The Eddy, a minissérie da Netflix sobre o submundo de Paris visto pelos olhos dos músicos do clube de jazz do título, tem muitas qualidades a seu favor. Tem um ótimo elenco: André Holland de Moonlight (2016), Joanna Kulig, de Guerra Fria (2018) e Tahar Rahim de O Profeta (2009) fazem os personagens principais. Dentre os produtores, está o cineasta vencedor do Oscar Damien Chazelle, de Whiplash (2014), La La Land (2016) e O Primeiro Homem (2018). E mesmo com esses elementos a favor, o resultado… bem, é simplesmente chato.
Chazelle dá o tom dirigindo os dois primeiros episódios. De cara, somos arremessados no universo do clube de jazz The Eddy, que já viveu dias melhores – como todos os clubes de jazz da ficção, não é mesmo? O dono, Elliot (Holland), está sob tensão, tentando atrair público e artistas de destaque para tocar com a sua banda – no passado, ele foi um pianista de sucesso, mas interrompeu a carreira por uma tragédia pessoal. Ele e a vocalista, Maja (Kulig), tiveram um caso no passado. As coisas pioram quando Elliot descobre que seu braço direito no clube, Farid (Rahim), está envolvido com uns bandidos da pesada. Quando uma figura importante do The Eddy é assassinada, as vidas de todos os personagens passam a ser afetadas, ao mesmo tempo em que Elliot começa a ser pressionado pela polícia e pelos criminosos.
Apesar do nome do diretor de La La Land ser o chamariz para o público, as principais forças criativas do seriado são os produtores Jack Thorne e Glen Ballard, que contribuem para o ecletismo da produção. Thorne é o verdadeiro criador da série, e também roteirizou filmes como Extraordinário (2017) e The Aeronauts (2019), além de ter feito a adaptação para o teatro de Harry Potter and the Cursed Child. Thorne queria escrever sobre Paris e jazz, e se aliou a Chazelle e Ballard, este último responsável por quase todas as canções ouvidas no seriado. Ballard entrou para a história da música ao produzir o primeiro disco da cantora Alanis Morrisette, o megassucesso Jagged Little Pill (1995) e, de lá para cá, trabalhou com grandes artistas. As canções originais ouvidas em The Eddy são bem boas – destes três colaboradores, Ballard foi o que realizou o melhor trabalho.
Chazelle dirige seus episódios com uma câmera sempre na mão, tremida e tensa, o que se torna parte do estilo visual da série nos episódios subsequentes – felizmente, os diretores seguintes pegam mais leve na tremedeira. E os atores se mostram bem competentes nas interpretações: Holland é interessante – e não deixa de ser divertido vê-lo sendo dirigido por Chazelle, depois da confusão entre Moonlight e La La Land no Oscar 2017; Kulig canta bem de novo e Rahim se mostra carismático e poderia até aparecer mais. Além deles, Amanda Stenberg como a filha de Elliot e Leïla Bekthi como a esposa de Farid – e esposa de Rahim na vida real – também se destacam com seus bons trabalhos ao longo dos episódios.
EXPERIÊNCIA CANSATIVA
O que impede The Eddy de realmente encantar são os roteiros. Estruturalmente, cada um dos oito episódios é dedicado a um personagem em particular e seus dramas, enquanto a trama principal com Elliot e o mistério do assassinato prosseguem. O problema é que esses dramas não são assim tão interessantes ou envolventes. O que vemos são problemas de relacionamento entre pai e filha, ou românticos, coisas que já vimos antes milhares de vezes. O terceiro episódio é quase que inteiramente dedicado ao velório do personagem que morre, e embora seja compreensível que os personagens da série sintam a falta dele, pouco vimos desse personagem em tela para justificar tanto tempo gasto com a sua despedida. Não há nenhuma urgência na narrativa e o que vemos é clichê e igual a centenas de outros seriados e filmes, apesar do esforço do elenco.
A trama principal, com Elliot, também é conduzida a passo de tartaruga – ele próprio, com seu mau humor e introspecção, também não é um protagonista assim tão atraente, deixando a série com um buraco no centro na maior parte do tempo. E para piorar, o fim é bem manipulador e decepcionante. De maneira curiosa, algumas pontas importantes ficam soltas, talvez na expectativa de renovar a série para uma segunda temporada. O que é propaganda enganosa, visto que a Netflix anuncia The Eddy como minissérie, mas não entrega um desfecho satisfatório.
Apesar da boa música e de bons momentos isolados aqui e ali, The Eddy acaba sendo uma experiência frustrante, ainda mais tendo em conta o talento envolvido. Há várias cenas de Elliot criticando a sua banda no decorrer dos episódios, e ele é um patrão chato e exigente. Se os produtores e roteiristas de The Eddy tivessem sido tão exigentes com eles mesmos, talvez a minissérie (ou série?) que eles criaram conseguisse colocar no palco um show realmente interessante.
Estranho o subtítulo da crítica “JAZZ SEM RITMO E ARRASTADO SUFOCA MINISSÉRIE”, pois, justamente, o autor da crítica elogia a música e fala mal da trama e andamento dos episódios. Não seria melhor “trama clichê e arrastada sufoca a excelente música da série”?