Em nenhum outro gênero do cinema se produzem tantas continuações como o terror. Elas são feitas porque é um bom negócio: filmes de terror geralmente são baratos, e há o reconhecimento da marca. Quando é lançado e causa impressão junto ao público, ele vira uma marca, e é fácil para produtores trazerem de volta um vilão marcante ou um conceito que agradou. E isso é verdade, tanto em Hollywood… quanto na Coréia do Sul.
Invasão Zumbi (2016), o sucesso sul-coreano de terror do diretor Sang-ho Yeon que impressionou o mundo – aquele dos zumbis num trem – não precisava e nem pedia uma sequência. Mas eis que ela chega na forma de Invasão Zumbi 2: Península. É a natureza do negócio: um filme que fez sucesso mundial e mexeu com o público, tal como aquele, vai ganhar uma continuação, quer faça sentido ou não. Porém, esta segunda investida de Sang-ho Yeon nos gêneros terror e ação talvez funcionasse melhor se não fosse atrelado ao longa de 2016. Porque, infelizmente, ele nem sequer arranha a sola do sapato do seu predecessor.
Na trama da continuação, a Coréia do Sul foi tomada pela infecção do vírus que transforma a todos em zumbis maratonistas e deixada para apodrecer: a península coreana foi isolada e os habitantes que conseguiram escapar viraram refugiados nos países próximos, notadamente Hong Kong. Quatro anos se passam, e um grupo de pessoas sem perspectivas recebe uma missão de uns mafiosos: Voltar à península à procura de um caminhão que ficou perdido lá, com uma carga de 20 milhões de dólares. Eles aceitam, mas ao chegar lá descobrem sobreviventes, além dos zumbis. E esses sobreviventes se dividem entre uma família gente boa, e uns malucos que se organizaram numa perigosa sociedade pós-apocalíptica.
O primeiro Invasão Zumbi não era realmente nada original. Seu diferencial era a ambientação: o trem em movimento, e todo o contexto claustrofóbico que ele convida, ajudavam a criar tensão e drama de maneira bem intensa. Neste segundo filme, porém, sem aquele contexto o que se tem é mais um filme de zumbi/pós-apocalíptico, igual a vários que já vimos antes, com as mesmas situações. O cenário é “carpenteriano”, buscando inspiração clara em Fuga de Nova York (1981). O bizarro esporte dos vilões com zumbis numa arena, e os mortos-vivos sendo distraídos com fogos de artifício e luzes, lembram muito cenas parecidas de Terra dos Mortos (2005) do mestre do cinema zumbi George A. Romero. E no terceiro ato, Invasão Zumbi 2 vira um mini-Mad Max: Estrada da Fúria (2015), com uma perseguição de carros intensa na qual os mortos viram coadjuvantes.
CGI EM EXCESSO, ROTEIRO E DRAMA FALHOS…
O roteiro – de autoria de Sang-ho Yeon e Ryu Yong-jae – é muito superficial. Além do aspecto de colcha de retalhos, composto de referências de outros filmes, o roteiro sofre também por não apresentar personagens interessantes. Os do primeiro Invasão Zumbi não eram profundos de jeito nenhum, mas tinham carisma e objetivos relacionáveis, o que criava empatia no espectador. Aqui, os companheiros de missão do protagonista – um herói sem graça vivido por Dong-Won Gang – nem são apresentados direito e não se pode dizer que existe uma real caracterização. Há também uns momentos de humor fora de lugar e uma coincidência na metade da história que é de doer…
Se o roteiro é fraco e os personagens, insossos, resta ao diretor se concentrar na ação. Embora o filme até tenha umas boas ideias visuais, Invasão Zumbi 2: Península sofre com o excesso de computação gráfica, o que o deixa bem artificial. O CGI é bem ruim em alguns momentos, especialmente na perseguição climática – as colisões dos carros parecem cenas de videogames, e o fato da maior parte do filme se passar à noite parece ser motivado para tentar fazer o CGI render mais. Mas essa estratégia não é realmente bem sucedida.
Nem o drama, que foi um das surpresas do primeiro filme, consegue ser orgânico nesta sequência. No final, vemos muita câmera lenta e tentativas do diretor de fazer o público chorar. Isso funcionou muito bem no longa anterior, mas aqui é simplesmente muito difícil se importar com os personagens, mais rasos do que um pires. Por tudo que foi dito aqui, até parece que Invasão Zumbi 2: Península é um desastre. Mas não é: como todo filme sul-coreano da criativa onda recente do país, ele tem, ao menos, um ou outro momento mais inspirado. Seu problema é justamente ser vendido como sequência de um filme muito superior. Se fosse só mais um filme de zumbi da semana, talvez até pudesse ser recomendado como um entretenimento razoável para o sábado à noite. A Netflix lança coisas piores quase todas as semanas.
Infelizmente, ficamos o tempo todo com o anterior na cabeça. Continuações de terror são realmente um bom negócio; isso não significa de fato que esse “bom negócio” valha a pena em muitos casos…