Com toda repercussão negativa de séries como ‘13 Reasons Why’ e ‘You’, a Netflix apostou em outra atração jovem sobre transtornos mentais e, mais uma vez, foi na direção errada. Tudo bem, ‘Por Lugares Incríveis’ não chega ao mesmo nível de irresponsabilidade que as outras produções citadas, porém, sua falta de atenção com o fator diferencial em sua história o torna mais um longa esquecível de seu gênero.
Sendo uma adaptação do livro homônimo, o filme apresenta a jovem Violet Markey (Elle Fanning) superando o luto pela morte de sua irmã até Theodore Finch (Justice Smith) aparecer em sua vida. A convivência com o rapaz logo a faz descobrir problemas pessoais que podem colocar em risco o relacionamento de ambos.
Com uma dupla protagonista carismática o longa aposta em um visual marcante para destacar todos os lugares incríveis pelos quais eles passam. Neste sentido, a direção de fotografia é muito importante para fazer com que seus personagens sejam parte daquele cenário, correspondendo muito bem à mensagem final do longa.
Aproveitando o ritmo lento e quase maçante, o roteiro consegue mostrar o desenvolvimento gradual do relacionamento de ambos, sem parecer forçado ou fruto de situações convenientes. Já a trilha sonora faz tudo sozinha muitas vezes que o filme perde a criatividade apelando para cenas repetitivas do casal. O mesmo acontece com seus diálogos, os quais reforçam principalmente a falta de habilidade em lidar com a complexidade apresentada por Finch.
Abordagem irresponsável
Apesar de possuir a autora do livro, Jennifer Niven, como uma das roteiristas, a produção apresenta uma sequência de negligências ao tratar de Finch e seu transtorno de bipolaridade. Isto ocorre principalmente pois em nenhum momento fica explícito no longa o que o personagem realmente enfrenta em seu drama pessoal, sendo explícito somente suas consequências no relacionamento com Violet.
De forma generalizada, o comportamento de Finch é definido como um “humor ruim”, quando na realidade vai bem além disso. É interessante pensar que recentemente ‘Modern Love’ conseguiu abordar de forma muito mais inteligente e responsável a bipolaridade em um episódio com pouco menos de 30 minutos enquanto ‘Por Lugares Incríveis’ leva quase duas horas para construir sua narrativa ainda equivocada.
Mesmo o final do personagem correspondendo ao livro adaptado, no longa temos a impressão que suas escolhas foram um mero problema narrativo sendo resolvido. Entretanto, essa ausência de Finch deixa muitas outras perguntas relacionadas a sua personalidade na cabeça do espectador no final do filme.
Como mais um melodrama adolescente, ‘Por Lugares Incríveis’ apresenta pouca originalidade se comparado com outras produções do mesmo gênero. Seu principal fator de diferenciação é justamente a discussão sobre transtornos mentais, suicídio e luto, a qual poderia ser muito mais rica e densa, porém fica presa ao medo de tornar-se totalmente irresponsável como já foi visto em outras produções do streaming.