Lembro na infância ter visto em uma revista de curiosidade cientificas, a manchete assustadora de que o Sol iria morrer e engoliria a Terra antes do processo. Nos altos dos meus 10 anos, fui ler a matéria e me tranquilizei ao constatar que isso levaria muito tempo, algo em torno de bilhões de anos.

Agora, para minha surpresa, a China lança um blockbuster abraçando esse tema como plot principal e o melhor: “Terra à Deriva” está na terceira colocação das bilheterias internacionais – atrás apenas de “Capitã Marvel” e “Vingadores: Ultimato”. O mais curioso é que o filme basicamente se manteve como campeão de bilheteria com a arrecadação de seu país de origem, justificando a importância dada pelos estúdios de Hollywood para o mercado chinês.

Apesar do sucesso astronômico e do visual absurdamente caprichado de dar inveja a muita produção ianque, “Terra à Deriva” cai nas mesmas armadilhas dos seus colegas de gênero com roteiro previsível, soluções derivadas de qualquer filme catástrofe de Roland Emmerich (“2012”, “Um Dia Depois do Amanhã”) e cópias visuais descaradas de  “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, “Aliens”, “Distrito 9” e “Elysium”.

Mas vamos a história: em um futuro distante, desastres naturais prenunciam o apocalipse: o Sol está morrendo e, no processo antes de sua extinção, a estrela engolirá alguns planetas do sistema, entre eles, a Terra. Para tanto, os cientistas planejam uma missão para salvar a humanidade: liderada pelo astronauta Liu Peiqiang (Jing Wu), uma estação espacial com o apoio de propulsores tenta tirar o planeta de órbita e afastá-lo do Sistema Solar até encontrar um mais próximo e estabelecer “residência”.

Depois de um primeiro ato com uma longa introdução, “Terra à Deriva” se estabelece 17 anos depois do início da missão, quando a Terra está próxima de Júpiter. Quando um terremoto quebra os propulsores, a Terra começa a entrar em rota de colisão com o maior planeta do sistema solar, levando um grupo de soldados e cientistas a precisar consertar os equipamentos para evitar uma tragédia.

Como citei parágrafos acima, o esmero visual é o maior trunfo da produção. Feito em parceria com a poderosa Weta (“O Senhor dos Anéis”), o diretor Frant Gwo utiliza muito bem as panorâmicas e explora seus cenários sem pena, o que é uma decisão acertada e entrega alguns dos planos mais belos desse ano seja em um passeio por uma Terra congelada ou uma escalada por um poço de elevador. O design de produção ainda colabora para tornar os efeitos visuais ainda mais impressionantes.

Por toda a beleza estética, chega a entristecer ver “Terra à Deriva” diminuído por um roteiro chinfrim. Com o cinema asiático atual cheio de filmes memoráveis, é uma pena que a China não seguiu o exemplo dos países vizinhos e usou a oportunidade para mostrar que também sabe fazer cinema em grande escala sem apelar para que os americanos fazem de pior. Adaptação do conto do escritor Liu Cixin, o roteiro perde-se com personagens aborrecidos, sem carisma e excessos de conceitos de pseudo-ciência. Se você prestar atenção, com certeza, vai adivinhando tudo que vai acontecer com bastante antecedência.

Se tivesse meia hora a menos e menos vontade de parecer inteligente, “Terra à Deriva” tinha tudo para ser mais dinâmico e despretensioso, tornando-se, de fato, uma ficção científica muito mais divertida.