Divertida Mente, o novo longa da Pixar, chega ao Brasil em meio à onda de elogios que fez da produção a mais aclamada do estúdio desde Toy Story 3 (2010). Ótima notícia para os que nunca duvidaram da capacidade da trupe de surpreender e encantar, e que, mesmo ao fazer filmes para vender brinquedos, como Carros 2 (2011) ou Universidade Monstros (2013), os investe de um capricho que deixa no chinelo as produções mais ambiciosas das produtoras rivais.

Até os críticos mais cascudos, porém, hão de concordar que, num aspecto, a Pixar nunca nos desapontou: os curtas. Não bastasse a atuação decisiva para os rumos da animação nas últimas duas décadas – entre outras coisas, a empresa criou os padrões da animação em CGI –, a Pixar também tem o mérito de ressuscitar uma prática já esquecida da Sétima Arte: a exibição de curtas-metragens antes do filme principal.

Curtas da Pixar: O Jogo de Geri (1998)

Começando com O Jogo de Geri (1998), que vinha antes de Vida de Inseto, os curtas da Pixar criaram uma prática que se estendeu às demais produções da Disney, influenciando inclusive as da rival DreamWorks, com seus especiais televisivos de Shrek, Madagascar e Kung Fu Panda. Remetendo aos esquetes da dupla Laurel/Hardy (os populares O Gordo e o Magro, aqui no Brasil) ou do genial (e também esquecido) Robert Benchley, os curtas da Pixar não são só fofinhos e engraçados – eles também permitem à companhia experimentar com narrativa e recursos, e vão desde a ironia de Seu Amigo, o Rato (2007) ao deslumbramento visual de Dia e Noite (2010).

O que pouca gente lembra é que os curtas já foram, um dia, a razão de ser da empresa. Criada em 1979 como um desdobramento da divisão de efeitos especiais da Lucasfilm, a Pixar era especializada na criação de softwares para animação digital. Os curtas, assim, eram uma espécie de balcão de efeitos, e seus primeiros filmes, apesar do mérito pioneiro, eram obras despretensiosas, até primitivas.

A partir de O Sonho de Red (1987), porém, o pendor cinematográfico do diretor de criação, John Lasseter, começa a se fazer notar. A trama sombria, com um final desolador, já mostra bem a independência e ousadia que marcaria os futuros longas da produtora. Grande admirador do japonês Hayao Miyazaki (Meu Amigo Totoro, A Viagem de Chihiro), Lasseter assumiu a liderança da equipe na transação que levou a Pixar da Luscasfilm à esfera de Steve Jobs (sim, o homem). Essa primeira fase, marcada por crescente sofisticação técnica, se encerra com o divertido Knick Knack (1989). Com todas as energias voltadas para o futuro Toy Story, projeto esboçado em 1991, na histórica parceria com a Disney, a Pixar só retomaria os curtas com o espetacular Geri. A iniciativa, bastante aclamada, daria o sinal verde para o estúdio soltar a imaginação em dezenas de outros shorts, vários dos quais entrariam, fácil, numa lista de melhores do gênero.

Curtas da Pixar: Parcialmente Nublado (2009)

Até o momento, temos dois volumes de curtas da Pixar, com o nome de Pixar Short Films Collection, ambos fáceis de se encontrar no Brasil. Para ficar só nos highlights, temos o divertidíssimo Quase Abduzido (2006), com a história de um alien adolescente encarando a autoescola de óvnis, o vibrante Dia e Noite (2010), que mescla 2D e 3D de forma extremamente criativa, o sereno e encantador La Luna (2012) e os fofos Pular (2004) e Parcialmente Nublado (2009). De interesse especial, para os fãs, são aqueles filmes ambientados no mundo dos longas consagrados da produtora, como o ágil Seu Amigo, o Rato (2007), oriundo de Ratatouille (mesmo ano), e Férias no Havaí, hilário filhote de Toy Story 3 (2010).

Diante da fenomenal qualidade e variedade exibida nessas pequenas peças, como cápsulas ou miniaturas da genialidade que o time americano vem mostrando e ainda parece ter de sobra (La Luna é de 2012, recente o suficiente para desconsiderarmos O Guarda-Chuva Azul, de 2013, que, apesar das inovações técnicas, é pouco mais do que um filme fofinho), é justo esperar por novas maravilhas nos próximos anos. Que venham Divertida Mente e seu novo curta. E que o restante do cinema também abrace essa ideia, enriquecendo a si próprio com todas as possibilidades que existem em cinco minutos de imaginação solta.

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