Uma citação curiosa é dita durante o filme Privacidade Violada: “Dados podem ser usados como armas”. O documentário produzido e lançado pela Netflix com direção de Karin Amer e Jehane Noujaim analisa com precisão o recente escândalo da empresa de dados Cambridge Analytica, que usou dados pessoais (e na teoria, privados) de assinantes do Facebook para influenciar eleitores nos EUA e Inglaterra, colaborando assim para a eleição de Donald Trump e para a votação do Brexit, que fez a Inglaterra deixar a União Europeia.
Impossível não ficar com medo… O documentário é contado, principalmente, pelos pontos de vista de três figuras: a jornalista Carole Cadwalladr, que investigou e reportou o escândalo no The Guardian; o professor David Carroll, um cidadão comum que entrou na justiça para descobrir quais dados pessoais seus foram compartilhados pelo Facebook com a Cambridge Analytica, sem sua autorização; e Brittany Keiser, a curiosa profissional que começou na campanha de Obama e acabou no centro da divulgação do escândalo da CA, anos depois.
É assustador porque fica muito claro o modo como, para essas empresas, somos apenas produtos. Ou fontes de dados – usados como armas. Em determinado momento, vemos um vídeo institucional da Cambridge Analytica, na qual eles explicam seu processo, testado em pequenos países antes de ser aplicado nos EUA e na Inglaterra. Com os dados pessoais e analisando o perfil das pessoas no Facebook, eles conseguem determinar os “persuasíveis”, aqueles que ainda não decidiram em quem votar em qualquer eleição, e trabalham em cima deles entupindo-os de fake news para fazê-los votar contra ou a favor de determinado candidato. Parece familiar? Ora, é o mesmo processo que ocorreu aqui no Brasil – com o Whatsapp, no caso – que ajudou a eleger o nosso ilustre presidente, especialista em fake news e cocô, Jair Bolsonaro. Ele até aparece em determinado momento do filme, como mais um exemplo mundial do ataque virtual ao processo democrático de vários países.
INFORMAÇÃO COMO ARMA DE CONTRA-ATAQUE À MANIPULAÇÃO
Tudo isso é mostrado de modo bastante envolvente, com uma montagem fluida que alterna entre depoimentos, vídeos jornalísticos e momentos com seus protagonistas; efeitos bem colocados, e uma trilha sonora que não é intrusiva, mas ajuda a compor a emoção desejada pelos diretores Amer e Noujaim. Os realizadores de Privacidade Violada também são inteligentes o bastante para deixarem algumas conclusões a cargo do espectador. Por exemplo, eles não tentam explicar a estranha e meio esquizofrênica figura de Brittany Keiser, que detona o escândalo divulgando informações da Cambridge Analytica desmentindo seu chefe, Alexander Nix, que emerge do documentário como uma figura nefasta. Keiser é contraditória, uma pessoa inteligente que fez o proverbial “trato com o diabo”, mas, mesmo assim, em alguns momentos tenta pagar de vítima – Nix também, a propósito.
Outro que não sai nada bem do documentário é o criador e chefão do Facebook, Mark Zuckerberg, e a maioria das pessoas deve ter lembrança do seu depoimento com cara assustada no Congresso americano, no qual ele não convenceu ninguém quando tentou livrar sua empresa no envolvimento da violação de privacidade de milhares dos seus clientes. Privacidade Violada deve, no mínimo, fazer você repensar seu relacionamento com as redes sociais, especialmente o Facebook.
De todos os personagens do documentário, o mais relatável é mesmo Carroll, que fez algo que qualquer cidadão do mundo com perfil no Facebook poderia fazer: exigir que tal corporação faça jus aos seus próprios termos de segurança, se puder. É dele a constatação no documentário de que não se pode viver sem as redes sociais, mas é preciso estar atento e vigilante, e desconfiar de tudo veiculado nelas. É preciso estar com medo, sim: medo nos deixa alertas. Mesmo assim, é triste perceber como os acontecimentos recentes na política mundial põem em dúvida se ainda é possível realmente ter confiança na democracia.
Porém, existe também o medo num nível mais básico e microscópico: é muito triste e terrível ver como o ser humano pode ser tão facilmente manipulável. Gostamos de nos ver como especiais e diferenciados, mas será que somos mesmo? Ou alguém, em alguma empresa de tecnologia da informação, já classificou a todos nós em meia dúzia de categorias (se tanto), e já sabe que “armas” usar contra nós, para nos fazer pender para este lado ou aquele? Privacidade Violada é um filme necessário para os nossos tempos, e não só para cidadãos norte-americanos ou britânicos, e é com informação que se pode contra-atacar, criar armas para nos defender também.
Planfetagem clara de perdedores. Não use o facebook como eu e pronto.
Estava buscando material para um trabalho da faculdade de Direito, na cadeira de Dir. da Informática quando me deparei com a matéria de Ivanildo Pereira aqui no Cineset. Porém, quando comecei a ler e me deparei com a opinião pessoal do autor contaminando o conteúdo de forma parcial, e com a mesma jocosidade de quem critica me fez perder a credibilidade na matéria, no autor e no site e procurar outro portal de conteúdo que se dedique a análise do assunto, deixando opiniões particulares para outras mídia.
Segue trecho do texto: “…especialista em fake news e cocô, Jair Bolsonaro”.
Pena não poder anexa a imagem, mas a tenho guardada, caso o autor, ou mesmo o portal, classifiquem este poste como “fake News”.