Com pouco tempo de vida pela frente, dois velhos amigos partem para encontrar e matar um promotor comunista que os prendeu na década de 1950. Essa é a premissa de “Old-Timers”, comédia que teve uma recepção muito calorosa no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary deste ano, onde estreou fora das mostras competitivas. Ao encontrar humor em uma parte sombria da história de seu país, os diretores tchecos Martin Dušek e Ondřej Provazník impressionaram os espectadores com seu novo filme, que tem plena capacidade de cativar plateias internacionais.

Em idade avançada, Vlasta (Jiří Schmitzer) simplesmente já teve o suficiente da vida. Preso a uma cadeira de rodas e aparentemente deixado sozinho no mundo, ele não parece ter muitas razões para continuar vivendo. Uma coisa, no entanto, o mantém acordado durante a noite: a vontade de matar o homem que o mandou para a prisão e o sujeitou a muitos anos de trabalho forçado e tortura.

Com isso em mente, ele procura o amigo Tonda (Ladislav Mrkvička), detido pelo mesmo homem. Como Vlasta, ele está frustrado com a incapacidade do sistema legal de condenar o promotor, mas ele não está interessado em levar essa frustração às últimas consequências. Como deixar o companheiro desamparado é algo fora de cogitação, ele eventualmente concorda em ajudá-lo e ambos embarcam em uma viagem para fazer justiça com as próprias mãos.

Schmitzer e Mrkvička estão perfeitos como os amigos marcados pelo seu passado. Muito do humor do filme deriva da improbabilidade do sucesso da missão. Afinal, é difícil o suficiente para dois caras que mal podem andar rastrear alguém, quanto mais matá-lo. No entanto, o próprio fato de que ninguém espera nada deles acaba sendo a razão pela qual eles conseguem avançar em sua espetacular missão.

DORES E ANGÚSTIAS DO PASSADO

Seria difícil abordar a situação deles sem discutir a política envolvida e o roteiro, também escrito pelos diretores, não se esquiva do assunto. A busca por quem eles veem como culpado de uma tragédia pessoal é apenas uma manifestação do profundo ressentimento que nutrem por seus compatriotas.

Vlata, em particular, não parece ter uma boa opinião sobre a moderna República Tcheca – ele nasceu na então Tchecoslováquia – e vive eternamente magoado pelo fato de que sua prisão teve a cooperação de tchecos e foi executada por eles. Ele chega a revelar a Tonda que, apesar de tudo o que sofreu nas mãos dos russos, essa traição é o que mais o feriu.

Apesar de ser um dos títulos mais engraçados em Karlovy Vary neste ano, o background de Dušek e Provazník em documentários mantém a ação baseada no mundo real e na dor de seus protagonistas. Quando uma reviravolta acontece por volta dos 60 minutos de projeção, ela serve como um lembrete das coisas da vida das quais não podemos escapar. Em sua conclusão, “Old-Timers” demonstra de forma potente a sensação de estar aprisionado e cegado – e toda a angústia que vem com isso.

*O jornalista viajou para o Festival de Karlovy Vary como parte da equipe do GoCritic!, programa de fomento de jovens críticos do site Cineuropa.