Hollywood precisa dar um jeito de tratar suas pistoleiras com dignidade, urgentemente. Você pensaria que alguém teria dado conta disso depois do fracasso retumbante de “Rápida e Mortal” (1995), com Sharon Stone, mas esse novo “Em Busca de Justiça”, além de mostrar que ninguém catou a dica, serve como um lembrete dessa injustiça cinematográfica.

O novo projeto de Natalie Portman (que, como Stone antes dela, chega neste faroeste como protagonista e coprodutora) se configura como seu conto clássico de vingança no Velho Oeste americano, aproveitando o excelente momento em que o cinema daquele país clama por mais protagonismo feminino para nos apresentar uma personagem mulher forte e decidida em torno de quem a história se desenrola.

O problema está longe de ser Natalie ou o protagonismo feminino: o calcanhar de Aquiles do filme é simplesmente a história. Por mais agradável que seja para quem curta o gênero, tudo é simplesmente muito clichê para provocar uma real empatia no espectador: o retorno de um amante do passado, a mágoa por uma filha assassinada, um vilão todo poderoso e sem nuances, enfim, tudo o que você viu basicamente em quase todo faroeste já feito.

A comparação com “Rápida e Mortal” se aprofunda com o fato de, além de tratarem da mesma temática com elementos similares e além de serem, em essência, veículos para suas atrizes principais, é também o fato de que ambos foram escritos e dirigidos por homens, enquanto o material obviamente clama um olhar feminino para que possa ir além do padrão pré-estabelecido.

Já que toquei no assunto, não dá mais para evitar o comentário sobre a produção problemática do longa (confesso que estou até satisfeito de ter ficado sem fazer isso por quatro parágrafos). Em um drama maior do que qualquer coisa em sua trama, a diretora Lynne Ramsay (de “Precisamos Falar Sobre Kevin”), que originalmente comandaria o longa, abandonou o set no primeiro dia de produção.

Sua sombra acompanha o resultado na tela, propiciando a pergunta: “O que teria sido se…?”. Em suas mãos, talvez o roteiro pedestre encontrasse formas de ser reinventado, mas nunca saberemos. Do jeito que está, o cineasta Gavin O’Connor capricha nas cenas de tiroteio, que geram real suspense, e no controle do set na casa de Jane Ballard, personagem de Portman, particularmente no clímax do filme, que transforma o local em uma trincheira.

A atriz, no entanto, padece: ela é obviamente mais competente do que todos os seus companheiros de cena (com provável exceção de Ewan McGregor, seu colega de trilogia prequel Star Wars), mas não consegue trabalhar muito com um texto sem nuances. Além disso, enquanto uma das produtoras, ver seu trabalho perdido em meio a tanto drama de bastidores e a uma estreia decepcionante (foi o maior fracasso da distribuidora The Weinstein Company até agora), dói tanto no bolso quanto na carreira.

Por fim, “Em Busca de Justiça” pode ser, além do título do filme, um excelente resumo do que as pistoleiras passam no cinema americano. Com um roteiro raso e falta de variações em cima dos chavões clássicos do faroeste, o longa faz pouco caso do tempo do espectador e prova que nem todo mundo pode ser Clint Eastwood ou um dos irmãos Coen.