“Dilema” é a nova produção de Mike Kelley para o catálogo da Netflix. O criador de “Revenge” carrega o mesmo tom novelesco e cheio de reviravoltas que prendia o público na trama de Emily Thorne. Desta vez, ele ainda conta com a atuação imponente da oscarizada Renée Zellwegerapós um tempo longe das telas. Mesmo assim, não é suficiente para salvar a produção.

A trama acompanha Anne Montgomery (Zellweger), investidora que decide salvar uma cientista (Jane Levy) da falência com a condição de passar uma noite com seu marido (Blake Jenner) sem perguntas ou explicações. Ao aceitar essa proposta, Lisa e Sean embarcam em um emaranhado de mentiras, segredos, obsessões e jogos de poder. Enquanto a vida deles desmorona, a presença de Montgomery se torna mais forte.

Há semelhanças inegáveis com “Proposta Indecente” e alguns elementos de “Segundas Intenções”, mas o que predomina são as reviravoltas com estilo novelesco à la João Emanuel Carneiro. “Dilema” utiliza constantemente questionamentos sobre moralidade e escolhas difíceis para manter a atenção dos espectadores, mas, padece com o acúmulo de subtramas.

Duas tramas paralelas se desenvolvem durante a temporada: a do casal melhor amigo de Sean e do irmão de Lisa. A primeira tem uma carga dramática tão pesada quanto a principal, já a segunda é o alívio cômico da narrativa e chega a ser em alguns momentos a melhor parte da obra. Embora sejam coerentes com a discussão que “Dilema” propõem, elas quebram o ritmo e o envolvimento com a história principal, tornando-a desgastante e saturada.

A questão é que mesmo que as tramas se entrelacem de algum modo, há uma perda com essa montagem. Os dilemas de Ângela (Samantha Marie Ware) e Marcos (Juan Castano) são mais interessantes e discutíveis no contexto social contemporâneo que o drama da protagonista. A médica-residente representa com exatidão a luta profissional da mulher negra, ganhando contornos maiores pelo seu envolvimento com Ian (Dave Annable) e as conseqüências dessa escolha. Já Marcos e seus conflitos internos poderiam render um produto à parte. Nessas diversas situações, Lisa se torna uma personagem petulante com motivações egoístas, pois, seu foco se torna aquilo em que ela está se transformando: Anne Montgomery. Tais situações acabam por deixar a profundidade dos temas levantados pela série de lado, oferecendo respostas evasivas e superficiais.

“Dilema” é um guilty pleasure para quem gosta de tramas com reviravoltas, vingança e histórias misteriosas. Poderia, entretanto, ser um bom thriller psicológico, se não houvesse tantos problemas de execução. Zellweger retorna confortável e cativante, mas uma estrela sozinha não consegue iluminar todo o universo. A sensação que fica é a de que Kelley precisa renovar a fórmula, mesmo que para isso Gabriel Mann continue a acompanhá-lo, o que, diga-se de passagem, não seria má ideia.