Seguindo o estilo de ‘O Relatório’, a Amazon apresenta mais um longa baseado em fatos totalmente protocolar e com pouca originalidade. ‘Seberg Contra Todos’ até possui um forte e atrativo argumento, entretanto, a condução exagera em momentos óbvios e personagens superficiais. E, neste caso, nem todos os esforços de Kristen Stewart como protagonista conseguem retratar a história de forma interessante ao público.

“Seberg Contra Todos” reproduz o envolvimento de Jean Seberg (Kristen Stewart) com grupos ativistas de direitos civis na década de 1960. Como um dos rostos símbolos da Nouvelle Vague francesa, a atriz do clássico “Acossado”, de Jean-Luc Godard, desembarca nos Estados Unidos no auge de sua popularidade sendo cercada por polêmicas devido ao seu apoio a Hakim Jamal (Anthony Mackie) e os Panteras Negras. Logo, ela passa a ser monitorada pelo FBI por supostamente ajudar o financiamento dos ativistas, situação que interfere diretamente em sua vida pessoal e profissional.

Com uma história extremamente rica em mãos, o diretor Benedict Andrews (“Una”) adota vários caminhos óbvios ao mostrar a vida de Seberg. Para começar, pouco é mostrado sobre a carreira da atriz e sua importância no cinema francês. Tal oportunidade poderia inclusive render uma bela homenagem a Nouvelle Vague, mesmo não sendo o principal foco da produção.

Já no que seria o forte do filme, ou seja, o ativismo de Seberg, a protagonista é sufocada por diversos personagens clichês. Além de seu affair com Jamal, a existência do agente Jack Solomon (Jack O’Connell) extremamente dividido entre a ética e o dever de seu trabalho somente mostram a falta de originalidade em lidar com essa história.

Tanto no caso de Jamal quando de Solomon, suas respectivas esposas aparecem na trama primordialmente para demonstrar os ciúmes que sentem em relação a Seberg. Desta forma, Margaret Qualley e Zazie Beetz ficam restritas a posição de figurante de luxo.

Os contrapontos positivos

Se, por um lado, o longa falha em retratar a carreira e ativismo de Seberg, por outro, ele acerta ao focar na fragilidade mental da personagem após ser perseguida pelo FBI. Benedict Andrews realmente opta por seguir a protagonista como ponto central da narrativa e mostrar que, mesmo sendo uma figura pública, ela não está imune ao controle governamental.

Para coroar esta escolha, Kristen entrega uma grande atuação, sendo o principal mérito de “Seberg Contra Todos” já que ela consegue levar a história para frente quando aparentemente tudo já foi visto. Apesar deste não ser um glorioso longa em sua carreira, é um ótimo passo em sua consolidação como atriz.

No mais, a produção apresenta uma direção de fotografia que não é o melhor trabalho de Rachel Morrison (“Mudbound”) e fraca trilha sonora como outros pontos negativos. Mesmo com boas intenções e mais uma ótima atuação de Stewart, ‘Seberg Contra Todos’ fica refém de seu roteiro demasiadamente tradicional, parecendo a intenção do que seria um grande filme.

‘Ghostbusters: Apocalipse de Gelo’: apelo a nostalgia produz aventura burocrática

O primeiro “Os Caça-Fantasmas” é até hoje visto como uma referência na cultura pop. Na minha concepção a reputação de fenômeno cultural que marcou gerações (a qual incluo a minha) se dá mais pelos personagens carismáticos compostos por um dos melhores trio de comédia...

‘Guerra Civil’: um filme sem saber o que dizer  

Todos nós gostamos do Wagner Moura (e seu novo bigode); todos nós gostamos de Kirsten Dunst; e todos nós adoraríamos testemunhar a derrocada dos EUA. Por que então “Guerra Civil” é um saco?  A culpa, claro, é do diretor. Agora, é importante esclarecer que Alex Garland...

‘Matador de Aluguel’: Jake Gyllenhaal salva filme do nocaute técnico

Para uma parte da cinefilia, os remakes são considerados o suprassumo do que existe de pior no mundo cinematográfico. Pessoalmente não sou contra e até compreendo que servem para os estúdios reduzirem os riscos financeiros. Por outro lado, eles deixam o capital...

‘Origin’: narrativa forte em contraste com conceitos acadêmicos

“Origin” toca em dois pontos que me tangenciam: pesquisa acadêmica e a questão de raça. Ava Duvernay, que assina direção e o roteiro, é uma cineasta ambiciosa, rigorosa e que não deixa de ser didática em seus projetos. Entendo que ela toma esse caminho porque discutir...

‘Instinto Materno”: thriller sem brilho joga no seguro

Enquanto a projeção de “Instinto Materno” se desenrolava na sessão de 21h25 de uma segunda-feira na Tijuca, a mente se esforçava para lembrar da trama de “Uma Família Feliz”, visto há menos de sete dias. Os detalhes das reviravoltas rocambolescas já ficaram para trás....

‘Caminhos Tortos’: o cinema pós-Podres de Ricos

Cravar que momento x ou y foi divisor de águas na história do cinema parece um convite à hipérbole. Quando esse acontecimento tem menos de uma década, soa precoce demais. Mas talvez não seja um exagero dizer que Podres de Ricos (2018), de Jon M. Chu, mudou alguma...

‘Saudosa Maloca’: divertida crônica social sobre um artista boêmio

Não deixa de ser interessante que neste início da sua carreira como diretor, Pedro Serrano tenha estabelecido um forte laço afetivo com o icônico sambista paulista, Adoniram Barbosa. Afinal, o sambista deixou a sua marca no samba nacional dos anos 1950 e 1960 ao...

‘Godzilla e Kong – O Novo Império’: clima de fim de feira em filme nada inspirado

No momento em que escrevo esta crítica, caro leitor, ainda não consegui ver Godzilla Minus One, a produção japonesa recente com o monstro mais icônico do cinema, que foi aclamada e até ganhou o Oscar de efeitos visuais. Mas assisti a este Godzilla e Kong: O Novo...

‘Uma Família Feliz’: suspense à procura de ideias firmes

José Eduardo Belmonte ataca novamente. Depois do detetivesco – e fraco – "As Verdades", ele segue se enveredando pelas artimanhas do cinema de gênero – desta vez, o thriller domiciliar.  A trama de "Uma Família Feliz" – dolorosamente óbvio na ironia do seu título –...

‘Donzela’: mitologia rasa sabota boas ideias de conto de fadas

Se a Netflix fosse um canal de televisão brasileira, Millie Bobby Brown seria o que Maisa Silva e Larissa Manoela foram para o SBT durante a infância de ambas. A atriz, que alcançou o estrelato por seu papel em “Stranger Things”, emendou ainda outros universos...