É muito difícil em uma conversa cinéfila ao se falar de comédia não ouvirmos o nome de Jim Carrey. Nos anos 1990, o ator entregou performances absurdas em filmes do gênero, como “Ace Ventura”, “O Máskara”, “O Mentiroso”, “Debi e Lóide” e “Eu, Eu mesmo e Irene” – sendo esses dois últimos em parceria com os irmãos Farrelly.

Nesse meio tempo, Carrey quis sair da zona de conforto e se jogar em papéis mais desafiadores, ganhando o status de ator versátil. E foi bem sucedido protagonizando sucessos de crítica como  “O Show de Truman“, “O Mundo de Andy” e “O Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças“.

O sucesso do ator é tão absurdo que o canadense hoje tem o privilégio de escolher os projetos com que queira se envolver. Mas, infelizmente, isso nem sempre é o sinal do surgimento de uma nova obra-prima. Crimes obscuros chega com três anos de atraso aos cinemas do Brasil e esta demora se justifica pela qualidade duvidosa do projeto.

Em uma pequena cidade da Polônia, Tadek (Carrey) trabalha de detetive, mas, acumula problemas na família e na profissão. Obcecado por um caso não elucidado, um assassinato em uma casa de swing com um escritor excêntrico (Marton Csokas) sendo o principal suspeito, o policial consegue desenterrar evidências a cada passo da investigação. Além disso, o escritor possui uma namorada (Charlote Gainsbourg) que parece saber mais do que aparenta.

Ao nos jogar no meio de uma trama já estabelecida seria interessante que, no decorrer de “Crimes Obscuros”, pudéssemos entender o motivo da obsessão de Tadek pelo caso, porém, elas nunca ficam claras. Mas, dá pra perceber que a corda arrebentou para o lado dele e o detetive quer se vingar de um colega de trabalho que o prejudicou. Por outro lado, o personagem faz questão de sempre esclarecer que é uma questão de justiça. Não existe foco.

O mesmo vale para a família do protagonista: nenhum deles tem relevância alguma para o personagem e o roteiro não se esforça para criar qualquer tipo de vínculo. Chega a ser irônico um momento em que um personagem ameaça contar um segredo de Tarek para a esposa: não ficaria surpreso dele responder ‘vai fundo, já não aguento mais aquela família mesmo’.

Com o decorrer da enfadonha trama, é incrível constatar que Carrey faz milagre e não entrega uma atuação aquém de seu talento. Por outro lado, fica difícil não reprovar o trabalho de direção de Alexandros Avranas, que tinha chamado atenção no Festival de Veneza com “Miss Violence” assim como o roteiro escrito pela dupla David Grann e Jeremy Brock (“Z – A Cidade Perdida” e “O Último Rei da Escócia”).

Falando tecnicamente, “Crimes Obscuros” possui um ótimo trabalho de fotografia feito por Michael Englert: utilizando paleta de cores frias, as imagens corroboram o universo triste, solitário e vazios dos personagens. Por fim, o plot twist até tenta salvar algo, mas, o desastre já estava feito sem chance de conserto.