Sonho de cinéfilos em Manaus, um cinema de arte está prestes a se tornar realidade na cidade. Com espaço para até 30 pessoas por sessão, a sala de exibições do Casarão de Ideias deve inaugurar até o fim de setembro na Rua Barroso, no centro da capital amazonense. Os preços serão convidativos: R$ 10 a inteira e R$ 5 a meia-entrada. Já a programação traz o melhor da produção nacional alternativo sem espaços nos cinemas comerciais dos shoppings.

A inauguração terá o documentário “Divinas Divas”, dirigido por Leandra Leal e uma homenagem a atriz Rogéria, morta neste mês no Rio de Janeiro. “Corpo Elétrico”, “A Cidade Onde Envelheço”, “Cinema Novo”, “Altas Expectativas”, “Pendular”, “Historietas Assombradas (para Crianças Malcriadas)”, “A Luta do Século”, “As Duas Irenes”, “Meu Corpo É Político”, “Rifle”, “Invisible”, “Pela Janela” e “Corpo Delito” são outras atrações previstas para os próximos meses na parceria entre o Casarão de Ideias e a distribuidora Vitrine Filmes.


Funcionamento

O cinema irá funcionar, inicialmente, de quarta à sábado com sessões em dois horários: 18h30 e 20h30. De quarta a quinta, serão priorizados filmes do catálogo da Vitrine já lançados em circuito comercial no Brasil e que não chegaram a Manaus. Já na sexta e sábado, o público verá os lançamentos em circuito junto com as demais praças do país.

Segundo o diretor geral do Casarão de Ideias, João Fernandes, o aumento de sessões por dia depende da presença do público. “A escolha dos horários se deu pelo fluxo do Centro. Mais cedo, é muito complicado de estacionar, parar o carro. Depois das 17h30, o Centro esvazia e as vagam começar a surgir, especialmente na Barroso”, explicou.

A programação do cinema estará disponível no site, Facebook e Instagram do Casarão de Ideias, os jornais locais e, claro, no Cine Set. Quanto à venda de ingressos, João afirmou que o local está em negociações para disponibilizar a compra via internet, além da feita no próprio Casarão antes das sessões com dinheiro ou cartões.

A produção audiovisual amazonense não será esquecida. João afirma que as atividades do cineclube do Casarão comandadas pelo colunista do Cine Set, Walter Fernandes, vão continuar. A atividades seguem um processo iniciada pelo ator Denis Sales, em 2010, quando o projeto se chamava “Cinema de Segunda”.


Alegria para os saudosos nas paredes do cinema

Posicionada mais ao fundo do saguão de entrada do espaço, o cinema conta com espaço para 30 lugares. O ambiente refrigerado traz conservadas cadeiras utilizadas em um dos antigos cinemas do Centro. “Compramos na OLX e eram mesmo de uma sala de exibição de outros tempos, porém, retiraram a marca de identificação e não sabemos exatamente a qual cinema pertencia”, revelou João.

Por falar em cinemas do Centro, os mais saudosos vão ficar felizes com o espaço. Em uma das paredes dentro do Cine Casarão, há uma coleção de fotos das principais salas que marcaram a história da região décadas atrás: Chaplin, Ypiranga, Éden, Guarany, entre outros.

Comprada por indicação da Cinemateca Paulo Amorim, de Porto Alegre, a tela deve chegar nos próximos dias. Todas as exibições dos filmes serão feitas através de Blu-Ray enviados pela própria Vitrine Filmes, uma preferência adotada pela distribuidora em todo o Brasil, de acordo com João Fernandes.

“É muito melhor ter uma sala pequena capaz de criar mais sessões, do público pedir o filme novamente do que ter algo grande que a população não vai abraçar de maneira imediata”, declarou João. O gestor do Casarão de Ideias revelou, porém, que a procura por informações sobre o cinema do Centro está intensa desde a divulgação da matéria do Cine Set.


Bahia, Gaga, Dança – O Surgimento da ideia do cinema

O cinema não é algo novo para o Casarão de Ideias. Além do cineclube, o espaço já sediou oficinas e cursos de cinema, entre elas, feita pelo realizador audiovisual Zeudi Souza e Centro Audiovisual Norte-Nordeste (Canne). A ideia para construir um local dedicado para a sétima arte veio após a decisão de mudar a sede da iniciativa da Rua Monsenhor Coutinho para a Rua Barroso. “Antes, a área de projeção dos filmes ficava no mesmo local da biblioteca. Com isso, não dava para realizar as duas coisas ao mesmo tempo. Aqui na Barroso, percebi que tinha como fazer esta área”, declarou o diretor.

A primeira ideia era manter o espaço somente para o cineclube. Tudo mudou quando João Fernandes viajou para o festival internacional Viva Dança, na Bahia. “O documentário “Gaga – O Amor Pela Dança” foi exibido e pensei em trazer o filme para o Mova-se (festival de dança promovido pelo Casarão de Ideias). A diretora do evento me falou que a representante da distribuidora do longa, a Vitrine Filmes, estava lá e me apresentou. Nesta mesma viagem, conheci o dono do grupo Cineart, o qual possui três salas dedicadas a filmes alternativos em Salvador. Fui conversando com eles sobre questões de exibições, relação com as distribuidoras, curioso para saber. No meio de todas estas conversas, acabei decidindo fazer este espaço aqui em Manaus”, afirmou João Fernandes.

O trâmite burocrático para viabilizar o cinema exigiu até mesmo a troca na Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE). “A ideia de se ter uma sala de cinema também é um pensamento de ampliação das nossas ações para que o espaço continue rodando na tentativa de buscar uma sustentabilidade. Com o cinema, a gente sabe que não vai ganhar dinheiro. Não é essa intenção, mas, sabemos que tê-lo pode fazer com surjam novos projetos em outras frentes para captarmos recursos para o espaço como um todo”, declarou o diretor.


Centro de Manaus como potencial de economia criativa

Nascido em Crateús, no interior do Ceará, João Fernandes chegou a Manaus há 14 anos quando os históricos cinemas do Centro já estavam de portas fechadas. Para ele, a nova sala de exibição pode fazer a região central de Manaus voltar a “respirar”.

“A sala de cinema, as ações do Casarão e de outros grupos culturais aliadas às revitalizações da região histórica e a pronta obra do Sesc a ser concluída permite a Manaus um grande potencial de criação de um corredor cultural com incentivo à economia criativa e também ao turismo. Nunca as ações do Casarão são pensadas de forma isolada: sempre são feitas observando o todo e como isso respinga em cada lugar”, afirmou João.

“Já chegaram para mim e falaram que a ideia de um cinema é bobagem, dizendo que já tiveram vários e fecharam. Mas, isso faz parte: se for de fechar, vai fechar. Se for de ampliar, vai ampliar. Eu como um gestor cultural preciso ter um olhar diferente da população e apostar e correr atrás. Vai ter tempo que vai ter mais gente, menos gente, isso é um ciclo. Neste lugar, se vai ter 5, 10, 30 ou apenas uma pessoa, vamos fazer. Todas as cidades do país estão olhando de volta para o Centro e os equipamentos culturais serão um atrativo a mais para esta convergência”, afirmou.


O novo Casarão de Ideias

Além do cinema, o novo Casarão de Ideias traz uma biblioteca aberta e gratuita para o público (não há empréstimo para levar o livro para casa; somente consulta local), galeria de artes, sala multiuso com refletores e sonorizada para receber espetáculos mais alternativos e um bar no terraço. “Vamos adotar o estilo rooftop com o bar. No dia em que o cinema funcionar, a pessoa pode ir tomar uma cerveja ou café e, depois, descer e ir para o cinema ou vice-versa”. disse.

Localizado ao lado da boate Cabaret, o Casarão de Ideias funciona regularmente de segunda a sexta das 9h às 12h, 14h às 18h e das 18h às 21h (este último horário dependendo da demanda). Nos sábados e domingos, o espaço cultural funciona para oficina e eventos – isso enquanto o cinema não está aberto.

Veja quais serão as principais atrações do novo cinema do Cine Casarão

Filme: Divinas Divas

Direção: Leandra Leal

Sinopse: A primeira geração de artistas travestis do Brasil: Rogéria, Valéria, Jane Di Castro, Camille K, Fujica de Holliday, Eloína, Marquesa e Brigitte de Búzios formaram, na década de 1970, o grupo que testemunhou o auge de uma Cinelândia 02 repleta de cinemas e teatros.

Filme: Corpo Elétrico

Direção: Marcelo Caetano

Elenco: Kelner Macêdo, Lucas Andrade, Welket Bungué, Ronaldo Serruya

Sinopse: Elias trabalha como assistente da estilista Diana numa confecção de roupas femininas. Ao se ver apaixonado por Filipe, um imigrante africano que trabalha na linha de produção, ele começa a organizar festas de equipe para ter motivos extras para encontrar o garoto.

 

Filme: Pendular

Direção: Júlia Murat

Elenco: Raquel Karro, Rodrigo Bolzan, Valéria Barretta

Sinopse: Filme acontece em um galpão abandonado, onde arte, performance e intimidade se misturam; e onde os personagens perdem aos poucos a capacidade de distinguir entre seus projetos artísticos, o passado de cada um e sua relação amorosa.

Filme: A Cidade Onde Envelheço

Direção: Marília Rocha

Elenco: Elizabete Francisca, Francisca Manuel, Paulo Nazareth

Sinopse: Teresa é uma jovem portuguesa que decide deixar o país para morar no Brasil. Ela vai direto para a casa de Francisca, uma amiga também portuguesa que, há quase um ano, mora em Belo Horizonte. Por mais que tenha aceitado abrigá-la, Francisca está temerosa sobre como será o convívio entre elas, já que aprecia a solidão e a independência de que dispõe. Entretanto, logo o jeito descontraído e espevitado de Teresa a contagia, nascendo uma forte ligação entre elas.

 

Filme: As Duas Irenes

Direção: Fábio Meira

Elenco: Priscila Bittencourt, Isabela Torres, Marco Ricca

Sinopse: Menina de 13 anos descobre que o seu pai tem uma outra família, incluindo uma outra filha com seu próprio nome – Irene.

Filme: Cinema Novo

Direção: Eryk Rocha

Entrevistas com Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Glauber Rocha, Leon Hirszman

Sinopse: Filme sobre um dos principais movimentos cinematográficos latino-americanos, exibindo pensamentos e fragmentos de filmes dos seus principais autores.