Parece até mentira, mas, “Game of Thrones” conseguiu atingir o ponto mais baixo de oito temporadas justo no último episódio. Não que tenha sido uma novidade, afinal de contas, desde a sétima temporada, somos testemunhas de uma trama acelerada sem o cuidadoso desenvolvimento de outrora e concentrada apenas em batalhas e mais batalhas. “The Iron Throne” apenas materializou todos os defeitos.
Neste derradeiro episódio, o roteiro da dupla D.B Weiss e David Benioff atirou para diversos lados, sem sucesso na maioria deles. Quando tentou surpreender, falhou. Quando tentou fazer humor, fracassou. Quando tentou colocar diálogos pseudograndiosos, constrangeu. Sobrou para os pobres atores tentando salvar o mínimo de dignidade existente em “Game of Thrones”.
REINO DOS CONSTRANGIMENTOS E DESONESTIDADE
A decisão de Daenerys em colocar fogo em Porto Real já deixara “Game of Thrones” em posição delicada, fazendo com que os primeiros minutos de “The Iron Throne” tentasse tornar crível esta escolha da Quebradora de Correntes. Para tanto, Weiss e Benioff promovem um encontro constrangedor entre Jon Snow (Kit Harignton) e Tyrion (Peter Dinklage).
Primeiro que há uma desonestidade intelectual de tentar vender que a Daenerys tirana estava sempre aí e nós que não quisemos ver. Ora, a própria série, ao longo de suas sete temporadas, vendeu a personagem de Emilia Clarke como uma grande heroína, líder, valente e quase sempre misericordiosa.
Todos os atos mais cruéis de Daenerys eram atenuados pelos próprios roteiristas como necessários naquele momento, abordagem completamente diferente quando, por exemplo, tal situação ocorria com Cersei (Lena Headey), sempre tratada como a grande vilã de “Game of Thrones”. Por isso, ao vermos logo no início do episódio o estrago feito em Porto Real com milhares de mortos, entre elas, crianças carbonizadas, fica tão difícil associá-lo a Mãe dos Dragões.
Segundo que foi triste ver como toda a elegante elaboração dos diálogos e dos próprios personagens desabou nesta temporada. Ver Tyrion citando frases de efeitos ridículas, dignas de livros de auto-ajuda (“amor é mais forte que a razão”, “o amor é a morte do dever”, “o dever é o amor da morte”) são de chorar. Aqui, aliás, é preciso destacar o excepcional trabalho de Dinklage, pois, a situação só não fica ainda mais constrangedora pelo talento absurdo dele.
Por outro lado, Kit Harington é um horror: se o eterno estado de negação de Jon Snow já é irritante por natureza, a tentativa do ator de mostrar angústia e divisão sobre os sentimentos que possui chega a dar dó, resumindo-se a caras e bocas sem convencer quem estiver mais atento. Emilia Clarke também não vai muito longe, apesar de haver o atenuante da completamente guinada maluca de Daenerys. O desconforto da atriz com os rumos da personagem é visível no discurso dela para as tropas e a necessidade de demonstrar uma certa loucura.
REINO DA INSIGNIFICÂNCIA
O combo atuações ruins com uma história sem sentido reflete-se no que deveria ser o maior momento da história de “Game of Thrones” e não foi: a morte de Daenerys pelas mãos de Jon Snow. A sequência, aliás, foi um festival de horrores inacreditável para o padrão até então de excelência de “Game of Thrones”.
Se aparição da neve a partir do nada apenas para fazer uma referência fan service já não fazia sentido, o grau de previsibilidade do que iria acontecer ia na contramão de tudo o que foi a série até ali. Ora, estamos falando do “Game of Thrones” da morte de Ned Stark, do Casamento Vermelho, da morte de Jon Snow ao final da quinta temporada, da explosão do Septo de Baelor.
Aqui, entretanto, não é preciso ser um às dos roteiros para saber o que irá acontecer. Para piorar, o momento derradeiro ainda surge através de uma direção pouco criativa de D.B Weiss e David Benioff. Quantas vezes já não vimos a mesma cena em suspenses baratos do Supercine?
O que se sucede é o fundo do poço: temos direito a uma cena de balé para fazer aquela imagem bonita de Daenerys segurada por Jon com o Trono ao fundo e, claro, o fogo do dragão. Ali, fica claro que o dinheiro acabou ao se fazer os efeitos visuais das batalhas de Winterfell e Porto Real, sobrando uns trocados para o capítulo final.
Dali por diante, pouco importava o que aconteceria. O estrago estava incontornável. A própria escolha de Bran, um sujeito apático, sem carisma, força ou inteligência como o novo rei dos Seis Reinos resumiu muito bem o que foi este clima de fim de festa melancólico.
Jon foi para a Patrulha do Noite? Ok. Arya para o Oeste? Legal. Sansa, a Rainha do Norte? Belê. Tyrion, o novo Mão do Rei? Fazer o quê, né. Tentou-se uma gracinha ou outra, mas, nem elas funcionaram. Nada significativo aconteceu e a única torcida era que o tormento acabasse logo. Admito: quase dormi.
O escritor George R.R Martin afirmou que “Game of Thrones” teria um final agridoce. Lamento, querido, mas, o que se viu foi algo ruim mesmo.
Falou pouco mas falou tudo, muito boa a sua critica resumiu o que a maioria das pessoas achou deste episodio.
Menino do céu, quanta decepção nas suas palavras. Lendo sua descrição parece até que não vimos o mesmo show. Do começo ao fim, o episódio é carregado de autorreferências e referências da História. No meu entender não houve tiroteio para todos os lados, de nenhuma forma. Ao contrário. Foi um episódio que de modo simples (e talvez aí esteja a razão da grande quebra de expectativa) conseguiu convergir todos os arcos e dar as voltas necessárias para encaminhar os destinos de cada personagem para os lugares onde deveriam mesmo ir. Foi um episódio precisamente calculado cena a cena. Praticamente todas elas foram construídas com paralelos e espelhamentos que remetem a cenas anteriores, mostrando que as conclusões do personagens estão fundamentadas em sua própria história. Começa com Tyrion caminhando pelos escombros de Porto Real. Ele já passou por isso antes na sexta temporada, qdo Daenerys incendiou um carregamento do exército Lannister. É praticamente a mesma cena, com proporções maiores. Revivê-la ajuda Tyrion a perceber que o que acabava de acontecer já era anunciado. Ele sabia, mas não viu. E, sim, nós também não vimos por estarmos fascinados pelo poder de uma deusa poderosa do fogo, mas a gente sabia. A gente conhecia sim seu pulso impiedoso, sua crueldade, seu autoritarismo, mas estávamos totalmente em negação, seduzidos por um discurso que soava docemente libertário, por mais que justificasse as ações mais sanguinárias. Relevávamos e queríamos mais. O efeito que Daenerys provoca de encantamento e sedução não é só nos personagens. É também no público. Você não viu seu potencial altamente destrutivo não porque “não entendeu”, mas porque a idealizou. E quando a realidade se torna explícita demais para que se possa evitar ver, vem o susto. E quando a gente é pego assim, é mais fácil tentar justificar as circunstâncias, dizer que não foi bem assim, do que reconhecer a própria cegueira. Foi o que Jon tentou fazer. Mas Tyrion não. Ele assume sua parte no autoengano e se desvincula da teia. O diálogo entre os dois é magistral. Percorre pelos caminhos exatos para chegar aos pontos necessários que nos remetem à conversa de Jon com Aemon, e à conversa de Ned Stark com Varys às vésperas de sua decapitação. Quando vc critica as fala “o amor é a morte do dever”, talvez não saiba, mas está falando da referência exata ao diálogo de Jon com meistre Aemon, numa temporada que provavelmente vc gostou. Aliás, esta é a frase que define o conflito central vivido pelo personagem de Jon: o impasse entre o amor e a honra. É também o conflito que viveu Ned Stark no momento em que decide proteger a vida de Jon Snow da fúria de Robert, levando-o para casa como seu bastardo. Ele abre a mão de sua honra por amor. É também o conflito de Ned nos seus últimos dias. Ele está firme na decisão de não ceder, mas na conversa com Varys no calabouço, decide confessar na esperança de ganhar a liberdade para proteger suas filhas. E então chegamos a mais um paralelo à conversa de Jon e Tyrion. Da mesma forma que Varys convenceu Ned, Tyrion convence Jon sobre o que deve fazer, em nome de Arya e Sansa. O amor é a morte do dever: por Arya e Sansa, Jon decide trair sua rainha. O dever é a morte do amor: para salvar o reino de mais guerra e horrores, Jon mata a mulher que ama. E esta é só parte do episódio. Os paralelos estão por todos os lugares do episódio. Basta sair da idealização para poder apreciá-lo em toda sua forma. Grande abraço.
Vocês está em outro mundo ou tem viso~es e pensamentos borrados.
Refências nada. Sinto muito. Episódio Lixo.