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A Revista Set adorava listas. Afinal de contas, era um belo chamariz para as vendas colocar um ranking na capa e deixar o público curioso para saber quem era o primeiro ou quem foi esquecido. Entre todas, a minha preferida foi feita em 1996 ao eleger os dez maiores astros de Hollywood. A inclusão de nomes como John Wayne, Marlon Brando, Clint Eastwood e Robert Redford acompanhada de uma filmografia com as três obras básicas de cada um deles era um grande aperitivo para um jovem moleque começando a gostar de cinema.

Acima de tudo, a capa da finada SET ficou registrada por trazer a aposta em um jovem bonitão e talentoso. A chamada era pretensiosa por natureza: “Os 10 Maiores Astros de Hollywood (e por que este cara pode ser o próximo da lista)”. Demorou muito tempo para que o fato pudesse chegar a ter alguma chance de se concretizar, porém, Matthew McConaughey dá sinais que pode se firmar como um dos verdadeiros grandes nomes do cinema americano.

Início Promissor

McConaughey surgiu para o estrelato no momento exato. Hollywood precisava de um astro capaz de servir para os papéis de jovens adultos, na faixa dos 25-30 anos. Naquela época, brilhavam atores com rostos muito adolescentes (Brad Pitt e Leonardo DiCaprio) e atores mais velhos para o perfil desejado (Harrison Ford, Tom Hanks). Tom Cruise era quem mais chegava perto desse ideal, porém, a fixação por filmes de ação e o fato da imagem estar associada a um eterno galã prejudicavam essa busca. Era preciso alguém maduro com a jovialidade presente e capaz de entregar boas atuações seja em dramas de época ou filmes de suspense.

Depois de papéis em filmes menores até metade dos anos 90, o ator teve destaque no faroeste “Lone Star” (1996). A corrida de grandes diretores por McConaughey foi imediata. Todos queriam trabalhar com aquele rapaz saído da cidade de Uvalde, no interior do Texas. Joel Schumacher deixou a série “Batman” de lado e convocou o projeto de astro para liderar um elenco com Sandra Bullock, Samuel L. Jackson, Kevin Spacey, Donald e Kiefer Sutherland em “Tempo de Matar”. Sem sentir pressão, ele faz uma atuação segura e ganha elogios da imprensa especializada, chegando a ser chamado de “o novo Paul Newman”.

Não demorou muito para receber convites dos diretores mais badalados do momentos. Recém-saído de “A Lista de Schindler” e “Jurassic Park”, Steven Spielberg chamou McConaughey para ser um dos protagonistas do drama de época “Amistad”. Assim como o filme, a atuação dele acaba sendo esquecível. Pouco tempo depois, ao lado de Jodie Foster, estrela “Contato”, comandado por Robert Zemeckis (“Forrest Gump”).

Mesmo filmes problemáticos como “Newton Boys” (de Richard Linklater) e “EdTV” (Ron Howard) eram boas experiências para o ator, pois, permitia trabalhar com sujeitos importantes de Hollywood e manter o nome na mídia.

Mudança de Rumo

Filmes apagados como o bom “Reino de Fogo” e o competente “U-571” deixaram um certo desapontamento com a expectativa criada em torno do ator no começo da carreira. Seria que tanto talento estaria sendo desperdiçado? Ou houve excesso na avaliação?

Para piorar, os adolescentes dos anos 90 cresceram. Leonardo DiCaprio, por exemplo, amadureceu consideravelmente como ator ao fazer “Gangues de Nova York” e “Prenda-Me Se For Capaz”. Já Brad Pitt vinha do sucesso do polêmico “Clube da Luta”, deixando para trás qualquer lembrança de “Lendas da Paixão” e “Entrevista com o Vampiro”.

Mesmo com uma fase longe das melhores da carreira, McConaughey estava curtindo bem a vida de estrela de Hollywood. Ao namorar algumas estrelas de Hollywood, como Ashley Judd e Sandra Bullock, o ator permanecia sempre na mídia como um galã e na lista dos mais bonitos do mundo.

Não à toa que ele recuperou o prestígio se interpretando ao fazer “Como Perder um Homem em 10 Dias”. A comédia romântica se tornou um sucesso mundial pela química perfeita entre McConaughey e Kate Hudson, abrindo as portas da acomodação na carreira do ator.

Desastres Sucessivos

“Na Ponta dos Pés”, “Sahara”, “Tudo Por Dinheiro”, “Somos Marshall”, “Armações do Amor”, “Um Amor de Tesouro”, “Minhas Adoráveis Ex-Namoradas”.

Se você lembrar de algum desses filmes, parabéns! Você pode se candidatar a presidência do fã-clube de Matthew McConaughey!

Tantos longas esquecíveis e com diretores medíocres colocaram o ator em um patamar de clichê ambulante. McConaughey se tornou uma espécie de Ashton Kutcher mais velho sempre disposto a mais uma comédia romântica ou uma opção mais barata de Tom Cruise para fitas de ação. Em um período em que a SET já se encontrava no meio de um grave crise, a capa de 1996 poderia ser vista como uma das maiores bobagens feitas pela revista.

A vida social do ator, entretanto, continuava agitada seja pelo breve relacionamento com Salma Hayek ou na compra de um trailer onde McConaughey morava e rodava os EUA. A decisão de aproveitar o auge da forma e vivê-la da forma mais intensa possível pode ter tirado o foco da carreira?

Sim, muito provável. Porém, cada um toma a decisão que melhor lhe convém e, se o astro decidiu assim, melhor para ele.

Ventos Novos no Caminho

Parecia ser o mais novo filme policial repleto de clichês. “O Poder e a Lei”, entretanto, mesmo sendo pouco original traz um Matthew McConaughey diferente do habitual: um tom mais sério e sóbrio, a partir de um personagem mais complexo. Se o resultado não chega a ser brilhante, a iniciativa já era algo para ser louvado por tirá-lo da zona de conforto.

“O Poder e a Lei” chegou aos cinemas depois de uma pausa de um ano e meio da carreira de McConaughey. Em recente entrevista à Veja, ele falou sobre esse momento difícil. “Quando eu comecei a negar as ofertas, foram seis meses sem novas ofertas e um ano e meio nas sombras. Eu me tornei anônimo, pois as pessoas não me viam em comedias românticas e perguntavam por onde eu andava”, disse.

O Brasil pode ter contribuído para os ventos novos no caminho de Matthew. Na verdade, a modelo Camila Alves começou a namorar em 2008, justo na época em que o ator deixou as comédias românticas de lado. Medir quanto um relacionamento mais estável na vida de uma pessoa contribui na carreira artística é relativo, porém, no caso do astro, pode ter sido o ponto decisivo.

Fase de Ouro

A maior consequência desse novo rumo na carreira do ator está na lista dos diretores com quem ele trabalhou nos últimos três anos. Responsável por clássicos como “O Exorcista” e “Operação França”, William Friedkin apostou em McConaughey para ser o protagonista de “Killer Joe”. O resultado foi surpreendente pela entrega dele em um papel irônico e carregado de violência, bem longe do personagem de “Como Perder um Homem em Dez Dias”.

A força da atuação em “Killer Joe” trouxe de volta a esperança em Hollywood no ator. Richard Linklater o chamou para a comédia dramática “Bernie”, enquanto Lee Daniels colocou McConaughey em um papel desafiador no suspense “Obsessão”. A consolidação dessa fase veio com “Magic Mike” em que o astro rouba a cena vivendo um sujeito excêntrico e imprevisível. A disposição em encarar um projeto ousado desses e se sair bem o colocou no patamar dos grandes de Hollywood novamente.

Após o belo trabalho em “Amor Bandido” e uma ponta brilhante em “O Lobo de Wall Street”, McConaughey entrou de cabeça no projeto de “Clube de Compras Dallas”. Perdendo quase 20kg para realizar o filme sobre um texano machista que descobre ter Aids bem no início da epidemia. O ator poderia se limitar ao impacto visual do emagrecimento para compor o personagem, porém, ele vai além ao trazer a complexidade de um sujeito orgulho e preconceituoso se vendo à beira da morte e desesperado para encontrar uma solução.

Oscar e Futuro

A estatueta de Melhor Ator está bem perto de Matthew McConaughey. Em uma disputa dura com grandes atuações (em especial, Leonardo DiCaprio por “O Lobo de Wall Street” e Chiwetel Ejiofor em “12 Anos de Escravidão”), o ator é o favorito para ganhar o Oscar. O prêmio seria uma vitória para a coragem dele por se reinventar e perceber o potencial que tinha em mãos.

Para tranquilizar fãs e cinéfilos do mundo inteiro, McConaughey mostra ter a intenção de seguir na trilha dos bons filmes. Ele está confirmado no novo projeto de Gus Van Sant intitulado “Sea of Trees” e será o protagonista do próximo de Christopher Nolan, a ficção científica “Interstellar”.

A aposta da Revista Set foi alta na capa de 1996 ao colocar um novato como possível futuro astro de Hollywood. Matthew McConaughey parece, enfim, mostrar querer honrar esse desafio.

Bom para o cinema!