O título deste episódio final da temporada de Lovecraft Country é “Círculo Completo”, e ele é quase que totalmente dedicado ao grande arco da temporada, o do confronto entre nossos heróis contra os planos de Christina Braithwhite. De fato, ele acaba fazendo um circulo e retorna ao espírito do começo da temporada, especificamente ao do segundo episódio, justamente o que considerei o pior dos dez. Às vezes apressado e falho, às vezes tocante e empolgante, “Círculo Completo” tem algumas qualidades, vários problemas e termina representando um decepcionante encerramento para este ano da série.

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Só nos primeiros minutos, Tic recita um encantamento do Livro dos Nomes, ele e Letitia são enviados a outro plano onde recebem orientações valiosas de suas ancestrais – há um forte tema de maternidade perpassando o episódio – depois retornam, fazem um ritual e Tic sai “no braço” com o fantasma do Titus Braithwhite. Christina vê o fantasma, é arremessada pelo para-brisa de um carro, e então o episódio meio que se reinicia, focando-se no confronto entre o plano da vilã de obter imortalidade e o dos nossos protagonistas para vencê-la e salvar a vida de Tic.

De novo, ficamos com aquela sensação de correria que tanto atrapalhou o segundo episódio da temporada, lá atrás. Ninguém pode acusar a série de falta de ideias, mas em alguns momentos parece que os roteiristas têm ideias em demasia e não conseguem trabalhar todas de forma coerente.

As coisas melhoram um pouco a partir da cena em que Christina, como pessoa branca que se acha dona do mundo, invade a loja dos Freemans exigindo o Livro. A partir daí, os protagonistas resolvem suas pendências – Tic e Letitia, Hippolyta e Diana, Tic e Montrose – em cenas que funcionam de fato e que carregam uma carga emocional forte, principalmente por conta dos atores. A reviravolta envolvendo Ruby é um momento chocante, embora se possa afirmar que o relacionamento entre ela e Christina, agora com o benefício de se ver a temporada em retrospecto, acabou não alcançando todo o seu potencial.

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Mas o confronto final do episódio acaba mesmo trazendo uma sensação de vazio, com muitos efeitos visuais e uma decepcionante falta de contexto para as ações dos personagens. De novo, não se pode culpar a série por abraçar a esquisitice e buscar opções narrativas ousadas. Mas quando não se constrói um contexto, quando não se possui um respaldo para o que estamos vendo em tela, temos apenas a esquisitice pela esquisitice, e só ela não sustenta um episódio ou uma história.

PARTES MELHORES DO QUE O TODO

Esse vazio também é agravado pelo fato de que, na reta final, a Christina perdeu um pouco a sua força e acaba não sendo uma antagonista de peso. Ao longo da temporada, os heróis passaram por coisas bem piores – especialmente no episódio anterior – para chegar até aqui, e no fim o confronto com a grande antagonista acaba tendo um sabor de anti-clímax.

Anti-clímax que se estende à maneira como algumas personagens foram tratadas. Gastamos um episódio inteiro vendo Ruby na pele de uma mulher branca. Gastamos um episódio inteiro vendo Hippolyta viajando por várias dimensões e adquirindo conhecimento para ajudar o grupo. Gastamos um episódio inteiro vendo Ji-Ah e seu dilema como criatura sobrenatural. Todos esses episódios, isoladamente, foram ótimos. Mas no confronto final, na hora do vamos ver, Ruby é descartada (a surpresa funciona, mas ainda assim…), Hippolyta não faz nada e Ji-Ah age como um legítimo Deus ex machina, um trunfo na manga dos roteiristas para resolver a parada de maneira arbitrária, só porque o contexto fantasioso da série permite. Uma grande decepção…

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Uma segunda temporada ainda não foi anunciada pela HBO, embora a série tenha ido bem de audiência e crítica. Sem entrar em spoilers, é difícil imaginar para onde a história pode prosseguir a partir daqui, mas não impossível. Caso haja uma segunda temporada, este episódio se configura como um buraco na estrada, um que possibilita a Misha Green reinventar a série e construir uma nova fundação a partir do que deu certo ao longo destes dez segmentos. Mas se for realmente o fim, então a sensação de decepção é até amplificada. Lovecraft Country teve seus baixos, mas os altos foram significativos. Foi uma temporada onde as partes funcionaram melhor que o todo, e uma jornada que valeu a pena fazer. Mas, como em várias jornadas televisivas, a linha de chegada foi cruzada aos trancos e barrancos.

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É isso, pessoal, essa foi a nossa cobertura de Lovecraft Country. Espero que tenham gostado e que esses textos tenham ajudado na apreciação da série. Até a próxima, se cuidem, e continuem assistindo a séries…