De vez em quando surge um filme dedicado a deixar o espectador coçando a cabeça. Colossal é um desses filmes, produto da mente do cineasta espanhol Nacho Vigalondo, que despontou há alguns anos atrás com o interessante Crimes Temporais (2007). Vigalondo é roteirista e diretor de Colossal, um longa que é – ou tenta ser – várias coisas ao mesmo tempo: um filme de monstro, uma comédia, um drama de relacionamento, história surreal… Apesar de algumas ideias interessantes aqui e ali, no geral essa salada resulta meio indigesta.

Em Colossal, um enorme monstro aparece em Seul, Coréia do Sul, trazendo pânico à população. O filme já começa meio errado por aí – Por que não em Tóquio, no Japão, a terra dos monstros gigantes da ficção? De acordo com o IMDb, maior banco de dados de cinema da internet, a razão mais provável para isso é um processo contra Colossal movido pelos produtores de Godzilla (2014). É, os advogados de Hollywood são realmente os maiores e mais ameaçadores monstros…

Enfim… Nos Estados Unidos, a jovem Gloria (vivida por Anne Hathaway), baladeira, irresponsável e muito chegada numa bebidinha, é dispensada pelo seu namorado (Dan Stevens). Ela então resolve dar um tempo na cidade onde cresceu, onde reencontra Oscar (Jason Sudeikis), um conhecido de infância que lhe arruma um emprego num bar. No entanto, Gloria acaba percebendo que consegue controlar, à distância, o monstro em Seul, o que acabará criando grandes problemas entre ela e Oscar.

Este conceito interessante, infelizmente, não vem acompanhado de personagens capazes de  proporcionar razões para se conectar com a história. O filme é centrado nas figuras de Hathaway e Sudeikis, e nenhum deles é realmente interessante, cativante ou bem desenvolvido. Gloria é caracterizada de forma estranha, como uma personagem antipática, mas a simpatia natural de Hathaway anula esse aspecto e a transforma num verdadeiro “zero-a-zero”, uma nulidade como heroína. E Oscar, a princípio simpático, se torna cada vez mais maligno ao longo da história, sem que o roteiro forneça razões suficientes para entendermos a sua mudança. Em resumo, ela é uma garota monstro e ele se torna um ao longo da trama, e é difícil se importar com qualquer um deles. E o personagem de Stevens também é outro a sofrer com uma mudança de personalidade no meio da trama.

Em termos de roteiro, Colossal também sofre porque à medida que Vigalondo vai explicando a trama, mais furos se acumulam e mais desinteressante a sua mistura de Godzilla com pitadas de Quero Ser John Malkovich (1999) se torna. E quando o diretor finalmente explica a razão para o fenômeno, ligando as aparições do monstro a uma conexão entre Gloria e Oscar num flashback da infância dos personagens, é difícil não conter uma risada.

Momentos como esse tornam Colossal uma experiência, sem dúvida, esquisita. Com certeza é o tipo de filme que poderá encontrar defensores, ainda mais numa época como a atual, onde se sente uma carência de ideias originais para filmes e o cinema é dominado pela nostalgia, pela repetição e pela noção de franquia. Porém Colossal não é facilmente descrito nem como bom nem como ruim, mas sim como estranho. É uma estranheza que vem desacompanhada de qualquer verdade humana, é esquisito apenas pelo prazer de ser esquisito e porque quase todos os filmes “indies” americanos de hoje em dia o são. Essa estranheza trabalha contra a própria história e nela se percebe que o diretor/roteirista força a barra para que os acontecimentos ocorram nos seus termos.

Em resumo, é um filme para deixar coçando a cabeça e com uma expressão exasperada no rosto. Igual à personagem de Anne Hathaway no filme: ela coça a cabeça e o monstro gigante também. Ao menos o monstro não precisou usar o penteado dela…