O Lobisomem é uma metáfora para o lado animal do ser humano, sublimado por anos de evolução física e social, mas sempre presente. E é bom dar vida a esse lado animal – tanto que em muitos filmes de lobisomem, o sujeito mordido pela fera se torna mais cheio de energia, mais corajoso, até mais atraente para o sexo oposto… Ora, existem lobisomens que até se dão bem, aprendendo a jogar basquete, como o Michael J. Fox de O Garoto do Futuro (1985), ou conquistando a Michelle Pfeiffer, como o Jack Nicholson de Lobo (1994).

Ou seja, o Lobisomem está dentro de todos nós. Não nos transformamos em bestas peludas, mas o bicho que morde e ataca só precisa de uma oportunidade para aparecer. Porém sua aparição, se controlada, pode render frutos positivos – essas eram poderosas lições de vida que O Garoto do Futuro e Lobo traziam. Pena que é uma lição nem sempre aprendida pelos coitados que se transformavam à lua cheia. Para compreender o mito e se divertir um pouco, sugiro assistir a esses filmes…

O Médico e o Monstro (1931)

Não é um filme de lobisomem no sentido real do termo, mas como Stephen King diz no seu livro “Dança Macabra”, “alguns lobisomens são peludos por dentro”. Neste clássico, Fredric March vive o Dr. Jekyll, que inventa uma poção para separar o “lado bom” do “lado mal” do ser humano, e se transforma no seu alter-ego Mr. Hyde, cabeludo e com um sorrido demente. Ao ser liberado, o Mr. Hyde extravasa todas as loucuras e perversidades que o reprimido Jekyll não consegue, e essa é a essência do mito do lobisomem: dar vazão ao animal interior. Pelo seu desempenho March foi premiado com o Oscar, e o filme foi o primeiro do gênero terror a ganhar um importante prêmio da Academia.

O Lobisomem (1941)

Não dá para fugir do clássico: tudo que hoje associamos ao mito do homem-lobo, como a lua cheia, o pentagrama e a prata, vêm de O Lobisomem do estúdio Universal. Lon Chaney Jr. entrou para a história como o pobre coitado Larry Talbot, amaldiçoado a se tornar um monstro peludo e com camisa e calças pretas nas noites de lua cheia. A ambientação sombria ainda funciona, e Chaney continuou como Lobisomem nas diversas sequências produzidas pelo estúdio.

Grito de Horror (1981)

Dee Wallace faz o papel de uma repórter que passa por um momento traumatizante ao encontrar um assassino. Para se recuperar, vai passar umas férias num retiro. Porém, os moradores do retiro podem ter uma conexão com o assassino, e escondem um segredo… que tem a ver com a lua cheia. O filme do cineasta/cinéfilo/fã de terror Joe Dante tem alguns problemas aqui e ali, mas a atmosfera é poderosa (muita névoa) e, no melhor momento do filme, o espectador vê uma cena absolutamente sensacional e assustadora de transformação. Cortesia do mestre da maquiagem Rob Bottin, na época apenas um moleque. Grito de Horror foi eclipsado na época pelo filme seguinte desta lista, mas merece ser descoberto (ou revisto).

Um Lobisomem Americano em Londres (1981)

Ainda o melhor filme licantropo de todos os tempos, o trabalho do diretor John Landis transita do humor para o terror com uma facilidade talvez sem paralelo no cinema. Mas não se engane: é mais terror que comédia, com o próprio Landis definindo seu filme como uma “tragédia”. Dois jovens americanos estão passeando pelo interior da Inglaterra, passam por uma pousada sinistra e são atacados no meio da noite. Um deles morre. Um destino diferente aguarda o outro: se transformar na próxima lua cheia, naquela que ainda é a melhor cena do tipo na história do cinema.

Dog Soldiers: Cães de Caça (2002)

Um grupo de soldados britânicos num exercício militar numa floresta escocesa se depara com terríveis inimigos: lobisomens! O filme do diretor Neil Marshall – o mesmo que fez o incrível Abismo do Medo alguns anos depois – é divertido, agitado, tem ótimos atores como Kevin McKidd de Trainspotting e da série Roma, e Liam Cunnigham, de Game of Thrones, e tem uns lobisomens diferentes, altos, ágeis e leves, com bons efeitos. Dog Soldiers quer divertir o público e consegue, e é um dos poucos bons filmes de lobisomem dos últimos anos.

MENÇÕES HONROSAS:

A Maldição do Lobisomem (1961): O pessoal do estúdio inglês Hammer fez as suas versões dos monstros clássicos como Frankenstein e Drácula, e claro, o Lobisomem não podia ficar de fora. Aqui, é Oliver Reed quem interpreta o pobre Leon, condenado a se transformar em fera, num filme que toma algumas liberdades com o conceito, resultando num trabalho um pouco diferente no gênero.

A Companhia dos Lobos (1984): Neil Jordan faz um conto de fadas belo e assustador com lobisomens.

A Hora do Lobisomem (1985): Também conhecido como “Bala de Prata”. Deste todo mundo lembra pelas reprises no SBT, certo? Não é um grande filme, mas é simpático.

O Lobisomem (2010): O remake recente do clássico de 1941 não foi bem nas bilheterias e sim, é um filme com problemas. Mas também com alguns ótimos momentos.