Briga dura na mostra competitiva de longas-metragens brasileiros do Festival de Gramado 2020 na categoria ‘documentário insosso’. “O Samba é o Primo do Jazz” sobre Alcione ganhou a pesada concorrência de “Me Chama que eu Vou” sobre Sidney Magal. Dirigido por Joana Mariani (do simpático “Todas as Formas de Amor”), o filme sobre o nosso amante latino preferido é igual uma biografia autorizada: trata tudo de forma superficial e apresenta somente aquilo que interessa ao retratado. 

O início de “Me Chama que eu Vou” é até interessante com uma montagem dinâmica ao utilizar imagens de diversas participações do cantor em programas de televisão ao longo de décadas ao ritmo da canção-título. Depois, entretanto, entra na linha tradicional dos documentários biográficos com infância, a descoberta musical, a carreira e os grandes sucessos, a queda e a retomada. 

Dentro deste panorama de obviedades, fica muito claro que o objetivo de Joana Mariani em consonância, claro, com Magal era mostrar o lado familiar do cantor, mais precisamente, de um marido apaixonado pela esposa e um pai zeloso, facetas pouco conhecidas do galã cigano de hits como “Sandra Rosa Madalena” e “O Meu Sangue Ferve por Você”. Não seria problema caso não ocupasse mais da metade dos 70 minutos do documentário; exceção feita à comovente recordação do filho sobre a saída do Rio de Janeiro, tudo parece ser tão combinado sobre o que seria (e não seria) abordado que os depoimentos não trazem uma força espontânea capaz de nos fazer surpreender ou emocionar. 

“Me Chama que eu Vou” também traz como missão deixar claro que Sidney Magal não foi um astro fabricado por nenhum produtor, sendo seu estilo visual e de se apresentar de autorias próprias. Aqui, Joana até consegue avançar com pequenas provocações como, por exemplo, a crítica feita por Rita Lee ao cantor, o rótulo de brega como uma forma de diminuí-lo e o resgate elitista ocorrido nos anos 2000 que o tornou cult, mas, infelizmente, não há espaço para tanto e, no melhor estilo paz e amor, tudo é abordado rapidamente, sem maiores detalhes e com Magal fugindo pela tangente. 

Mesmo assim, o documentário, pelo menos, guarda bons momentos como o closet tropical de Magal, a trilha sonora com os hits do cantor e um passeio pela história da televisão brasileira. Sobre o prêmio de documentário mais insosso de Gramado 2020, meu voto fica com “Me Chama que eu Vou’. 

‘A Paixão Segundo G.H’: respeito excessivo a Clarice empalidece filme

Mesmo com a carreira consolidada na televisão – dirigiu séries e novelas - admiro a coragem de Luiz Fernando Carvalho em querer se desafiar como diretor de cinema ao adaptar obras literárias que são consideradas intransponíveis ou impossíveis de serem realizadas para...

‘La Chimera’: a Itália como lugar de impossibilidade e contradição

Alice Rohrwacher tem um cinema muito pontual. A diretora, oriunda do interior da Toscana, costuma nos transportar para esta Itália que parece carregar consigo: bucólica, rural, encantadora e mágica. Fez isso em “As Maravilhas”, “Feliz como Lázaro” e até mesmo nos...

‘Late Night With the Devil’: preso nas engrenagens do found footage

A mais recente adição ao filão do found footage é este "Late Night With the Devil". Claramente inspirado pelo clássico britânico do gênero, "Ghostwatch", o filme dos irmãos Cameron e Colin Cairnes, dupla australiana trabalhando no horror independente desde a última...

‘Rebel Moon – Parte 2’: desastre com assinatura de Zack Snyder

A pior coisa que pode acontecer com qualquer artista – e isso inclui diretores de cinema – é acreditar no próprio hype que criam ao seu redor – isso, claro, na minha opinião. Com o perdão da expressão, quando o artista começa a gostar do cheiro dos próprios peidos, aí...

‘Meu nome era Eileen’: atrizes brilham em filme que não decola

Enquanto assistia “Meu nome era Eileen”, tentava fazer várias conexões sobre o que o filme de William Oldroyd (“Lady Macbeth”) se tratava. Entre enigmas, suspense, desejo e obsessão, a verdade é que o grande trunfo da trama se concentra na dupla formada por Thomasin...

‘Love Lies Bleeding’: estilo A24 sacrifica boas premissas

Algo cheira mal em “Love Lies Bleeding” e é difícil articular o quê. Não é o cheiro das privadas entupidas que Lou (Kristen Stewart) precisa consertar, nem da atmosfera maciça de suor acre que toma conta da academia que gerencia. É, antes, o cheiro de um estúdio (e...

‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: apelo a nostalgia produz aventura burocrática

O primeiro “Os Caça-Fantasmas” é até hoje visto como uma referência na cultura pop. Na minha concepção a reputação de fenômeno cultural que marcou gerações (a qual incluo a minha) se dá mais pelos personagens carismáticos compostos por um dos melhores trio de comédia...

‘Guerra Civil’: um filme sem saber o que dizer  

Todos nós gostamos do Wagner Moura (e seu novo bigode); todos nós gostamos de Kirsten Dunst; e todos nós adoraríamos testemunhar a derrocada dos EUA. Por que então “Guerra Civil” é um saco?  A culpa, claro, é do diretor. Agora, é importante esclarecer que Alex Garland...

‘Matador de Aluguel’: Jake Gyllenhaal salva filme do nocaute técnico

Para uma parte da cinefilia, os remakes são considerados o suprassumo do que existe de pior no mundo cinematográfico. Pessoalmente não sou contra e até compreendo que servem para os estúdios reduzirem os riscos financeiros. Por outro lado, eles deixam o capital...

‘Origin’: narrativa forte em contraste com conceitos acadêmicos

“Origin” toca em dois pontos que me tangenciam: pesquisa acadêmica e a questão de raça. Ava Duvernay, que assina direção e o roteiro, é uma cineasta ambiciosa, rigorosa e que não deixa de ser didática em seus projetos. Entendo que ela toma esse caminho porque discutir...