Nenhum demônio, monstro ou vilão é mais forte do que o found footage. Quando você pensa que ninguém mais vai fazer algo do tipo, o subgênero do terror resiste mesmo após ter sido explorado à exaustão desde “A Bruxa de Blair” (1999). A vez agora é do cinema de Tocantins com “Do Outro Lado”, de Ricardo Brito.

O ponto de partida é clássico: um grupo de cinco pessoas desaparece com a suspeita recaindo sobre uma garota possuída pelo demônio. Tempos depois, surge uma fita com os últimos momentos dos amigos e vamos descobrir o que houve.

Todos os clichês do found footage estão lá: câmera tremida a todo momento, imagens desfocadas, personagens idiotas fazendo idiotices, pequenas referências a outros filmes de terror, uma casa amaldiçoada, um jogo de tabuleiro dos mortos e uns sustinhos que não assustam por você já saber o que vai acontecer desde o começo. Resumindo: um repeteco de “Atividade Paranormal”, “Ouija”, “Cloverfield”…

“Do Outro Lado”, porém, até consegue ser eficiente ao criar tensão, não caindo na armadilha de fazer pequenos momentos falsos de terror com a trilha explodindo os nossos tímpanos. Na verdade, as duas sequências pretensamente assustadoras podem até não dar medo, mas, são bem executadas.

O que atrapalha mesmo são os personagens de uma nota só: acompanhar 15 minutos de filme com aquelas figuras fazendo e dizendo as mesmas coisas – a mocinha pede para não ser filmada durante toda projeção ou as besteiras sem graça do carinha com a camisa do Halloween – levam o público a não se importar com nada que aconteça em cena. Não é difícil nos apegarmos à entidade maligna para que ela dê um fim neles e nos salve de mais minutos com tanta gente desinteressante.

Com tudo isso, é preciso uma certa dose de condescendência com “Do Outro Lado”. Semelhante ao que ocorria com as produções da Dream House Pictures aqui em Manaus, levamos em conta o fato de ser produzido em uma região onde este tipo de projeto é raro e, muitas vezes, ser os primeiros passos dos diretores no audiovisual para relevar os problemas do curta. Vale pelo exercício e a expectativa é que evoluam mais no próximo trabalho.

E, por favor: sem found footage…