Após a adaptação bem-sucedida da primeira temporada, ‘The Umbrella Academy’ dá continuidade à sua história se distanciando dos quadrinhos, mas, se aproximando da realidade com tramas sobre racismo e homofobia. Além de buscar maior engajamento com o público, o showrunner Steve Blackman aproveita a segunda temporada da série para elevar seus pontos positivos e construir personagens de forma coerente, criando uma temporada tão boa quanto a primeira.
Em termos de construção narrativa, ‘The Umbrella Academy’ continua a seguir uma fórmula principal: todos os heróis da família Hargreeves começam a temporada separados e se juntam para impedir o fim do mundo. Embora a proposta não anime tanto quanto a primeira vez, os dez episódios fazem questão de se distanciar dos erros cometidos anteriormente. Assim, esta segunda temporada não se prende nem ao passado, muito menos às limitações em adaptar uma HQ, criando um novo olhar sobre ‘Dallas’, de Gerard Way e Gabriel Bá. Entretanto, sua essência futurista com personagens disfuncionais é elevada pelo forte visual dos anos 1960 ao som da trilha sonora eficaz.
Tramas mais interessantes
Ao viajarem no tempo para corrigir seus erros, os irmãos Hargreeves se perdem no início dos anos 1960, voltando a se encontrar dias antes do assassinato do presidente Kennedy. Assim, presentes em diferentes núcleos, os personagens apresentam evoluções consideráveis e tramas individuais mais interessantes que anteriormente. Exemplo disto é a história de Allison (Emmy Raver-Lampman) como ativista contra o racismo, assim como Vanya (Ellen Page) e Klaus (Robert Sheehan) lidam com romances LGBTs e a homofobia quando tais denominações nem sequer existiam.
Por outro lado, Diego (David Castañeda), Luther (Tom Hopper) e Cinco (Aidan Gallagher) continuam presos na dinâmica familiar. Mas, ao menos, os três conseguem render ótimas cenas de ação e, assim como todo elenco, esbanjar uma dinâmica familiar interessante em momentos que alternam entre a tensão dramática e o humor desajeitado dos personagens. Assim, tanto em questionamentos pessoais quanto em relação a seus superpoderes, a Umbrella Academy consegue evoluir aos olhos do público.
Já no que diz respeito aos vilões da série não existe tanta originalidade, salvo por Kate Walsh, a qual além de se manter interessante também conta com figurinos belíssimos e únicos. Ademais a personagem, Lila (Ritu Arya) e o trio assassinos suecos não anima tanto quanto o desejado, criando apenas empecilhos na história. Mas, olhando pelo lado efetivo de quem realmente causou mais danos aos personagens e atingiu diretamente suas histórias, o próprio Reginald Hargreeves e seu posicionamento como um pai exigente definitivamente é um bom contraponto ao grupo de heróis.
Melhor que a primeira temporada?
Apostando em outra época, o visual adotado é marcante e totalmente imersivo com direito a cenários, figurinos e efeitos visuais exemplares. Esse último quesito inclusive é muito importante para adaptar elementos mais futuristas e surreais da HQ como o personagem AJ e os poderes de Vanya. Isso, é claro, sem contar com o grande uso dos efeitos em cenas de luta sem deixar um aspecto robotizado ou irreal.
Por sua vez, as cenas de ação sempre são fortemente marcadas pela direção de fotografia dinâmica, seguindo movimentos corporais dos personagens, e pela constante trilha sonora. Esse segundo elemento também é utilizado como forma de popularizar a série entre o público ao apresentar covers de artistas como Billie Elish e Adele, apelando também com canções originais da banda Kiss, Frank Sinatra e Aretha Franklin. A trilha é encarada de forma tão importante para a série que também vai para os diálogos de Klaus como ensinamentos para sua seita, rendendo até mesmo a grande sequência ao som de ‘everybody’ dos Backstreet Boys.
De assassinatos ao som pop dos anos 1990 a cenas de protestos antirracistas, a segunda temporada de ‘The Umbrella Academy’ possui uma qualidade difícil de ignorar devido a narrativa que dialoga com diferentes tipos de espectadores. Ao melhorar os elementos utilizados anteriormente, a produção mantém um ritmo digno de maratona, sem ficar preso somente a um ou dois personagens, criando um incrível quebra-cabeça para ser desvendado da forma mais problemática, disfuncional e prazerosa possível.