Olhando em retrospectiva é interessante ver o lugar em que Joseph Gordon-Levitt já chegou em poucos anos de carreira. Parece que faz pouquíssimo tempo que o vimos, quase criança, em 10 Coisas que eu Odeio em Você (1999), magro, desajeitado, meio que parecendo ser uma figura que não pertencia àquele universo teenager norte-americano. Então chega a ser uma sensação estranha saber que neste final de semana estreou um filme que ele protagoniza, escreve e dirige.

Tendo um olhar precipitado pode-se achar abrupta ou repentina a sua chegada a esse momento, mas observando calmamente as escolhas de Levitt em sua carreira, é possível notar que ali havia um ator diferente dos demais da sua geração, que não faz o tipo bonitinho, ao mesmo tempo que não quer ser apenas o carismático atrapalhado. Mesmo que moderadamente, Levitt sempre buscou realizar trabalhos diferentes, tentando fugir da irresistível zona de conforto que os seus colegas de geração adoram, e portanto, saber que ele agora se arriscaria numa tentativa de ser diretor soa como uma surpresa possível de ser esperada.

E o debute até tem potencial, boas intenções, mas se perde por alguns problemas que apresenta.

Jon (Joseph Gordon-Levitt) faz o tipo de cara que mais se encontra por aí, bonito, gosta de malhar, pegar muitas mulheres nas festas que vai, tem amigos, ama a família, vai uma vez por semana na igreja, e mora sozinho no apartamento que cuida com muita dedicação. Apesar disso tudo, a sua maior paixão é ver pornografia na internet, e dedica várias horas dos seus dias nisso. Certa vez ele conhece Barbara (Scarlett Johanson), tem uma espécie de paixão à primeira vista, e os dois começam um relacionamento, que é atrapalhado pelo maior hobby de Jon. Nesse meio tempo, ele conhece Esther (Julianne Moore), uma mulher mais velha que faz com que ele veja certos hábitos de maneira diferente.

O desenrolar do filme prometia uma coisa, uma proposta que garantia ser arrojada, madura, fazendo uma crítica brilhante. Porém, para minha enorme tristeza, percebi que não se tratava daquilo que havia imaginado, e aí, o que era liberal e inteligente, tornou-se moralista e piegas.

Parece uma daquelas histórias fantásticas, com alienígenas, monstros e fantasmas ver como o sexo ainda é um tabu enorme dessa geração. Mas um tabu dos maiores da nossa sociedade. E o que mais assusta é ver que esse tabu não está diminuindo, mas aumentando cada vez mais, como vemos, por exemplo, quando são anunciados os novos teasers de Ninfomaníaca, em que todos já criticam abertamente o trabalho, mesmo sem vê-lo, dizendo que ele é apelativo, grosseiro, feito apenas pra chocar. Tudo porque ele tem cenas de sexo explícito.

Em Como Não Perder isso é jogado para os filmes pornôs. Tudo levava a crer que o filme criticaria a sociedade muitíssimo bem representada por Jon e Barbara. A geração da hipocrisia, do jogo de aparências, da falta de conteúdo, da meritocracia burra apoiada em diplomas tecnicistas, da preguiça de pensar, do faça o que eu digo, não faça o que eu faço, e da religião como válvula de escape para perdoar os pecados da semana depois da missa do domingo, para assim se sentir bem consigo mesmo, rezar 10 pais nossos, e estar pronta para a putaria de novo, com a inabalável sensação de que todos nós somos pecadores, mas podemos nos arrepender no momento que acharmos conveniente para poder ir para o céu depois de morrer.

Mas não. Infelizmente o filme corrobora essa filosofia.

Qual é o grande problema de se ver pornografia? Se a pessoa vê isso na sua casa, sozinho, em um local apropriado, qual é a grande questão? Por que a pessoa tem que responder de maneira envergonhada pelos seus instintos sexuais? Por que se deve ter vergonha se se excita com alguma coisa fora de uma normalidade cristã? Por que que cada um não pode ter a sua individualidade sexual respeitada, se não se está invadindo o espaço de ninguém?

Incrível a falta de maturidade da sociedade em lidar com uma questão como essa, e o filme acaba corroborando isso, embarcando fortemente na ideia de que ver pornografia é errado, nojento, um pecado, e coisas do tipo.

Tudo bem que o filme afirma isso pelo fato de o pornô substituir a vida sexual de Jon, fazendo com que ele sempre encarasse suas relações de maneira unilateral e descartável. Mas a tal lição, que é escancarada pela personagem de Moore, é colocada de maneira pouco abrangente, dando a entender que o problema da vida dele era o pornô, e que resolvendo isso, ele finalmente seguiria a sua vida como um ser humano melhor.

Mas e todas as outras coisas que ele diz que ama? E a família perfeita com um pai machista, uma mãe que obedece, que só pensa em ter um neto, independente de quem seja a nora, e a irmã que não sai do celular? E os amigos ideais que só existem para falar das notas que as mulheres merecem levar por sua beleza? E a igreja confortante que cumpre a função de limpeza espiritual com 10 pais nossos e ave-marias? E a disciplinadora academia que serve para ocupar o espaço da falta de conteúdo?

E o problema era o pornô? Resolvido isso ele ficou bem?

Sem contar o fato da má escolha pensada para o desfecho de Barbara, escancarando desnecessariamente as suas intenções, e ainda querendo dar a entender que eles são pessoas completamente diferentes um do outro dali em diante. Não! Tirando os filmes românticos de um lado, e o pornô do outro, são duas pessoas com valores morais parecidíssimos em suas hipocrisias particulares.

É realmente uma pena o deslize moral do trabalho, pois o Levitt diretor e roteirista mostra-se interessante de se acompanhar. Sóbrio, sem afetações, com bom ritmo, explorando inteligentemente os potenciais dramáticos e cômicos do roteiro, e conduzindo o trabalho com notável segurança.

Porém, fica quase impossível não focar apenas nessa questão, pois tudo fica completamente eclipsado por isso. Pois mais importante do que como se conta uma história, mesmo que ela seja bem contada, com inteligência e boa técnica, o conteúdo ainda tem papel importante na balança, e aqui pesou muito contra o trabalho.

NOTA: 3,0

*Não poderia deixar de citar, de jeito nenhum, a vergonhosa tradução que o título do filme recebeu no Brasil. Don Jon, um bom título, tornou-se Como não perder essa mulher!!! A (falta de) criatividade dessas pessoas continua surpreendendo. Sério, esses caras que escolhem os títulos que os filmes estrangeiros vão ter no Brasil, deveriam passar por algum tipo de treinamento, ou quem sabe escolher outra carreira.