Há bastante tempo atrás, quando o Cine Set ainda era Set Ufam, fui convidado pelo criador e diretor do programa (antes da existência do blog, o Set Ufam era um programa de TV exibido na TV Ufam), Caio Pimenta, para escrever resenhas no blog. Nem hesitei muito em aceitar o desafio, pois desde sempre o Set Ufam teve um papel importante demais na minha vida universitária, sendo certamente responsável pelas minhas melhores recordações dessa fase da vida.Era recém-chegado na Ufam, louco de vontade de conhecer como funcionava um programa de televisão, com o sonho de ser apresentador, ser famoso, e desfrutar dos benefícios que a fama proporciona. Certo dia, uns veteranos chegam na sala dizendo que vão gravar um vídeo pra um programa de cinema, e que precisam de figurantes. Nossa, foi uma felicidade! Logo de cara me ofereci pra fazer parte da gravação, e participei alegremente dela, como se tivesse na Disneylândia.

Como fiz de tudo pra chamar a atenção durante o vídeo, os rapazes responsáveis pelo programa me chamaram para outras gravações, não porque gostaram de mim (até porque isso era bem difícil naquela situação devido a minha empolgação pueril), mas porque encontraram uma pessoa que se disponibilizava a fazer o que fosse necessário para que o material fosse gravado. E achava aquilo o máximo, pois eles pareciam super-profissionais, divertidos, e eu morria de vontade de ser incluído no time.

Uma nova temporada do programa ia acontecer, e novos apresentadores seriam selecionados. Fiz o teste, e não passei. Não fiquei chateado, pois as aprovadas, Camila Baranda e Juliana Teles, eram, sem dúvida alguma, extremamente qualificadas, e o tempo provou isso de maneira categórica, basta ver o sucesso que as duas, em tão pouco tempo, já estabeleceram em suas carreiras. Mas depois disso, fazia sempre participações no programa, e participei de praticamente todas as outras edições do mesmo.

Eu, assim como todos os outros membros da equipe, nunca ganhei nenhum centavo pelo trabalho feito, mas isso era de longe a coisa menos importante da questão, pois estava fazendo uma coisa que amo, que é falar sobre cinema.

O programa de TV acabou, restou apenas o blog, e me afastei por um tempo dele. E, como disse no início do texto, não hesitei em voltar a trabalhar com os, agora, amigos.

Porém, nesse meio tempo, muita coisa aconteceu comigo. Apesar de fazer parte do Set Ufam, nunca tinha tido o hábito de ver filmes. Ia ao cinema de vez em quando, assistia alguns filmes na televisão, mas não tinha uma visão iniciada da arte, como os meus colegas de programa tinham.

Claro que não sabia disso na época. Aliás, nunca tinha parado pra pensar sobre o assunto, achava que um filme era bom porque sim, e não era bom porque não, nunca tinha tido a curiosidade de ver filmes fora da estética norte-americana, fora do circuito comercial, pois já ia com o preconceito de que seria chato se propor a isso.

Bom, a mudança veio quando comecei a levar minha carreira de ator mais a sério. Faço teatro desde 2009, mas só depois de buscar a teoria, técnicas de interpretação, escolas dramáticas, e levar o assunto muito a sério, é que ele realmente começou a fazer sentido pra mim. E a partir desse momento, um novo mundo se abriu. Os ídolos de antigamente empalideceram-se, os filmes que antes pareciam divertidos tornaram-se óbvios, e a revisita a determinados filmes que não gostava proporcionou uma deliciosa mudança de opinião.

Percebi como havia perdido tempo até aquele momento, que tinha desperdiçado uma série de experiências por estar repleto de certezas juvenis, e que havia um universo incomensurável diante dos meus olhos, e que eu nunca havia sequer arranhado a sua superfície. Desse dia em diante, passei a ver muito, muito mais filmes, participar de cursos de cinema, oficinas, e ler críticas, muitas críticas para poder conhecer mais sobre linguagem cinematográfica. E me sinto realmente orgulhoso, pois depois de alguns anos, meu interesse por cinema só aumenta.

Desse momento em diante, a minha relação com a arte mudou, minha personalidade mudou, e minha vida também. E então veio esse tal convite do Set Ufam, e sabia que daquele momento em diante a minha relação com o blog seria muito diferente da que havia existido anteriormente, e isso me estimulava, me deixava curioso pra saber o que iria acontecer.

Tudo caminhava de maneira tranquila, apesar de possuir um bom número de acessos, o blog não tinha tanta repercussão, e as críticas quase sempre rendiam um baixo número de comentários.

Até que conseguimos um espaço no D24AM, e o Set Ufam virou Cine Set. E… tudo mudou.

Nossos acessos multiplicaram-se em não sei quantas vezes, e o que antes era um blog despretensioso, acabou se tornando um veículo de opinião cinematográfica dentro de um dos sites mais acessados da região norte do Brasil.

Isso, sem dúvida, representou um impacto na nossa atividade, mas desde sempre o Caio Pimenta nos deu total autonomia para escrever nossas opiniões sobre os filmes, sem se preocupar com o que quer que seja, apenas sempre prezando pela qualidade textual.

Tudo ia bem, até Os Vingadores.

Antecipadamente, devo dizer que a minha opinião sobre o filme não mudou. Porém, naquela fase, reconheço que assumi um papel que não deveria ter assumido, e cometi um erro.

Sentia-me na obrigação de explicitar pras pessoas que acredito que aquele tipo de cinema apresenta fragilidades, maneirismos muitas vezes desinteressantes, e que aquele era um universo com poucas possibilidades. Queria despertar nas pessoas a ideia de que há algo além daquilo, algo mais interessante, com mais substância, e que bater palmas cegamente para aquele trabalho, muitas vezes, significa não dar espaço para outras coisas.

Até hoje, acho que a minha intenção é válida, pois o papel da crítica é fazer com que o público comum entenda o porquê de ter gostado ou não de um filme, demonstrando quais foram as ferramentas utilizadas pela direção pra que o espectador sinta determinadas sensações, e assim busque mais conhecimento sobre o caso, e exija algo além do senso comum. Porém, creio que o tom foi um pouco ofensivo, e isso repercutiu mal.

Há outros casos semelhantes a esse no decorrer da existência do blog, mas acredito realmente que houve uma mudança de tom de uns tempos pra cá, pois percebi que não cabe a mim mudar as pessoas na marra. Não posso ser o único responsável por tentar mudar a mentalidade da massa, pois isso é injusto comigo, e devo reconhecer o direito das pessoas em não terem interesse em mudar de mentalidade.

E o mais importante de tudo: não sou crítico de cinema!

Confesso que me sinto envergonhado quando me chamam de crítico, pois não sou.

Acredito que essa é uma daquelas questões polêmicas existentes na nossa sociedade, mas acredito que ser crítico de algo é uma coisa muito mais ligada a uma autonominação. Vai muito mais da pessoa que faz, do que da pessoa que lê. Até porque, não há regulamentação pra isso. É preciso ser formado em cinema pra poder ser considerado crítico? E todos aqueles ótimos críticos de cinema que não são formados em cinema, por isso não podem ser considerados críticos?

E apesar de escrever resenhas sobre filmes, não posso ser chamado de crítico, pois não acho que tenho gabarito pra tal. Não se trata de humildade, ou falsa humildade, mas sim de saber o seu lugar.

Creio que a minha função aqui é a de estabelecer um debate. É o de iniciar uma discussão apresentando a minha opinião sobre determinado filme, e depois dialogar com o público, que deixará suas opiniões nos comentários, sem partir do pressuposto de que quem faz a crítica é superior a todos, inclusive superior ao próprio realizador do trabalho.

Acredito que esse é o papel da crítica. E se fosse apenas uma questão de nomenclatura, não me importaria em ser chamado de crítico, mas infelizmente não é assim, pois esse nome carrega consigo uma série de elementos, dos quais não estou interessado em ter associados ao meu nome.

Admiro demais o trabalho do verdadeiro crítico. Acho realmente que o bom crítico tem papel importante na evolução da arte, quando contribui com a criação de uma discussão que busca encontrar maneiras de fazer com que a arte cresça. E justamente por respeito a essas pessoas, é que eu não posso receber o mesmo nome, pois preciso conhecer muito mais de arte, e da vida, para que um dia possa ser chamado assim.

Já escrevi e dirigi um curta-metragem, e me sentiria muito, muito envergonhado se me chamassem de cineasta. Ser cineasta é algo muito além de um curta-metragem.

É realmente insatisfatório notar o que aconteceu, por exemplo, na crítica sobre Cine Holliúdy. Apesar de passar a maior parte do tempo ressaltando o potencial criativo do filme, e que ele, apesar de ser ingênuo, possui bastante personalidade, a maioria esmagadora dos comentários foram me denegrindo, dizendo que o crítico Diego Bauer não sabe nada de nada.

Não tenho o interesse em chegar nesse espaço e dizer que a minha opinião é a que vale porque sou mais culto e inteligente que os leitores. Pelo contrário, quero iniciar uma discussão que instigue o cinéfilo e o não cinéfilo para que o debate prossiga, e quem não entende dessa maneira, e acha que eu sou o dono da verdade, e por isso deve me agredir verbalmente, é que está sendo intolerante, dizendo que a sua opinião é a verdade absoluta.

Espero que a partir deste momento as coisas possam se tornar mais produtivas por aqui, e que esse espaço ganhe um status mais focado em estabelecer uma contribuição mútua, pois foi pra isso que ele foi criado, e tenho total convicção de que há pessoas de sobra pra levar essa conversa adiante.