As relações líquidas têm sido tema de diversas narrativas audiovisuais e parte disso é alimentada pela projeção das redes sociais. Por mais que a internet faça parte do nosso cotidiano, a forma como ela alterou as nossas vidas é algo que desperta curiosidade. Partindo dessa premissa, Pedro Harres traz “Submeso”, animação que conta a história de Hans, um homem de meia-idade que busca uma parceira pelos aplicativos de relacionamento.

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O diretor brinca com conceitos debatidos nas ciências sociais e utiliza a linguagem popular da internet – sim, memes – para demonstrar como os relacionamentos e as pessoas mudaram devido à rede. Harres cria cenas inteligentes e eficazes em causar identificação do público. Torna-se até um pouco inevitável não se constranger ou rir, por exemplo, no momento em que uma enxurrada de gatos caricatos o ataca, semelhante ao que acontece em muitos feeds.

Para mostrar como as relações funcionam em uma cadeia de liquidez, “Submerso” faz analogia da água. As interações do personagem ocupam o meio aquático, seja a piscina ou o oceano. Neste processo, a sensação é de que tudo o que envolve Hans é ilusório, o que acaba por criar sua própria versão do jogo dos tronos, ou seja, “quando você se relaciona na internet, você joga ou você é engolido”. O diretor utiliza uma maré de memes para indicar como o ambiente é desconfortável a quem não se habilita a participar. E o recado é notório: a vida na internet é superficial.

HANS EM TODOS NÓS

Os detalhes da animação chamam atenção: a cenografia exibe um ambiente tecnológico no qual as paredes sempre relembram que você está imerso na própria rede de computadores. Já a fotografia de Jana Pape demarca os estágios do personagem dentro do aplicativo de relacionamentos. Enquanto ele não se situa, as cores são escuras tendendo para o azul, entretanto, no único momento em que se permite aproveitar a situação, há uma explosão de cores quentes.

Outro elemento que se destaca é a trilha sonora, responsável por trazer uma incômoda sensação de conforto. Ela consegue ser atemporal, pois navega da década de 80 até anos mais recentes com referências sonoras perceptíveis.

“Submerso” é uma produção que causa reflexão. Pedro Harres constrói um conto inusitado sobre as relações contemporâneas. Há um cuidado em projetar elementos que causem identificação ao mesmo tempo em que despertam inquietações. A verdade é que há um pouco de Hans em todo mundo, mas alguns conseguem se guiar pelo farol, enquanto outros são sugados pelo mar.