“Quando vi entidades ambientais criticando Ricardo Salles, falei ‘acertamos’”. Essa é uma frase do atual presidente da República Federativa do Brasil sobre a sua escolha para ocupar o Ministério do Meio Ambiente. Pasta essa que, por algumas semanas após a eleição de 2018, estava quase certa de sua extinção. Mas, após verificar o impacto negativo que teria para o mercado agrícola fora do país, Jair Bolsonaro resolveu fazer algo mais “eficiente”: colocou um condenado por adulterar mapas de zoneamento ecológico, em favor de empresários, quando ocupava a Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo. Desde então, são inúmeras as queixas de funcionários do Ministério quanto às atitudes de Salles, rendendo ainda uma reunião histórica de sete ex-ministros do Meio Ambiente, onde criticaram a atual direção da pasta.

Em um país onde boa parte de sua extensão é ocupada por uma das mais importantes áreas florestais do planeta, a Amazônia, parece piada ter de ainda conviver com a situação descrita acima. Mas esse é o Brasil e como as coisas funcionam por aqui. Por isso, é importante notar a movimentação que existe em volta do meio ambiente seja por artistas, pela sociedade civil e até mesmo de políticos.

O documentário “Amazônia – O Despertar da Florestania” atende bem esse chamado ao propor uma discussão sobre o que é a tal “luta pelo meio ambiente”, “luta pelo futuro de nossos filhos” ou ainda “luta pela mãe terra”. O longa conta com a direção da atriz Christiane Torloni e de Miguel Przewodowski trazendo entrevistas de diversos nomes importantes para o tema como os ex-ministros Marina Silva e Carlos Minc, a jornalista Miriam Leitão e o ativista indígena Ailton Krenak.

Iniciando com imagens da campanha pelas “Diretas Já”, fica evidente uma das propostas do documentário: dar a informação necessária para que o espectador se mobilize. É interessante notar como, de anos em anos, a sociedade civil se une pelos mais variados temas, mas a luta pelo meio ambiente parece ser sempre o elefante na sala: sabemos de sua importância, mas, se for possível deixar para depois, é isso que acontece.

Torloni escolhe para sua montagem uma estrutura que remonta desde os nomes de Marechal Rondon, ressaltando seu respeito pelos povos indígenas, e caminhando pelos momentos mais acalorados dos anos 1960, incluindo relatos sobre a ditadura e episódios de tortura, até chegar aos eventos mais recentes, como o desastre ambiental de Mariana.

A escolha de entrevistados é bem rica: as falas elucidam bastante sobre o tema discutido e mostram uma pluralidade de vozes, levando a crer em uma mobilização para reivindicar as mudanças no cenário ambiental do país.

DÉJÀ-VU CONSTANTE E SUPERFICIAL

Pode-se dizer que é louvável todo o esforço de Torloni ao criar uma obra que enumere todas as preocupações sobre a Amazônia e o meio ambiente, sendo visível sua dedicação ao viajar para os mais remotos locais da região para ouvir as falas de seus personagens. Mas é importante também ressaltar que, ao mesmo tempo em que essa “pluralidade” é interessante, revela um problema bem grande para o filme: ser genérico demais.

Como dito anteriormente, sabe-se da luta pelo meio ambiente e todos acham importante se envolver. Porém, o que “Amazônia – O Despertar da Florestania” busca discutir é o mesmo que diversos outros documentários já fizeram, sendo o mais recente e um pouco mais interessante, “Beyond Fordlândia”, focado na ocupação da Amazônia e a plantação de soja na região.

O documentário apresenta figuras importantes da causa ambiental, mas não entra em detalhes sobre o que exatamente foram suas lutas, como quando cita Chico Mendes, por exemplo. Todos já sabem quem ele foi, o que fez e pelo que morreu, mas Torloni não acrescenta nenhuma outra informação para que tenha uma razão a mais para ser mencionado. Ele apenas aparece por ser “Chico Mendes” sem aprofundar no projeto das reservas extrativistas e os benefícios que trariam para os povos daquela região.

Também não se discute a fundo as qualidades de projetos que mesclam a exploração comercial e a sustentabilidade. Quando uma manifestante, nas Jornadas de Junho de 2013, diz que o meio ambiente é uma preocupação para o futuro, diferente de saúde e educação, há um comentário bem interessante do jornalista André Trigueiro dizendo que todos os três temas estão sim conectados. Mas os diretores não buscam um desdobramento dessa fala, o que poderia render bem mais para o documentário. Enfim, Torloni e Przedowski fazem questão de mencionar essas discussões, mas, sem sair da superficialidade.

Ao final do filme, a impressão é que “Amazônia – O Despertar da Florestania” é apenas uma introdução ao tema. Seu objetivo é mostrar a existência de lutas sobre a proteção da Amazônia e do meio ambiente, ressaltar nomes memoráveis e destacar a trajetória desta causa. Sem querer entrar a fundo em suas discussões, o documentário termina sendo uma aula expositiva do assunto, deixando o grosso da história para depois.

Mesmo com essas ressalvas, “Amazônia – O Despertar da Florestania” ainda consegue ser um projeto importante e político, dado a época de seu lançamento. A verdade é que, mesmo que seja um filme raso, caso possa mudar a mente e despertar o engajamento no mínimo de pessoas possíveis frente ao desmonte que está ocorrendo no Ministério do Meio Ambiente, já é um alívio não só para os diretores, mas também para o país.