Famoso pela conceituada franquia de animação ‘Kiriku’, o francês Michel Ocelot destaca novamente a cultura africana com ‘Dilili em Paris’. Apesar da animação em 2D não surpreender visualmente com as técnicas adotadas, a trama cercada de críticas sociais e personalidades famosas torna-se uma ótima apresentação de Paris na Belle Époque.
Desta vez, sua figura central é a jovem Dilili, uma kanak que desembarca na cidade luz por acidente. Junto do entregador Orel, a personagem decide investigar o desaparecimento de meninas na cidade, revelando a ação de uma organização secreta criminosa.
Apesar do tom leve de lidar com a narrativa, Ocelot se preocupa em permanecer próximo a realidade, principalmente no que diz respeito às diferentes culturas envolvidas. Como uma imigrante, Dilili possui uma aceitação mista pelos lugares que passa, com constantes episódios de racismo contra a personagem.
Tais acontecimentos são uma previsão da densidade que a história adota em sua parte final ao revelar o destino das meninas desaparecidas. Com um ar fantasioso e um argumento novamente verossímil descobrimos que a organização chamada “mestres do mal” busca impor um retrocesso a independência feminina alcançada até então.
DENSIDADE SURPREENDENTE DA TRAMA
Ao escolher Paris como seu cenário, o diretor apresenta a cidade por meio de fotografias sobrepostas com a animação em 2D. Essa mistura definitivamente é mais prática para que o público reconheça os cenários parisienses, porém, acaba se tornando ineficaz quando o assunto é imersão.
Por outro lado, o roteiro do longa constantemente alimenta o espectador com novos personagens dentro de seus diversos cenários. De forma bem divertida, Ocelot consegue envolver figuras históricas em sua trama indo de Marie Curie até Santos Dumont. O brasileiro, inclusive, faz parte de uma das cenas mais belas do longa com o resgate das meninas sequestradas.
Apesar do roteiro adotar muitas justificativas fáceis e até mesmo possuir um problema estrutural de ritmo, é justamente a mudança brusca de uma Paris ensolarada para os terrores enfrentados pelas jovens desaparecidas que tornam a trama mais densa. Assim, se deixarmos de lado as fragilidades do roteiro e o estranhamento visual das técnicas adotadas, ainda restará uma história importante, verossímil e tão encantadora quanto sua protagonista.