“A Incrível História de Adaline tem como protagonista uma mulher que, após um acidente, para de envelhecer e assim vive por mais de cem anos. Em tempos de obsessão com a juventude e com a beleza física, é uma produção um tanto curiosa de ser assistida. Afinal, quem não gostaria de ser Blake Lively para sempre? Assim como Brad Pitt (em “O Curioso Caso de Benjamin Button”) e Mel Gibson (no eternamente cafona “Eternamente Jovem”), Lively tem sua beleza explorada ao máximo nessa produção, que acerta ao mostrar que a juventude não é tão charmosa quanto parece, mas que erra ao sucumbir às tentações “clichêzísticas” desse tipo de cinema.

No início da história, não sabemos bem quem é aquela mulher. Adaline surge em sombras. Vemos primeiro uma silhueta. Depois, pequenos aspectos da direção da arte vão nos dando uma ideia da vida da protagonista. Os primeiros dez minutos da trama são também os melhores, com o uso esperto do narrador, que fala dos cem anos de Adaline como quem conta um conto de fadas.

O visual da produção é impecável. O figurino desfilado por Lively, em específico, é uma das melhores coisas do longa. Retiradas dos arquivos da grife Gucci, as roupas mostram uma Adaline conservadora. Mesmo com a aparência de uma linda mulher de 29 anos, ela sai pelas ruas em pleno século 21 com trajes que poderiam ser usados se realmente tivesse o rosto e o corpo de uma senhora de 107. O cabelo e a maquiagem da personagem também são propositalmente datados, como se tivessem parado no tempo com a protagonista. É interessante notar que esses aspectos vão mudando gradativamente ao fim da narrativa – os vestidos usados por Adaline em duas festas de Ano Novo ao longo da história mostram duas mulheres diferentes e dois níveis de confiança bastante distintos.

Se o figurino e cabelo/maquiagem acertam, a direção de fotografia nos mostra imagens que poderiam ser facilmente emolduradas. Junto com a montagem, ela consegue nos contar a história de uma forma sem a necessidade da narração. Cito como exemplo a cena em que Adaline está em um táxi e começa a lembrar de um certo episódio-chave vivido décadas atrás. Nesse sentido, vamos vendo a falta de necessidade do narrador, que segue acompanhando a história com comentários que apenas descrevem o que está na tela.

Pena que Lively não seja a grande atriz que essa produção merece e nem a que ela precisa. A atuação dela aqui é melhor que em produções anteriores, mas ainda compromete nos momentos de maior dramaticidade – em uma cena importante, por exemplo, ela aparece chorando em um momento e depois começa a correr como se estivesse em uma cena de “Sonho de Uma Noite de Verão”, de William Shakespeare. Como o interesse romântico da protagonista, Michael Huisman compromete, mas não parece irresistível o suficiente para virar de cabeça para baixo a vida de uma mulher que já viu tudo. Harrison Ford parece cansado e entediado, enquanto Ellen Burstyn, vivendo uma personagem curiosamente parecida com a que acabou de interpretar em “Interestelar”, nos oferece bons momentos dramáticos.

O desfecho do filme deixa um pouco a desejar, não por ser óbvio (porque o é), mas por resolver as coisas de uma forma desnecessariamente casual e sem conflito. O roteiro também peca ao não desenvolver histórias como a de uma das personagens mais interessantes do longa, a amiga de Adaline vivida por Lynda Boyd, que aparece em uma cena e depois é esquecida. Outra “subhistória” envolvendo o FBI poderia ser melhor explorada, mas, aqui, não vai a lugar nenhum.

“A Incrível História de Adaline” sai melhor que a encomenda. No entanto, ainda deixa um gosto amargo ao resultar em um trabalho de soluções fáceis.