme, porém, não retrata o choque desse relacionamento homem-máquina, mas a sua banalidade: criada para preencher a carência afetiva de Theo, Samantha não oferece um relacionamento mais simples nem mais avançado, mas tão difícil quanto um relacionamento comum, homem-mulher (ou suas variações).

Por mais que a tecnologia evolua e traga conforto às pessoas, continuamos tão complicados e insatisfeitos como sempre fomos. É essa a conclusão desiludida do filme – mas a jornada até ela é sublime. Não perca.

2. Gravidade (2013)

Esta é a mais fascinante experiência espacial do cinema desde o clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick (1968). A comparação não é exagero: a obra de Alfonso Cuarón casa imagem, efeitos e música de modo a recriar, para espanto do espectador, a experiência de estar no espaço. Planos-sequência e subjetivos evocam a sensação de maravilhamento diante da imensidão, da ausência de gravidade, do tempo suspenso, que só os astronautas conheciam – pelo menos até antes desse filme.

Mas a semelhança termina aí. Kubrick, além das imagens delirantes, buscava questionamentos filosóficos que vão muito além da trama simples de Cuarón, onde uma astronauta (Sandra Bullock), após um acidente, precisa lutar para voltar à terra. Gravidade é mais como Avatar: uma experiência de imersão total do espectador, mas bem mais séria e realista do que a fantasia de Cameron – e, por isso mesmo, bem mais impactante.

1. Distrito 9 (2009)

Por algum motivo, os ETs dos filmes sempre têm preferência por Nova York ou Washington. Eles também têm armas e recursos para por a humanidade no chinelo, e seu objetivo é justamente esse, por a humanidade no chinelo – e, se for possível, escravizá-la ou dizimá-la.

Não em Distrito 9. Ainda que superiores em tecnologia, os aliens concebidos por Neill Blomkamp quebraram, e precisam estacionar no nosso planeta em busca de ajuda. Numa fascinante alegoria do apartheid sul-africano, porém, eles logo são trancados num gueto abjeto e mantidos em estado de semi-escravidão. A situação, porém, não dura muito tempo – para pânico e prejuízo absolutos dos humanos.

É essa ressonância sinistra no mundo real que torna Distrito 9 mais próximo e, ao mesmo tempo, mais perturbador que qualquer outro filme de ficção científica lançado nos últimos anos. Todos os grandes filmes do gênero – o já citado 2001, Metrópolis, Matrix, compartilham dessa mesma capacidade de dialogar com o mundo além dos filmes, de nos fazer pensar e refletir a nossa condição, e aprender, quem sabe, um pouco mais sobre nós mesmos. Por atingir esse alcance raro, Distrito 9 é a melhor ficção científica do cinema recente.

Outras ficções notáveis dos últimos anos:

Minority Report (2002)

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004)

Filhos da Esperança (2006)

Lunar (2009)

A Origem (2010)

Contra o Tempo (2011)

O pior:

2012 (2009)

Existe um subgênero dentro do sci-fi que serve ao pior do cinema: os filmes-catástrofe. Pegue um pretexto qualquer – nesse caso, as previsões maias sobre o fim do mundo em 2012 – e ponha seus atores para correr durante as próximas duas horas entre explosões, cidades arrasadas, tsunamis e demais fenômenos destruidores. E só. Algum chororô e um final redentor (ou não, se o filme tiver uma intenção irônica ou pretensamente séria), algumas variações no mote (pode ser, de repente, um monstro ou meteoros), mas aí está a receita para um clássico desse gênero. Trata-se de cinema feito em função do barulho e da correria – e isso, aparentemente, agrada muita gente. Pensei seriamente em colocar a destruição de duas boas franquias em Alien Vs. Predador, ou a ridícula pieguice de A Hospedeira, mas a persistência desse tipo de atrocidade nos cinemas me fez eleger este como o pior. Faça como os protagonistas: fuja!