Quando falamos de diferentes produções sobre uma história no cinema sempre buscamos uma versão definitiva, a mais completa ou melhor idealizada. Assim, um personagem tão famoso como Peter Pan logo ganhou destaque em diferentes filmes e, desta vez, o diretor Benh Zeitlin, consagrado por ‘Indomável Sonhadora’, coloca o menino que não queria crescer em segundo plano para apresentar ‘Wendy’. Apesar de ser uma grande oportunidade para reafirmar a estética de Zeitlin, o longa torna-se uma versão menos interessante do que já foi visto sobre a Terra do Nunca anteriormente.
A história apresenta a personagem-título Wendy (Devin France) como uma menina normal, que vive uma rotina simples, ajudando a mãe com seu restaurante. Entretanto, ela e seus irmãos gêmeos constantemente reafirmam a vontade em realizar aventuras, a qual se idealiza quando os três decidem pular a bordo de um trem com o jovem Peter (Yashua Mack) para uma ilha onde ninguém envelhece.
Mesmo sendo a protagonista da história, Wendy ainda possui um Peter para se apoiar, porém, seu protagonismo é desenvolvido gradualmente, apoiado principalmente na relação com seus irmãos. Com essa proposta mais realista da história clássica, o longa consegue adaptar bem elementos originais como nomes, cenas memoráveis e até mesmo o desenvolvimento do Capitão Gancho como vilão.
Entre a fantasia e realidade
Apesar de não ser tão cativante quanto o longa anterior de Zeitlin, ‘Wendy’ consegue destacar pontos fortes do diretor: tramas infantis e a fantasia misturada com realidade. Neste sentido, o protagonismo infantil é realmente bem aproveitado já que o elenco escolhido é intrigante e igualmente carismático. Já a fantasia torna-se apenas um detalhe, afinal, a proposta apresenta uma versão realista de Peter Pan, porém, sem deixar elementos fundamentais de lado.
Entretanto, o problema envolvendo os elementos fantasiosos começa a partir da escolha de limitar a magia apenas na criação de problemáticas, existindo poucos momentos de apreciação ou mesmo fuga da realidade. Isso poderia até mesmo permitir ao espectador respirar um pouco durante os consecutivos plots twists que são apresentados. Algumas reviravoltas até são interessantes e contribuem simbolicamente para a evolução de seus personagens, entretanto, o timing é bem problemático pois um plot se sobrepõe ao outro sem dar tempo para o espectador realmente se surpreender.
Na tentativa de equilibrar a fantasia com realidade, Zeitlin trabalha elementos adultos em uma trama protagonizada por crianças. A proposta, entretanto, não funciona como o esperado, assim, temos um filme interessante para o público infantil até uma cena de mutilação. Já para o público adulto, a trama não possui questionamentos mais tangíveis ou necessários, sempre apresentando uma discussão superficial.
Desde que ‘Indomável Sonhadora’ foi destaque em diversas premiações, incluindo o Oscar, Benh Zeitlin tornou-se um diretor para acompanhar de perto. Infelizmente, ‘Wendy’ não se tornou a melhor escolha para seguir o sucesso e capacidade do diretor. Entretanto, mesmo sem explorar seu potencial totalmente, o longa permanece fiel ao estilo de Zeitlin, característica que pode voltar a render bons frutos em breve.