Vamos ser sinceros: encontrar uma boa sequência para um filme de terror não chega a ser uma Missão Impossível como as do Ethan Hunt, mas é uma tarefa muito, muito difícil. O que, claro, não impede os produtores picaretas de fazer sequências até as qualidades do filme original desparecerem e restarem apenas o riso e o deboche, tanto por parte dos realizadores quanto do publico também.
Na história do gênero há sequências dignas dentro das maiores e mais conhecidas franquias e outros casos isolados também. Mas as melhores sequências de terror, para mim, são aquelas que de alguma maneira reinventaram os seus predecessores, e não se limitaram a apenas reciclar o que deu certo na primeira vez.
É o caso destes cinco filmes que relaciono aqui. Verdade, só considero um deles como superior ao original. Mesmo assim, são trabalhos que vale a pena conhecer justamente pela ousadia e pela disposição cada vez menos frequente de surpreender o publico, ainda mais dentro do gênero terror.
Drácula: O Príncipe das Trevas (1966)
Por muito tempo Christopher Lee não quis fazer uma continuação para O Vampiro da Noite (1958), sua estreia no papel de Drácula que o tornou famoso em todo o mundo. Mas finalmente aceitou – ele depois perderia a vergonha e faria outros. Neste segundo filme ele não tem nenhum diálogo. Até hoje persiste o boato de que Lee insistiu em ficar calado por não gostar das falas escritas no roteiro. O fato é que, calado, o Drácula dele é um poeta… do terror. Ele é apenas uma imagem assustadora e forte, como um vilão de filme slasher. Aliás, é curioso ver hoje como este filme tem uma estrutura praticamente idêntica ao de um slasher dos anos 1980, com os heróis indo aonde não deviam e o vilão sendo “revivido” pelo macabro servo do Conde, o inesquecível Klove, e caçando os personagens um a um. Este segundo Drácula é mais sangrento e tem menos classe que o primeiro. Mas, por incrível que pareça, aqui essas características se tornam qualidades graças à força da presença de Lee.
Halloween 3: O Dia das Bruxas (1983)
Para todos os efeitos, Michael Myers morre no final de Halloween 2: O Pesadelo Continua (1981). Morto. Finito. John Carpenter, diretor do primeiro Halloween, teve a ideia de fazer a cada ano, um novo filme da franquia com uma história diferente, ambientada no Dia das Bruxas. Assim nasceu este Halloween 3, com sua trama maluca – máscaras amaldiçoadas que vão causar a morte de milhões de crianças, criadas por um industrial louco – e seus vilões assustadores, homens de terno que podem não ser humanos. E o herói vivido pelo ator cult Tom Atkins parece estar meio bêbado em cena… Diversão pura, com um toque ao mesmo tempo trash e assustador. Pena que o publico não comprou a ideia e se perguntou “Cadê o Michael Myers?”, e isso levou ao fracasso do filme. Anos depois Myers voltou para matar de novo e voltamos à rotina. Mas por um momento, saímos dela, ao som da musiquinha do comercial das máscaras. Tente esquecer essa melodia depois de ver Halloween 3.
Esta, em minha opinião, é a melhor continuação da história do cinema de terror. Continuação sim, embora muita gente pense que se trata de um remake do seu predecessor, A Morte do Demônio (1981). O fato é que, por causa daqueles sempre complicadas negociações de direitos em vários territórios, o diretor Sam Raimi não pôde usar imagens do original na sequência. Por isso, ele teve de recontar de forma resumida, nos primeiros 10 minutos de Uma Noite Alucinante, o enredo do primeiro filme e depois, a história parte em alta velocidade para uma nova noite de terror do herói Ash (Bruce Campbell), combatendo os demônios do Livro dos Mortos. O filme é criativo e alucinado, mais intenso e melhor produzido que o original, além de engraçadíssimo, mas também muito assustador, uma experiência única. É o único filme da história do cinema com uma mão possuída, o ponto de vista de um olho voando no ar e um herói com uma motosserra no lugar da mão.
O escritor William Peter Blatty escreveu, no começo dos anos 1980, uma continuação do seu best-seller O Exorcista, que deu origem ao polêmico e assustador filme de 1973 dirigido por William Friedkin. Intitulado Legião, trazia de volta alguns personagens do livro original envolvidos numa trama sobre um assassino em série. Blatty dirigiu a adaptação – até hoje seu único esforço como diretor de cinema. Pena que o estúdio Morgan Creek ficou com medo da visão de Blatty e exigiu que ele introduzisse uma sequencia de exorcismo e rebatizasse o filme de O Exorcista 3. Porém, depois do tenebroso (no mau sentido) Exorcista 2: O Herege (1977), ninguém mais quis ver uma “parte 3” e o filme fracassou. Visto hoje, é um filme de terror com classe e grandes atuações, como as de George C. Scott e Brad Dourif. E, acima de tudo, com um clima estranho e perturbador. E claro, há aquela cena – se você viu o filme, sabe de qual estou falando, uma com a câmera parada por vários minutos, e então há um movimento e você pula da cadeira… Não se compara ao filme de Friedkin, mas é digno. Muito digno.
O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger (1994)
O recém-falecido Wes Craven criou Freddy com A Hora do Pesadelo (1984), mas exceto por ter fornecido a história para o terceiro filme da franquia, ele ficou longe das continuações. Seu monstro assustador original foi transformado num bicho-papão divertido e sempre pronto a lançar comentários engraçados. Até que ele morreu no sexto filme, e Craven teve a ideia de retornar ao personagem com uma história sobre o impacto das sequências e da figura de Freddy no imaginário popular. O cineasta o reimaginou como uma entidade real, um tipo de mal contido pelo cinema e pelo ato de contar histórias, e quando a história acabou o mal se liberta. E de quebra, na história que mistura realidade e fantasia a atriz Heather Langenkamp tem que retornar ao papel da heroína Nancy para deter o novo Freddy. Assustador e criativo, O Novo Pesadelo é a sequência para acabar com todas as sequências, e sua brincadeira metalinguística ainda serviu como prévia do que Craven faria depois com Pânico (1996).
MENÇÕES HONROSAS:
Bem, claro, Aliens: O Resgate (1986) é obrigatório, embora ele misture na sua receita outros gêneros além do terror. Recomendo também A Noiva de Frankenstein (1935), afinal não dá para fugir do clássico. Das franquias famosas, Pânico 2 (1997), A Hora do Pesadelo 3: Guerreiros dos Sonhos (1987), Sexta-Feira 13: Parte 2 (1981) e Sexta-Feira 13 Parte 6: Jason Vive (1986) são todos legais. Muita gente aprecia O Massacre da Serra Elétrica 2 (1986); eu ainda não consegui, mas tire suas próprias conclusões. E mais recentemente, Rejeitados pelo Diabo (2005) podia ter entrado aqui, mas será abordado com mais detalhe numa lista futura.