O Dia 3 começou cedo. Tipo, muito cedo. Tipo, 6h. Não ajudou nada o fato do Dia 2 ter sido um corre-corre danado que me deixou com muito texto para fazer no apartamento, então, no maior clima The Walking Dead e com mega olheiras, me pus a caminho novamente da Croisette para a sessão de Wonderstruck, do Todd Haynes.

Meu plano original envolvia acordar às 5h30 (sim) para chegar às 7h e não ter problemas para entrar na sessão de 8h30. A verdade é que, em Cannes, você pode e deve separar pelo menos uma horinha para filas, especialmente se o filme for badalado, senão você fica do lado de fora mesmo. No entanto, achei que eu conseguiria manter o horário de chegada na fila acordando meia-hora depois, às 6h. Claro que não consegui.


Num falei que era cedo?

Fui parar na fila às 7h30, no exato momento em que a produção liberou as portas do Grand Théâtre Lumière, esse grande espaço de 3000 lugares que é a joia da coroa do Palais. É nele que você vê os ricos e famosos entrando nos eventos de gala; como eu não sou nenhum dos dois, assim que eu subi a escada com tapete vermelho, fui barrado na entrada principal e direcionado para escadas laterais, que levam os plebeus (como eu) para os assentos mais altos e distantes da tela do lugar: em suma, a mesma lógica usada no Teatro Amazonas. Quando o filme terminou, saí correndo para a sala de conferências de imprensa, que fica no lado oposto do Palais, para ver o que Haynes, Julianne Moore e trupe tinham a dizer sobre o filme. Deu certo e ainda consegui lugar pra sentar.


Só lindos nessa foto

Um respiro me deixou aproveitar melhor o ambiente da sala de imprensa, bem como o do Espaço Nespresso. Em ambos os locais, você pode pegar cafés excelentes e totalmente 0800. Depois de umas boas doses, decidi pelo programa da tarde: conferir Loveless, do Andrey Zvyagintsev, e sair correndo para o JW Marriott Hotel, que fica fora da área do Palais (mas perto), onde Werner Herzog trocaria uma ideia com diretores mais novos.

Loveless estava sendo reprisado um dia depois de sua exibição oficial, o que tende a acontecer na Salle du Soixantième, um espaço montado em tendas ao lado do Palais para receber esse tipo de sessão. Para quem não gosta de filas, é uma boa: as reprises são menos badaladas por razões óbvias e eu consegui entrar chegando ínfimos 30 min antes da sessão.


A HBO2 do festival, rs

De lá, a ida ao JW Marriott envolveu uma passada na Boulevard de la Croisette, a avenida beira-mar de Cannes com seu calçadão (que eles chamam “promenade” aqui). É por conta dela que as pessoas do meio costumam se referir ao Festival de Cannes e ao Palais como Croisette. A volta de lá, no entanto, foi cheia de percalços, já que eu tinha que voltar para o Palais tendo que desviar da multidão que ainda lotava a frente do lugar por conta da sessão de gala de Wonderstruck que, diferentemente da sessão de imprensa de mais cedo, atrai séquitos de seguidores de famosos.


Uma das avenidas mais célebres do cinema

Valeu pelo passeio, mas não pelo evento: as perguntas dos jovens cineastas a Herzog tratavam, em sua maioria, de assuntos que ele já debatera à exaustão antes, como as diferenças de filmes ficcionais e documentais. Para quem passou pelo Instituto de Ciências Humanas e Letras da Ufam como eu passei, a memória que vem à cabeça eram os seminários que a gente só ia para ganhar ponto ou horas complementares. Acabei voltando para o Palais antes para gravar uns vídeos e dar o dia de trabalho como encerrado.


QUE HINO DE DIRETOR

A essa altura, você já sacou que existem várias coisas não glamourosas sobre se trabalhar em Cannes: uma delas, que afeta diretamente nosso trabalho, é a internet do lugar. Tirando a do Wi-Fi Café da Orange (uma das salas de imprensa), a Wi-Fi do prédio é super instável e cai se você se move pelos corredores. Como estar em Cannes é andar de um lado para outro, ela cai sempre e cada vez que você precisa reconectar, tem que digitar um login e senha personalizados que vêm num cartãozinho. Sacal.


“Chave que guarda os poderes da internet…”

Apesar dos percalços, o Dia 3 se provou uma grande melhora em relação aos primeiros, porque o ritmo do festival já começou a ficar familiar para mim. É como dirigir… E amanhã, que venham mais filmes e experiências!

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