Filme de estreia de Chiwetel Ejiofor (“12 Anos de Escravidão”) na direção, “O Menino que Descobriu o Vento” pode ser descrito como uma parábola. De forma reflexiva, a produção mostra a astúcia e engenhosidade do jovem William Kamkwamba (Maxwell Simba) em usar a ciência para salvar sua comunidade de um dos maiores problemas que assola a África e a humanidade: a fome.

Baseado na autobiografia homônima, “O Menino que Descobriu o Vento” se divide em capítulos, revelando o esforço e toda a curiosidade do jovem. Graças aos esforços dos pais, William consegue ir para escola e, mesmo com todas as dificuldades, ajuda nos afazeres domésticos e nas horas vagas conserta o que aparece pela frente, principalmente, os rádios dos vizinhos. Aqui, Chiwetel Ejiofor deixa claro a importância que o menino tem aqui como personagem vetor de transformação.

O ano é 2001 e a safra prometia ser muito boa, entretanto, por conta de fortes chuvas e de uma enchente, acabou por ser um desastre. Por conta de uma série de fatores – políticos, econômicos e ambientais – a comunidade precisa se preparar para um período de escassez de alimentos.

Chiwetel Ejiofor ilustra muito bem o clima de desamparo vivido pela comunidade. Lá, está o rádio como único meio de informação de uma região isolada no Malawi, criando um desespero em todos caso a bateria do aparelho acabe. Há também as forças econômicas tentando, a todo custo, tirar os moradores do local por preços irrisórios para que possam explorar a madeira dos terrenos. Por fim, há o cruzar de braços do governo ao deixar a população desassistida e só aparecer em época de campanha. Parecido com um certo lugar no hemisfério sul do outro lado do oceano…

ENTRE ACERTOS E TROPEÇOS

“O Menino que Descobriu o Vento” poderia até cair na armadilha da falta de foco, porém, o roteiro também escrito por Chiwetel Ejiofor deixa clara que o foco central da trama é a fome. A busca pelo sustento e o desespero são fruto de todas essas engrenagens que são pinceladas aos olhos de quem está assistindo.

Enquanto o Ocidente está em polvorosa por conta de um atentado terrorista, observe que a comunidade de Will está travando sua própria batalha. Em certo momento o personagem Trywell, pai de Will – interpretado por Chiwetel – alerta que a situação ali tem que ser divulgada para todos, como se a mensagem do filme não deixasse de ser uma denúncia no fim das contas.

Apesar das cores fortes do figurino, a produção disponível na Netflix expõe a riqueza cultural do Malawi de maneira sutil. Isso, inclui, o respeito do design de produção às características de cada religião e também aos costumes. Destaca-se também a fotografia comandada por Dick Pope (“Peterloo” e “Mr. Turner”) suficientemente competente para enriquecer a narrativa.

É uma pena que Chiwetel Ejiofor se entregue a uma conclusão burocrática e tão típica. Até mesmo a trilha sonora muito bem conduzida pelo brasileiro Antônio Pinto ao adotar os sons tribais em boa parte da projeção, acaba recorrendo ao violino clichê de dramalhões para fazer o espectador chorar de qualquer maneira. Pior de tudo: a sequência tinha força suficiente para tanto.

Essa burocracia no fim em prol da comoção mais fácil pode enfraquecer o resultado pra quem busca uma emoção mais genuína. Mas, com certeza, “O Menino que Descobriu o Vento” faria sucesso na Sessão da Tarde.